Défice de vitamina D: “Causa ou consequência de doença cardiovascular?”

Não é recente a associação entre o défice de vitamina D e o raquitismo, a osteomalacia e a osteoporose, induzidos por uma desmineralização óssea. Numa sessão que teve lugar nas Jornadas de HTA e Risco Cardiovascular de Matosinhos, que tiveram lugar no Porto, no passado dia 12 deste mês, a Rafaela Veríssimo explicou que há também uma correlação entre as carências desta vitamina/hormona e as doenças cardiovasculares, metabólicas, autoimunes, infeciosas, alguns tipos de doença oncológica, e até demência.

Identificada em 1922, a vitamina D é produzida através de fonte alimentar e ativada no organismo pela exposição solar da pele. A nível global tem sido identificada uma elevada prevalência de défice de vitamina D e esta realidade não se verifica apenas nos países nórdicos, já que, também os países abaixo da linha do equador apresentam o mesmo problema. “A nível global, 41,6% da população com mais de 20 anos tem carências de vitamina D”, afirmou a médica internista Medicina Interna do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. “Essa carência é definida abaixo dos 20 ng/mL, embora este valor não seja consensual”, acrescentou.

“Desde há muito que é conhecida a importância da vitamina D para a saúde dos ossos, contudo, desde há mais de 10 anos que tem vindo a ser estudado o impacto do défice de vitamina D nas doenças cardiovasculares, nas doenças infeciosas, nas neoplasias, nas doenças autoimunes como a esclerose múltipla e, mais recentemente, na demência”

Segundo a especialista, a vitamina D deve ser doseada a partir da concentração de calcidiol sérica em ng/mL, “porque esta é a forma que permanece mais tempo no organismo e que se correlaciona com a avaliação da concentração plasmática”, justificou.

Desde há muito que é conhecida a importância da vitamina D para a saúde dos ossos, contudo, desde há mais de 10 anos que tem vindo a ser estudado o impacto do défice de vitamina D nas doenças cardiovasculares, nas doenças infeciosas, nas neoplasias, nas doenças autoimunes como a esclerose múltipla e, mais recentemente, na demência.

 

Populações de risco

Vários fatores podem influenciar a absorção da vitamina D “e sabemos hoje que a questão não esta exclusivamente centrada na exposição solar”. Em Portugal foi determinado um consenso segundo o qual, a exposição solar, todos os dias durante 15 minutos, entre as 10 e as 15 horas, entre os meses de abril e outubro, permite uma concentração adequada de vitamina D. “O problema é que há outros fatores que condicionam a concentração de vitamina D”, constatou a Dr.ª Rafaela Veríssimo.

“Os idosos institucionalizados, os indivíduos que não praticam desporto, as crianças que cada vez saem menos para brincar na rua e a própria utilização do protetor solar inibem, muitas vezes, esta absorção”. Mesmo ao nível da nutrição, existem fatores que comprometem o aporte adequado de vitamina D. Desde logo “uma alimentação inadequada e pouco variada, a presença de doença renal ou hepática, a obesidade, problemas de malabsorção intestinal e a administração crónica de determinados medicamentos”.

Idosos, doentes com obesidade, indivíduos institucionalizados ou com escassa exposição solar, indivíduos com fraqueza muscular, fadiga inexplicada, depressão inexplicada, infeções recorrentes e com alterações laboratoriais são os que mais frequentemente apresentam uma deficiência de vitamina D.

 

Vitamina D e risco cardiovascular

Nos últimos anos têm sido especuladas muitas questões sobre o potencial impacto do défice de vitamina D no aumento do risco cardiovascular, nomeadamente de diabetes tipo 1 e 2, de dislipidemia, de hipertensão arterial, de obesidade e de síndrome metabólica.

“As vias que nos explicam a atividade da vitamina D nas doenças cardiovasculares são sobretudo a sua ação sobre o sistema renina-angiotensina-aldosterona, os efeitos na insulinorresistência, os efeitos na inflamação e até os efeitos sobre a aterosclerose”, adiantou a Dr.ª Rafaela Veríssimo.

Em relação à insuficiência de vitamina D, enquanto marcador de risco cardiovascular, a especialista referiu que ainda não existem dados consistentes para a doença coronária, mas “sabe-se, no entanto, que a prevalência de doença coronária e a extensão das lesões e da gravidade das estenoses ateroscleróticas das artérias coronárias são piores nos indivíduos que têm níveis baixos de vitamina D”. Em relação à insuficiência cardíaca “há já vários estudos que demonstram haver uma melhoria da fração de ejeção do ventrículo esquerdo e uma melhoria da classe funcional com a suplementação de vitamina D”, concluiu a Dr.ª Rafaela admitindo que, neste campo, faltam estudos que consolidem estes dados.

Resumindo:

– Temos de estar atentos à deficiência de vitamina D

– Muitos fatores de risco ambientais e de estilo de vida influenciam a capacidade de produzir quantidades suficientes de vitamina D a partir do sol

– A vitamina D parece ser importante não só para a homeostasia do metabolismo fosfocálcico, mas também para o controlo do risco cardiovascular

– Os estudos aleatorizados e controlados são ainda escassos, com pouco tempo de seguimento e com doses suplementares de vitamina D baixas

– Considerando a alta prevalência da deficiência de vitamina D, devido ao envelhecimento da população e à fraca exposição solar, a suplementação com vitamina D pode ser importante para reduzir o risco cardiovascular

– Os dados observacionais que suportam a ligação da vitamina D às doenças cardiovasculares, podendo a deficiência de vitamina D ser considerada um marcador de risco cardiovascular

– Mantem-se por esclarecer se a deficiência de vitamina D é uma causa ou consequência das doenças cardiovasculares

– Os estudos aleatorizados controlados não evidenciaram ainda provas formais do beneficio cardiovascular, tendo sido já observada uma redução modesta na mortalidade em geral na suplementação de vitamina D

 

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