Um terço das infeções hospitalares são evitáveis

Apesar de se ter registado uma redução da incidência de algumas infeções, bem como da resistência aos antimicrobianos, a taxa de infeção hospitalar em Portugal continua acima da média europeia e cerca de um terço destas infeções podem ser evitadas através do cumprimento de boas práticas. Esta é uma das conclusões do relatório “Portugal – Prevenção e Controlo da Infeção e de Resistência aos Antimicrobianos em Números 2015”, cujos resultados foram ontem apresentados.

“A infeção associada aos cuidados de saúde aumenta a mortalidade, a morbilidade, prolonga os internamentos e aumenta os custos em Saúde”, afirmou Paulo André Fernandes, diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA). “Calculamos que o número de óbitos por infeção associados a doentes com dispositivos invasivos é mais elevado do que a mortalidade por acidentes de viação, sendo que mais de 4500 pessoas terão morrido por infeções associadas aos cuidados de saúde. Além disso, as infeções hospitalares representam uma despesa 280 a 300 milhões por ano no nosso país”, acrescentou.

Segundo os dados de 2014 hoje apresentados, entre 2011 e 2014 registou-se uma diminuição das infeções por pneumonia associada à intubação traqueal, da bacteriemia associada a cateter venoso central e da infeção associada a cirurgia do cólon e reto. Em outros casos, verificou-se um ligeiro agravamento, como aconteceu na infeção associada a cirurgia das vias biliares.

“Calculamos que o número de óbitos por infeção associados a doentes com dispositivos invasivos é mais elevado do que a mortalidade por acidentes de viação, sendo que mais de 4500 pessoas terão morrido por infeções associadas aos cuidados de saúde”, Paulo André Fernandes, diretor do PPCIRA

Apesar desta diminuição, as infeções hospitalares e a resistência aos antimicrobianos representam um “perigo para a saúde mundial”, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Projeções internacionais estimam que em 2050 morrerão cerca de 390 mil pessoas na Europa e 10 milhões em todo o mundo em consequência direta das resistências aos antibióticos. Nas palavras de Paulo André Fernandes, “este cenário é inaceitável” e, por isso, “é urgente fazer mais qualquer coisa do que se fez até agora”.

Com o objetivo de progredir na redução das taxas de infeção, causadas pela emergência de bactéricas multiressistentes associadas ao uso excessivo e frequentemente inadequado de antibióticos de largo espectro, foram publicadas normas incentivadoras de práticas de prevenção e controlo das infeções mais frequentes, bem como programas de apoio à prescrição de antibióticos (PAPA) nos hospitais e centros de saúde.

De facto, o prolongamento inapropriado da administração de antibiótico no pós-operatório em doente sem infeção é um dos principais desvios das boas práticas, “o que não melhora o prognóstico e ainda aumenta o risco de infeção por agentes multirresistentes no doente operado”, refere o relatório.

Projeções internacionais estimam que em 2050 morrerão cerca de 390 mil pessoas na Europa e 10 milhões em todo o mundo em consequência direta das resistências aos antibióticos.

Até 2013, Portugal era o país europeu que mais consumia antibióticos de largo espectro. Em 2014, reduziu 5%, tanto no consumo ao nível do ambulatório como ao nível hospitalar. “Isto é importante porque diminuir o consumo dos microbianos é reduzir a geração de resistências”, considerou Paulo André Fernandes. Apesar das melhorias, estes valores ainda são elevados e “há vários aspetos a melhorar e corrigir”.

Pela positiva, conforme sublinhou o diretor do PPCIRA, destaca-se a adesão das unidades de saúde à campanha nacional de precauções básicas de controlo da infeção, como é o caso da Campanha Nacional de Higiene das Mãos, lançada em maio de 2014 sob a égide da OMS, embora não ainda seguida a 100%. “Quando a campanha da higienização das mãos foi estendida a outras recomendações, tivemos uma adesão crescente dos profissionais e, atualmente, podemos dizer que mais de 400 unidades de saúde seguem as precauções básicas de controlo da infeção”, referiu. Paulo André Fernandes explicou que, para garantir o cumprimento destas recomendações, são promovidas auditorias aos índices de qualidade e de estruturas de cada uma das unidades, identificando eventuais problemas a solucionar.

“Atualmente, podemos dizer que mais de 400 unidades de saúde seguem as precauções básicas de controlo da infeção”, Paulo André Fernandes

A concluir, o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, afirmou que “este programa prioritário foi desenvolvido com base em três áreas de intervenção prioritária: a campanha de precauções básicas no controlo da infeção, o programa de prescrição antibiótica e a vigilância epidemiológica das infeções associadas a cuidados de saúde. Insistindo nestes três vetores, foram obtidos resultados importantes e assistiu-se à melhoria dos indicadores”.

Com os olhos postos no futuro, foi ontem publicado em Diário da República um despacho que pretende “criar uma task force entre a Direção-Geral da Saúde, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, e a Administração Central do Sistema de Saúde, com o intuito de: 1) colocar na agenda política a questão das infeções; 2) criar uma liderança clara para todo este processo; 3) garantir o acesso à informação credível e partilha de dados; 4) avaliar as medidas e monitorizar os resultados; 5) e premiar as boas práticas através de um incentivo financeiro”, anunciou o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde.

“Foi ontem publicado em Diário da República um despacho que pretende “criar uma task force entre a Direção-Geral da Saúde, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, e a Administração Central do Sistema de Saúde”, Fernando Araújo, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde

Patrícia Rebelo

Assista ao vídeo com as declarações à imprensa do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde e do diretor do PPCIRA.

 

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