Aspergillus: Um agente, muitas faces

No passado dia 3 de junho, a Comissão de Trabalho de Infeciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia organizou uma reunião dedicada à infeção fúngica por aspergillus. De acordo com as Dr.as Ana Mineiro e Inês Faria, coordenadoras desta Comissão de Trabalho, embora não tenha um impacto epidemiológico significativo, a aspergilose pode ser uma complicação grave em grupos específicos de doentes, como é o caso dos que sofrem de patologia hematológica e que foram sujeitos a transplante de medula.

 

Raio-X – Qual o impacto da aspergilose em termos epidemiológicos?

Dr.as Ana Mineiro e Inês Faria (AM e IF) – A aspergilose não é uma doença frequente, mas tem um impacto significativo em algumas populações específicas. Nomeadamente a aspergilose invasiva, que é frequente em doentes transplantados, em doentes hematológicos, e em doentes imunossuprimidos por outras razões. Depois temos as formas mais crónicas também associadas a imunodepressão mais ligeira, como é o caso de doentes alcoólicos, doentes com VIH, doentes que fazem corticoterapia. Por fim, existe ainda a aspergilose broncopulmonar alérgica, que é um diagnóstico muito diferencial em doentes com asma, sobretudo com asma grave, e com alterações radiológicas mais específicas. No fundo, é um espetro variado do mesmo agente, mas muito diferente em termos de manifestações.

RX  – O matador, o torturador e o infiltrado. Porquê estes três adjetivos para descrever o aspergillus?

AM e IF – Matador porque tem um elevado impacto em termos de mortalidade, sobretudo a aspergilose invasiva, nos subgrupos de doentes referidos, ou seja, os que fizeram transplante de medula e doentes hematológicos, com leucemias, por exemplo. Apesar de assistirmos a uma melhoria das capacidades de prevenção e tratamento da aspergilose nestes doentes, o impacto desta infeção em termos de mortalidade ainda é muito significativo neste grupo de pessoas.
Torturador porque implica um diagnóstico difícil, um tratamento pesado, prolongado, com algumas complicações, e que exige uma monitorização apertada para evitar recidivas. Por outro lado, há sempre um compromisso da qualidade de vida. Estes doentes têm sintomas como cansaço, dispneia, hemoptises (expulsão de sangue através da tosse).
O infiltrado porque existe no ambiente e porque, sobretudo na aspergilose broncopulmonar alérgica, passa frequentemente despercebido, confundindo-se com os próprios sintomas de asma grave.

RX – Relativamente à doença infeciosa respiratória, qual a patologia que inspira maior preocupação?

AM e IF – No topo estão sempre a pneumonia e a gripe. São estas as batalhas que nos obrigam a um alerta permanente e a uma sensibilização da população até mesmo no que respeita à vacinação.
Por outro lado, embora felizmente cada vez menos frequente, é a tuberculose. Historicamente, Portugal tem uma relação muito forte com a tuberculose. Há ainda um conjunto de mitos que vêm do passado em que a tuberculose é muito associada à pobreza e à malnutrição. No entanto, estamos a falar de uma doença infeciosa que qualquer pessoa, independentemente das suas condições de vida, pode contrair, desde que esteja em contacto com o bacilo. Há 100 anos as pessoas viviam em casas sobrelotadas, com estados imunitários fragilizados devido à escassez de alimentos e à subnutrição e, nesse contexto, estava facilitada a propagação da doença.

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