ERS 2018 – O que dizem os seus pulmões?

É caso para dizer que o trabalho mata. Ou pelo menos, mói. O risco de doenças respiratórias pode estar relacionado com determinadas atividades profissionais que obrigam a uma exposição regular a fumos, gases, químicos ou poeiras. No maior congresso mundial dedicado às doenças respiratórias, o da European Respiratory Society, a decorrer desde dia 15 e até ao dia 19 de setembro, em Paris, este tema foi alvo de debate em múltiplas sessões. Aqui fica um pequeno resumo das conclusões provenientes da investigação médico-científica mais atual:

O ar é a matéria-prima que alimenta os nossos pulmões e que nos mantém vivos, afinal, um ser humano sobrevive a algumas semanas sem comer, a alguns dias sem beber, mas a poucos minutos sem respirar. Quanto melhor for a qualidade do ar que respiramos, menor a probabilidade de desenvolvimento de doenças dos pulmões. Partindo deste princípio, vários estudos têm tido como alvo de investigação o impacto da qualidade do ar na nossa saúde, assim como as atividades profissionais que mais “danificam” os pulmões. Sabia que, por exemplo, os motoristas de transportes públicos, os agricultores, os funcionários de restaurantes Kebab e os funcionários de limpeza têm uma maior probabilidade de desenvolver doenças respiratórias ocupacionais, tais como asma e DPOC?

Em relação aos motoristas de autocarro, um estudo desenvolvido em São, Paulo, no Brasil, que incluiu 30 indivíduos, 15 dos quais eram motoristas de transportes públicos expostos diariamente à poluição proveniente do trânsito e os restantes 15 não estavam frequentemente expostos a este tipo de atmosfera, demonstrou que os primeiros apresentavam uma redução da transportabilidade mucociliar basal, um indicador sugere uma maior suscetibilidade para o desenvolvimento de doenças respiratórias, nomeadamente DPOC.

Em relação aos agricultores, um estudo que comparou um conjunto de parâmetros respiratórios (questionário sobre sintomas respiratórios, espirometria, testes cutâneos com alergénios, alterações da histamina, medição do fluxo expiratório, entre outros) em trabalhadores agrícolas e em trabalhadores de escritório demonstrou que a prevalência de sintomas respiratórios é significativamente mais elevada nos indivíduos que trabalham no campo.

Ao longo de 12 meses, os agricultores reportaram mais episódios de tosse, catarro e pieira. Além disso, os parâmetros da espirometria eram mais reduzidos nestes indivíduos do que nos trabalhadores de escritório. A prevalência de hiperreatividade brônquica foi de 19,3% nos agricultores e de 12,5% nos funcionários de escritório. Nos casos de hiperreatividade brônquica moderada ou grave nos trabalhadores do campo, verificou-se uma associação direta com uma história familiar de asma. Cerca de 7% dos agricultores eram asmáticos, 1,2% deles tinha asma ocupacional, ou seja, desencadeada pela atividade profissional. Em 6,1% destes indivíduos, as agudizações estavam também relacionadas com o trabalho. Os investigadores concluíram que o desenvolvimento ou agravamento da asma nos agricultores está relacionada com a exposição regular a poeiras variadas, a gazes, a fumos e vapores e, eventualmente, a químicos (pesticidas), embora numa base mais esporádica.

No que respeita aos restaurantes Kebab, foram avaliados os efeitos que os fumos gerados no processo de confeção deste prato típico da Turquia têm na saúde respiratória dos funcionários destes estabelecimentos. Os índices de PM10 e de PM2,5 foram medidos em 3 restaurantes de Kebab na cidade turca de Urfa. Além disso, foram feitos questionários sobre as queixas e a história clínica respiratória destes indivíduos (57 homens) que foram ainda submetidos a testes de função pulmonar.

Verificou-se que, os níveis de PM10 e PM2,5 são elevados no interior destes restaurantes e que as queixas respiratórias dos trabalhadores (com média de idade de 33 anos) está relacionada com a má qualidade do ar e com os fumos e gazes a que estão expostos. Neste sentido, os investigadores sugerem uma melhor ventilação destes espaços e a proteção dos funcionários que trabalham neste ramo.

No grupo de trabalhadores que se dedica à limpeza, os efeitos nocivos desta atividade na saúde respiratória estão relacionados com a exposição aos produtos utilizados, tais como alguns desinfetantes. Uma revisão sistémica com base nos registos da MEDLINE e da EMBASE, incluindo todos os estudos desenvolvidos sobre este tema, revelou uma associação significativa entre a utilização regular destes produtos e o desenvolvimento de DPOC e asma. Verificou-se também um risco aumentado de rinite e de hiperreatividade brônquica, embora menos marcado.

Se trabalha em alguma destas áreas e sofre de doença respiratória, informe-se com o seu médico sobre a melhor forma de se proteger e de manter a sua doença controlada.

Por Cátia Jorge, em Paris

 

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