“Introduzir inovação, mas de forma responsável” é uma das estratégias da Mundipharma

Está há cerca de seis décadas nos mercados internacionais, mas só agora chega a Portugal com um “produto inovador” para o tratamento da asma que consiste na associação de um corticoide “muito potente” com um “broncodilatador de rápida ação”, combinados num dispositivo “que qualquer um pode utilizar”. Segundo Salvador Lopez, uma das estratégias da Mundipharma passa pela introdução de inovação no mercado, mas “de forma responsável”, tendo em conta os riscos atuais da sustentabilidade do SNS. Em entrevista ao Raio-X, o diretor-geral da companhia falou ainda da missão do Instituto Mundipharma e da importância de responsabilizar a população pela sua própria saúde.

Raio-X – O que é a Mundipharma e em que contexto surge, neste momento, em Portugal?
Salvador Lopez – A Mundipharma é uma multinacional farmacêutica americana, que ocupa a trigésima posição no mercado mundial na área farmacêutica. É uma companhia que tem uma longa história, desde a década de 50, e é líder na área da dor. É uma companhia familiar, constituída por dois irmãos psiquiatras que emigram da Europa de Leste para os Estados Unidos da América, onde adquiriram uma companhia que produzia o Betadine, a Purdue Frederick. Quando, na década de 50 os irmãos Sackler compraram esta companhia entram na aventura da área farmacêutica. Posteriormente, compraram uma companhia no Reino Unido iniciando assim a sua expansão pela Europa. Uma das maiores inovações da família Sackler foi a tecnologia de libertação prolongada e continuada na área da dor (morfina), representando uma possibilidade diferente para o tratamento da dor. Foi com base nesta inovação que a companhia expandiu pela Europa e pelos restantes continentes. Neste momento, a Mundipharma está representada em mais de 50 países e, atualmente, a sua principal área de expansão está localizada nas regiões da Ásia e do Pacífico, da América Latina e, na Europa, Portugal foi o último país a incorporar a empresa.

RX – Depois de 60 anos noutros mercados, chega agora a Portugal. O que é que traz de novo?
SL – A entrada de uma nova companhia irá, seguramente, dinamizar o mercado português. Nesta primeira fase, no mercado da asma, que está dominado por duas grandes companhias. A entrada de uma nova empresa multinacional como a Mundipharma, vai mudar todo o panorama deste mercado: é uma nova alternativa, com um novo produto que traz tanto de inovação como de eficácia no controle dos doentes asmáticos. Pela primeira vez, estamos a associar o corticoide mais potente com o broncodilatador mais rápido. Essa é uma das inovações do nosso produto. A asma trata-se, em grande parte, com associações de moléculas. Há mais de 14 anos que temos associações de fármacos no mercado, mas são associações antigas. A inovação da Mundipharma na asma consiste em trazer esta associação fixa num dispositivo igualmente inovador que garante que o produto chega onde é preciso, com o simples manuseamento, acessível a qualquer um. No fundo, reunimos neste produto o melhor dos dois mundos, ou seja, o melhor de duas excelentes moléculas juntas no mesmo dispositivo inovador.

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“A entrada de uma nova empresa multinacional como a Mundipharma vai mudar todo o panorama deste mercado: é uma nova alternativa, com um novo produto que traz tanto de inovação como de eficácia no controle dos doentes asmáticos”

RX – No que respeita concretamente à asma, que benefícios este novo produto pode trazer para os doentes?
SL – O grande problema do tratamento da asma é que afeta cerca de um milhão de pessoas, mas apenas 700 mil estão diagnosticadas e destas, apenas cerca de 50% têm a doença controlada, devido à utilização inadequada dos dispositivos e  de alguns medicamentos.
Este novo produto representa uma alternativa que serve para todo o tipo de doentes, desde as crianças a partir dos 12 anos aos mais idosos, com um dispositivo que é muito simples de manusear. Aliás, 99% dos doentes conseguiram, apenas com a leitura das indicações, utilizar o dispositivo. Este produto é novo em Portugal mas já está no mercado britânico desde 2012, no alemão desde 2013 e já foi lançado em cerca de 30 países. Em termos de evidência é um produto com eficácia demonstrada na prática clínica, mesmo na Europa.

RX – Das cinco áreas terapêuticas prioritárias para a Mundipharma, a respiratória acabou por ser a primeira a entrar em Portugal. Porquê?
SL – A razão pela qual decidimos entrar no mercado português com um produto para a área respiratória está relacionada com as regras da comparticipação. Tentámos chegar mais cedoao mercado português, mas a situação económica não era a mais adequada. Neste momento, a situação económica mudou e, finalmente, conseguimos a comparticipação deste produto. É um facto que, com um só produto, a companhia dificilmente poderá dar lucro. Mas consideramos esta fase como um investimento necessário e o início da nossa actividade em Portugal

“O grande problema do tratamento da asma é que afeta cerca de um milhão de pessoas, mas apenas 700 mil estão diagnosticadas e destas, apenas cerca de 50% têm a doença controlada, devido à utilização inadequada dos dispositivos e  de alguns medicamentos”

RX – Ainda assim, nestes primeiros meses após o lançamento do produto em Portugal, houve já uma faturação significativa?
SL – Chegámos a Portugal há cinco meses e prevemos que, nos primeiros nove meses de atividade vamos ultrapassar um milhão de euros de faturação. Estimamos, num prazo de cinco anos, ter uma faturação de 10 milhões de euros.

RX – Nessa altura já será possível integrar outras áreas terapêuticas?
SL – Sim. A ideia é começar com a área respiratória com este produto  e aguardar nas próximas semanas notícias de eventuais novas comparticipações de outros produtos que foram já submetidos às autoridades portuguesas, permitindo assim a chegada de uma maior oferta de produtos ao mercado. Para além de todos estes novos produtos que temos para comercializar, estamos envolvidos em projectos de investigação e desenvolvimento em várias áreas distintas. As áreas prioritárias são a respiratória, a da dor e da adição. Nesta última, somos realmente pioneiros. No entanto, a área de investigação e desenvolvimento da Mundipharma está em expansão e se hoje estamos nestas áreas,  amanhã podemos estar na Cardiologia, na Oncologia ou qualquer outra. Daremos sempre prioridade às necessidades dos doentes e das sociedades, procurando estar presentes nas áreas onde possamos acrescentar valor. Umas vezes porque podemos trazer inovação, como é o caso deste produto que lançámos para a asma, outras pela possibilidade de contribuirmos para a redução dos custos dos tratamentos e para a melhoria do acesso por parte dos doentes.

Envolver e responsabilizar os doentes

RX – A sustentabilidade do sistema nacional de saúde é também uma preocupação da Mundipharma?
SL – A população está a envelhecer e, inevitavelmente, os custos da saúde estão a aumentar e o sistema não será sustentável se não fizermos todos a nossa parte: a indústria farmacêutica tem que dar o exemplo, mas também a população e os governos. Sabemos que hoje em dia, as pessoas gastam 5 ou 10€ numa taça de gelado, mas reclamam se tiverem de pagar o mesmo por um medicamento que vai melhorar a sua qualidade de vida. Não podemos partir do princípio de que a saúde é uma responsabilidade exclusiva do Estado. Eu penso que cada um de nós é responsável pela sua saúde.
Julgo que, com o contributo de todos, será possível superar este desafio de termos orçamentos cada vez mais reduzidos para a saúde e custos cada vez mais elevados com o envelhecimento da população. Da parte da Mundipharma, esperamos contribuir com inovação que reduza, realmente, os custos com a saúde. No caso deste medicamento para a asma, sabemos que conseguimos reduzir as crises que estão muito relacionadas com consumo de recursos de saúde (ida à urgência, internamentos, etc). Evitando estes episódios, conseguimos minimizar os custos relacionados com a asma.

A população está a envelhecer e, inevitavelmente, os custos da saúde estão a aumentar e o sistema não será sustentável se não fizermos todos a nossa parte: a indústria farmacêutica tem que dar o exemplo, mas também a população e os governos

RX – No entanto, toda esta inovação tem um custo muito elevado para as companhias farmacêuticas…
SL – Investir em saúde não é barato e para introduzir este novo produto com um dispositivo inovador , tivemos 50 moléculas em investigação clínica e outras 2500 em investigação pré-clínica. A investigação farmacêutica requer muito tempo, muito dinheiro e, por vezes, sem garantias de sucesso. Umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se.

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RX – No contexto da educação para saúde, a Mundipharma também vai querer posicionar-se na comunicação direta para o público?
SL – Uma vez que o nosso produto exige prescrição obrigatória, a regulamentação não permite que o divulguemos diretamente para o público. Neste contexto, a nossa comunicação está mais dirigida para os profissionais de saúde. No entanto, estamos dispostos a dar um passo à frente na comunicação com a sociedade, cumprindo as regras, mas com a devida criatividade e inovação para encontrarmos outras formas de comunicar na óptica da educação para a saúde, como é o caso da campanha “Que a asma não te pare”.
Para mim e para a minha equipa é um grande orgulho trabalhar na industria farmacêutica e poder, através dos medicamentos e da  educação para a saúde, melhorar as condições de vida dos doentes.

RX – A criação do Instituto Mundipharma em Portugal surge também para responder a essa necessidade de envolver o público?
SL – O Instituto Mundipharma tem três objetivos básicos: o primeiro é a divulgação e difusão de informação na área da saúde, ou seja, essa aproximação ao público; o segundo é a aposta na investigação e desenvolvimento de novos fármacos, pelo que o instituto terá também a missão de envolver médicos e USF na investigação e, particularmente, na demonstração da eficácia dos produtos na vida real; o terceiro objetivo é a educação médica, através da colaboração com sociedades médicas e científicas e com os profissionais de saúde no sentido de oferecer uma maior formação e criar parcerias com o próprio meio académico.

RX – A industria farmacêutica passou recentemente por uma crise que envolveu o despedimento de muitos funcionários e, em alguns casos, implicou até deslocação das suas delegações para outros países. Como é que a Mundipharma vê esta situação?
SL –Esperamos estar no percurso inverso. Acabámos de chegar, queremos consolidar a companhia no mercado, investir, criar emprego e contribuir para a economia portuguesa, sem levar os benefícios para fora do país, como outras companhias fizeram. Queremos investir cá através do Instituto Mundipharma, através das atividades com sociedades científicas e com as universidades, com investigação científica nacional e com o apoio aos programas de portugueses. Neste último caso, salientamos a nossa parceria com o Hospital da Bonecada ou o apoio da equipa de remo que está a caminho das Olimpíadas.

O Instituto Mundipharma tem três objetivos básicos: o primeiro é a divulgação e difusão de informação na área da saúde; o segundo é a aposta na investigação e desenvolvimento de novos fármacos; o terceiro objetivo é a educação médica, através da colaboração com sociedades médicas e científicas

RX – Como perspetiva o crescimento futuro da Mundipharma nos próximos anos?
SL –Para já, estamos a contratar novos profissionais para aumentar a equipa. Mais à frente temos previsto o lançamento de novos produtos na área da dor, na qual estamos a investir fortemente, com a introduçãoda associação de vários fármacos no tratamento da dor, nomeadamente de opiáceos que trazem benefício e melhoria na qualidade de vida dos doentes. Pretendemos ainda introduzir combinações com novas formulações que vão permitir uma redução dos efeitos adversos dos medicamentos dos tratamentos utilizados para o controlo da dor. Estamos também a trabalhar num dispositivo para o tratamento da dor para utilizar nas ambulâncias e serviços de emergência e de urgência.
Parte da estratégia da companhia passa por trazer inovação, mas de uma forma responsável do ponto de vista dos custos e garantindo que um maior número de pessoas possa ter acesso a essa inovação. Queremos trabalhar de forma conjunta com as autoridades de saúde.
Por outro lado, queremos continuar a crescer, apostando no sucesso do recrutamento do melhor talento do país (independentemente da idade ou situação familiar em que se encontrem) e na peculiar cultura empresarial apelidada “Mundiferença” que se resume aos termos: espírito guerreiro, coração prestativo e atitude de diversão, expressos na cultura da empresa disponível no seu website www.mundipharma.pt.

Patrícia Rebelo e Cátia Jorge

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