Médica Portuguesa distinguida nos EUA com artigo científico na área da oftalmologia

Chama-se Inês Laíns, tem 31 anos, é natural de Coimbra e licenciou-se em Medicina na mesma cidade. Recentemente foi distinguida, pelo segundo ano consecutivo, com o galardão “Evangelos S. Gragoudas Award”, um prémio que visa distinguir o melhor artigo científico publicado pelo serviço de oftalmologia da Harvard Medical School, nos Estados Unidos da América. A médica vive em Boston há já quatro anos e atualmente trabalha naquele que é considerado o melhor hospital mundial da área, Massachusetts Eye and Ear Hospital. Em entrevista ao Raio-X descreveu o trabalho premiado e falou sobre o futuro do tratamento da Degenerescência Macular Relacionada com a idade (DMI).

RAIOX (RX) – O que é a DMI?

Inês Laíns (IL) – A DMI é uma doença que surge em pessoas, Sem Título-1geralmente, com mais de 50 anos e que afeta a parte central da visão, a mácula. O que acontece é que todos nós, com o envelhecimento, temos algumas alterações no olho, tal como temos na nossa pele e em todas as partes do nosso corpo. Há alterações consideradas normais e que acontecem em todos nós, mas há pessoas que sofrem alterações mais acentuadas que constituem doença. No caso da DMI, alguns indivíduos apresentam apenas sinais tênues e que não se associam a nenhuns sintomas, mas noutros esses sinais são mais vincados, podendo levar a uma perda de visão na parte central do olho e até à cegueira. Este risco de cegueira, que depende de inúmeros fatores, aumenta à medida que a idade avança e nos fumadores. Ou seja, as taxas de evolução da doença dependem sobretudo da idade e do tabagismo.

RX – Qual é a população mais afetada por esta patologia?

IL – Sem dúvida alguma a população mais idosa. Ou seja, uma pessoa com 90 anos tem mais risco do que uma pessoa com 50 anos. Outro grupo de risco são os fumadores e as pessoas que têm história familiar associada. A par disso, existem outros fatores não tão bem estabelecidos, mas que também podem estar associados, nomeadamente cardiovasculares, como por exemplo a hipertensão arterial.No entanto, está indicado que as pessoas acima dos 50 anos devem ir frequentemente ao oftalmologista no sentido de fazerem um despiste de DMI. O problema é que muitas vezes ignoramos estas consultas de rotina e, dessa forma, não é possível fazer um diagnóstico precoce de DMI.

RX – Quais são os tratamentos disponíveis atualmente para esta patologia? E quais os resultados?

IL – Neste momento só existe tratamento para uma das formas mais severas da doença, que é a forma neovascular. Neste tipo de DMRI existe a formação de vasos anómalos na parte central do olho, que, por serem anómalos, extravasam o seu conteúdo. Isto que pode conduzir a um compromisso visual permanente e rápido. O tratamento é feito através de injeções dentro do olho, são chamadas injeções intravítreas. Os resultados são ótimos porque permitem não só prevenir a perda da visão, como também melhorá-la. No entanto, têm custos elevados e implicam que os doentes façam injeções muito frequentemente: ou todos os meses ou a cada dois ou três meses.Existe outra forma avançada da doença designada atrofia geográfica, na qual a parte central da retina desaparece. Vários estudos foram desenvolvidos nesta área ao longo da última década, mas não existe ainda tratamento.Para as formas precoces e intermédias da doença, também não existe um tratamento estabelecido, no entanto, existe uma formulação vitamínica que foi comprovada num ensaio clinico cujo resultado demonstrou uma redução da progressão da doença.

RX – Em que consistiu o trabalho premiado com o “Evangelos S. Gragoudas Award”?

IL – Os doentes que apresentam formas precoces e intermédias da doença na sua maioria não têm sintomatologia, logo, em muitos casos não vão ao oftalmologista e por isso não são diagnosticados. O objetivo deste trabalho passou pelo desenvolvimento de um teste no sangue que permitisse identificar quem eram as pessoas que tinham DMI e que teriam de ser vistas por um oftalmologista. Vários estudos já tinham procurado identificar marcadores no sangue, contudo os resultados foram sempre inconsistentes, talvez porque os métodos utilizados não consideravam a complexidade desta doença. A DMI é multifatorial, e envolve fatores genéticos, mas também fatores ambientais, daí a dificuldade de desenvolver testes capazes de refletir essa natureza multifatorial.

Neste trabalho, foi usada uma técnica designada de “Metabolómica” que, basicamente, estuda os metabolitos que refletem todo o processo de transcrição genética, mas também as influências que os fatores ambientais têm nesse processo. E com esta técnica nós conseguimos identificar o perfil que separa os doentes que tem DMI daqueles que não têm da doença. Ao mesmo tempo, ao considerar a natureza multifatorial da doença, esta técnica permite compreender melhor os mecanismos da doença e, desta forma, estudar novos alvos terapêuticos. Com um teste de sangue podemos identificar os doentes que tem DMI e nomeadamente os que têm níveis mais graves. Obviamente que tudo isto vai requerer mais estudos e validação, portanto até que se transponha para a clinica ainda demora algum tempo.

RX – O que simbolizou para si este prémio?

IL – O facto de sentir que a área que tem sido a minha paixão e que tem sido o alvo da minha entrega ao longo dos últimos quatro anos produziu frutos tão importantes, deixa-me extremamente feliz. É uma enorme honra e um reconhecimento muito grande. Considero este prémio como um estímulo muito grande para dar continuidade ao desenvolvimento do meu trabalho, no qual o meu grande objetivo é poder um dia dar uma contribuição significativa para a melhoria da qualidade de vida dos doentes que sofrem de DMI. A par disto, é também uma enorme responsabilidade no meu percurso diário.

Por Rita Rodrigues

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