O AVC na primeira pessoa: “A primeira reação foi de choque e de revolta”

Jovens, idosos, homens, mulheres, qualquer um pode sofrer um AVC. No entanto, não vão longe os tempos em que se considerava que apenas os grupos etários mais avançados eram vítimas de “trombose”. Na realidade, embora com fatores de risco distintos, o AVC pode ocorrer em pessoas bastante jovens. Joana Rebelo é um desses exemplos.

 

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Tem agora 20 anos, mas tinha 15 quando sofreu um AVC. Com um histórico de enxaquecas crónicas desde os seis anos, Joana Rebelo fazia frequentemente terapêutica para controlar as dores de cabeça. Contudo, quando nem assim as enxaquecas davam tréguas, tinha de recorrer às urgências hospitalares para receber outro tipo de cuidados. Foi precisamente o que aconteceu no dia em que sofreu o AVC. “Estava em casa com o meu pai, já tinha tomado vários comprimidos para a dor de cabeça, mas não as estava a conseguir controlar. O meu pai decidiu levar-me ao hospital e foi quando me levantei que percebi que aquela não era uma dor de cabeça normal. Tive imensa dificuldade para caminhar direita e para entrar no carro”, descreve.

A partir daí, só se recorda de entrar no Hospital de D. Estefânia, de transitar de serviço em serviço, de especialidade em especialidade e de exame em exame. “Tomei imensa medicação e rejeitei tudo. Não parava de vomitar, até que cheguei a um ponto que apaguei. Dizem que entrei em coma induzido”, acrescenta. Foi nesse período que sofreu o AVC e garante que não se recorda de rigorosamente nada. “Quando acordei não conseguia mexer a mão nem a perna esquerda. A primeira reação foi de choque e de revolta”, afirma Joana Rebelo. Ficou seis meses internada nos cuidados intensivos do Hospital de D. Estefânia, onde iniciou a fisioterapia. “Depois de sair do hospital fui referenciada para um centro de reabilitação para fazer um programa de seis meses. Depois desse período fiquei por conta própria”, continua.

Hoje, cinco anos depois, continua sem saber as causas que originaram o AVC e continua a ser avaliada em consultas de Neurologia e Cardiologia. “Também já andei em consultas de Hematologia por causa da utilização prolongada de aspirina. Mas já me habituei aos exames de rotina, às consultas e à medicação que tenho de fazer desde o dia em que tive o AVC”.

Recuperou a maior parte das limitações com que acordou após o AVC, no entanto, há outras condicionantes difíceis de aceitar para quem conta apenas duas décadas de vida. “Sei que há capacidades que perdi e que não vou mais recuperar, mas o mais difícil, ao início, é ter de ouvir muitos não. Não posso fazer alguns esforços, não posso praticar alguns exercícios, não posso fazer determinadas atividades. Com o tempo aprendi a contornar o não e a dar a volta à minha maneira. Se não posso fazer um exercício, faço outro, mas não deixa de ser limitador”, lamenta.

Agora que passou a revolta, Joana sente que o AVC lhe trouxe maturidade e a ensinou a crescer mais depressa. “Sou bastante mais paciente e menos impulsiva. Tento ultrapassar as minhas dificuldades e tentar levar uma vida normal. Deixei de me questionar”. Passados 5 anos, não tem limitações físicas nem cognitivas, contudo, aprendeu a lidar melhor com o “Não”. Sabe que há coisas que não pode nem deve voltar a fazer. “Tenho de aprender a dar a volta e a contornar os nãos. Há algumas atividades que não posso fazer, mas tento compensar com outras”.

 

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Treino personalizado

Foi precisamente esta determinação que levou Joana Rebelo ao O2 Life Center. Com “carta verde dos médicos”, mas sem qualquer plano de reabilitação a longo prazo, decidiu ajustar um plano de exercícios às suas necessidades, tendo em conta condicionantes específicas que obrigam a uma orientação diferenciada por parte do personal trainer que a acompanha.

Embora o objetivo do plano de exercícios não seja necessariamente a reabilitação, Joana está focada em apostar na promoção da sua saúde e na prevenção de um evento recorrente. Os cuidados com a alimentação e a prática regular de atividade física são duas medidas que contribuem para a prevenção do AVC, sobretudo em pessoas que já passaram por um episódio deste tipo.

“Tentamos estabelecer um plano de exercício que vá ao encontro das necessidades da Joana, mantendo uma articulação apertada com os médicos que a acompanham, tanto na Cardiologia, como na Neurologia”, descreve Paulo Teixeira.

O personal trainer do O2 Life Center que acompanha a Joana faz questão de seguir os relatórios e as diretrizes dos médicos que estão por dentro da sua situação clínica e refere que “o importante é controlar a frequência cardíaca, definir a zona de treino e ter em atenção algumas particularidades relacionadas com o AVC, nomeadamente a perda do equilíbrio e algumas alterações da motricidade”. Segundo Paulo Teixeira, “agora que está a retomar a atividade física, a Joana revela algum receio em relação ao esforço. Tem medo de potenciar o risco de um novo episódio”. É também aqui que cabe ao treinador salvaguardar a segurança e transmitir confiança. Durante os treinos, a Joana está monitorizada com um cardiofrequencímetro para avaliar a sua frequência cardíaca. Além disso, “todas as semanas fazemos medições para avaliar a composição corporal e para controlar as posturas”. A Joana arrastava um pouco o pé esquerdo e também aqui deve haver uma atenção especial do treinador. “Procuramos manter os cuidados que tinha na fisioterapia que consistem em obrigar a levantar a perna esquerda para ganhar mais mobilidade. Se ganhar essa mobilidade na passadeira, vai ganhá-la também a caminhar no chão e esse é o nosso objetivo, é que a Joana seja autónoma e que recupere a sua autoconfiança”, acrescenta Paulo Teixeira.

Esta não é a primeira vez que Paulo Teixeira trabalha diretamente com pessoas que já sofreram um evento vascular desta dimensão. “Trabalhei durante cinco anos no instituto de Cardiologia Preventiva de Almada em que acompanhava pessoas em reabilitação cardíaca e recebia diretrizes diretamente do cardiologista relativamente ao tipo de treino que tinha de implementar”.

 

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Programa “Mais Coração”

A par do exercício físico, Joana Rebelo recebe também aconselhamento nutricional na consulta de Naturopatia. “Se falamos num contexto de prevenção secundária, é essencial que haja uma abordagem multidisciplinar, na qual não pode faltar orientação relativamente à alimentação. Tudo isto é fundamental para que em conjunto consigamos obter o resultado da forma mais segura possível”, sublinha Paulo Teixeira.

Para assinalar o seu segundo aniversário, o O2 Life Center lançou no final do ano passado o programa Mais Coração que aposta essencialmente na prevenção das doenças vasculares. “O Mais Coração tem duas valências: a prevenção primária, que é o nosso foco e que consiste no controlo dos fatores de risco cardiovascular, como a obesidade, o colesterol elevado, o sedentarismo, a diabetes; e a prevenção secundária, que consiste em prevenir as recorrências, ou seja, em minimizar os riscos de um novo episódio, controlando os fatores de risco que levaram à ocorrência do primeiro”, descreve Paulo Teixeira.

Joana Rebelo é a primeira a assumir a dificuldade que sentiu quando procurou um espaço com este tipo de valência fora o ambiente hospitalar, mas que não fosse apenas um ginásio. “Com este acompanhamento sinto que estou a aproximar-me do que era antes do AVC. Sobretudo porque sinto que sou acompanhada por pessoas que não me deixam desistir. É muito bom sentir-me motivada e por sentir que a cada treino consigo fazer mais e melhor”, descreve Joana, motivada com os ganhos que tem vindo a alcançar.

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