“Pretendemos que as pessoas se sintam representadas nas várias atividades da SPP”

Otimizar a formação em Pneumologia, reforçar a investigação e melhorar a comunicação são as três grandes prioridades da direção da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, liderada pelo Prof. Doutor Venceslau Hespanhol. Este congresso foi já o reflexo do esforço em melhorar a comunicação, com três projetos editoriais que visam aproximar os participantes e com um programa científico diversificado, a pensar em todos.

SPP Info – Quais são os objetivos e as prioridades desta direção da SPP?

Prof. Doutor Venceslau Hespanhol – Os objetivos e a missão foram delineados no ano passado, quando nos apresentámos aos sócios propondo a nossa estratégia e o que pretendíamos desenvolver nos três anos seguintes. Foram essencialmente três esses objetivos: melhorar a formação de todos os especialistas, com especial importância para duas áreas, a área técnica, muito ligada à medicina, e a área científica, muito ligada à investigação; manter a evolução da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), no sentido de a tornar mais eficiente e mais conhecida dos sócios; e a melhoria da comunicação entre todos.

SPPI – De que forma se pode melhorar a comunicação?

VH – Estamos a introduzir alterações em toda a área informática que suporta, por exemplo, o nosso site, assim como um reforço das novas plataformas como as redes sociais. O objetivo é que as pessoas possam interagir com a sociedade de uma forma facilitada e que possam ter um acesso mais direto à informação, a bolsas e às próprias iniciativas e atividades que a Sociedade promove. Por outro lado, neste congresso já introduzimos algumas inovações que visam precisamente melhorar a comunicação. Criámos um sistema de informação integrado que foi testado pela primeira vez no congresso e que inclui três domínios: o domínio escrito tradicional (jornal diário do congresso – SPP Info), uma newsletter digital que foi enviada todos os dias para os sócios da SPP, e uma nova experiência que é a SPP-TV, ou seja, um canal televisivo que deu conta dos temas abordados nas várias sessões. Com tudo isto, criámos uma marca, ou seja, a marca SPP com todas as suas extensões que acabam por ser complementares entre si.

SPPI – Em termos científicos, de que forma este congresso foi enriquecido, no sentido de cada congressista poder acrescentar algo de novo ao seu conhecimento?

VH – Começámos por dar espaço a mais áreas dentro do próprio programa científico, para melhorar a oferta em termos de conhecimento. O objetivo é auscultar de uma forma mais criteriosa, junto dos sócios, que temas gostariam de ver abordados. Este foi um ano experimental nesta matéria, mas nos próximos anos teremos oportunidade de avaliar de uma maneira mais aprofundada, através de uns inquéritos que já estão em curso, novos temas e novas ideias para ultrapassarmos obstáculos. O que pretendemos é que as pessoas se sintam representadas nas várias atividades da SPP, nomeadamente, no Congresso.

SPPI – A última sessão, destinada ao debate e á reflexão sobre a subespecialização em Pneumologia, foi já um reflexo deste conceito de aproximação da SPP dos verdadeiros interesses dos especialistas?

VH – A última sessão deste congresso foi dedicada à discussão da especialidade da Pneumologia, contando com o contributo de personalidades de locais muito diversos. A ideia é compreender o que aconteceu nesses países para responder ao desafio do alargamento do conhecimento em Pneumologia. Ou seja, temos vindo a assistir a uma tendência para a subespecialização, no sentido de criar disciplinas e áreas muito específicas dentro da especialidade. Tentámos avaliar as experiências dos outros países no sentido de encontrarmos uma forma de lidar com este conhecimento tão grande que a Pneumologia abarca. Muitas vezes discutimos este tema entre nós, mas nunca o tínhamos feito com colegas de outros países, alguns deles de fora da europa e com sistemas de saúde completamente diferentes do nosso, que puderam reportar as suas próprias experiências.

 

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Diferenças de classificação podem sugerir maior mortalidade por pneumonia

SPPI – Neste contexto das diferenças entre os diversos países, do ponto de vista epidemiológico há também algumas particularidades a nível nacional. O último relatório da DGS para as doenças respiratórias, revelou que a pneumonia mata mais em Portugal do que na maioria dos países europeus. Como se explica este fenómeno?

VH – Para já, não sei responder, mas estamos a tentar encontrar uma resposta objetiva para essa questão. A pneumonia é uma doença que ocorre com elevada frequência em todos os países. A diferença pode estar na notificação da pneumonia como causa de morte. Ou seja, num doente seropositivo, com VIH, que sofre uma pneumonia, pode considera-se, em Portugal, que a causa de morte é a pneumonia. Noutros país, pode ser considerada como causa de morte a infeção por VIH. Se assim for, estamos a comparar realidades que não são comparáveis, uma vez que os métodos de notificação são distintos entre os vários países.

SPPI – Considera que há, de alguma forma, um enviesamento destes resultados?

VH – Não diria que é um enviesamento, mas sim uma questão de critérios de classificação médico-administrativos. Se uma pessoa muito idosa, com várias patologias de base sofre uma pneumonia e morre. O motivo que nós, em Portugal, consideramos ter sido a causa de morte, pode ser completamente diferente do motivo que os americanos, os brasileiros ou os franceses considerariam. É, na realidade, uma questão de critérios de classificação médico-administrativos.

SPPI – Esses critérios são também aplicáveis a outros indicadores, nomeadamente da asma ou da DPOC?

VH – Exatamente. Nesses indicadores nós estamos muito bem posicionados. De facto, os dados revelam que temos uma mortalidade baixa por asma e por DPOC. Muito provavelmente, o que acontece é que a morte de um doente com DPOC que sofre uma agudização grave é classificada como uma pneumonia. Para corrigir estas situações, temos de chamar as mesmas coisas aos mesmos eventos. Só dessa forma conseguiremos fazer comparações.

Uma sociedade informada é uma sociedade menos doente

SPPI – No que respeita à asma e à DPOC, verificou-se uma melhoria clara da taxa de controlo. Estes resultados são fruto de um melhor acompanhamento destes doentes?

VH – Eu penso que são, antes de mais, fruto da própria organização do nosso sistema de saúde. As pessoas têm um acesso cada vez mais facilitado aos cuidados de saúde e aos medicamentos que são mais eficazes no controlo dessas doenças. Para melhorarmos os indicadores em saúde não precisamos de grandes gestos técnicos. Por vezes bastam pequenos detalhes organizacionais e uma boa rotina médica.

SPPI – Considera que da parte dos doentes e da própria população há um maior envolvimento no controlo destas doenças?

VH – Sem dúvida. Os bons resultados não dependem apenas do médico. As pessoas têm hoje um maior acesso ao conhecimento e é já muito percetível uma melhoria na literacia em saúde por parte da população. Uma sociedade informada é uma sociedade menos doente. Além disso, a confiança entre médico e doente é essencial para o êxito no tratamento de uma doença. Para isso é fundamental que os dois falem a mesma língua e remem no mesmo sentido.

“Temos um excelente Serviço Nacional de Saúde”

SPPI – Do ponto de vista político, que medidas podem ainda ser tomadas com vista a uma otimização dos resultados no âmbito da doença respiratória?

VH – Penso que neste momento falta implementar as medidas que estão prometidas. Ou seja, fazer com que elas aconteçam. É o caso da disponibilização da espirometria nas unidades de cuidados de saúde primários, que vai permitir um diagnóstico mais precoce da doença obstrutiva respiratória, e a aplicação de todas as medidas previstas na legislação antitabágica, com vista à proteção, sobretudo, dos não fumadores. Por outro lado, penso que ainda podemos fazer mais no âmbito da reabilitação respiratória, que é uma área que implica muitos meios humanos e muito investimento tanto da parte do doente, como das instituições.

SPPI – Em áreas como o cancro ou a fibrose quística, sente que tem havido vontade política no que respeita à facilitação do acesso à inovação?

VH – Toda a política que está na base da aprovação de medicamentos inovadores é absolutamente natural. Temos um excelente serviço nacional de saúde, em que os doentes têm acesso à inovação. Temos, inclusivamente, programas de acesso precoce e comparticipado a medicamentos que estão ainda em processo de aprovação. Hoje em dia, todos queremos tudo muito depressa. Mas primeiro, há que compreender se a inovação traz valor em relação ao que já existe. Se trouxer, então sem dúvida que os doentes terão acesso a essa inovação.

SPPI – Relativamente à investigação, que é também uma das áreas prioritárias da SPP, como classifica o atual estado da investigação em Pneumologia no nosso país?

VH – Basta avaliar o programa do congresso para percebermos que, de ano para ano, a investigação em Pneumologia está mais ativa e mais original. Constatamos, inclusivamente, que há vários trabalhos que nos permitem andar mais um passo em ferente. Ou seja, investigação com impacto real na prática médica. Investigação com aplicabilidade clínica.

Entrevista originalmente publicada na SPP-Info n.º 1, publicação oficial distribuída no XXXII Congresso de Pneumologia.

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