“A saúde pública não tem cores nem tem partidos. Só ciência”

44 anos de serviço público, foi o tema da última intervenção de Francisco George enquanto Diretor-Geral da Saúde. Uma sessão na qual contava “apresentar contas e discutir relatórios” foi, afinal uma cerimónia repleta de afetos, memórias e à qual não faltaram ministros, ex-ministros, secretários de Estado, bastonários, conselheiros de Estado, amigos e familiares. No decorrer da cerimónia. O Presidente da República condecorou o agora ex-Diretor-Geral da Saúde com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito e o Ministro da Saúde anunciou a criação do prémio de Saúde Pública Francisco George.

Faltaram cadeiras na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa para sentar todos os que não quiseram perder a última intervenção de Francisco George enquanto Diretor-Geral da Saúde. “44 anos de serviço público” foi o tema da palestra que juntou ministros, ex-ministros, secretários de estado, bastonários, conselheiros de estado, representantes do mundo académico e das mais variadas instituições de saúde do país, amigos e familiares. Só faltou Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República, mesmo estando em visita às zonas mais afetadas pelos incêndios do fim-de-semana passado, enviou uma mensagem por escrito dirigida a Francisco George, seu colega de escola e amigo de infância, condecorando-o com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito, pelo seu “pelo seu espírito de serviço público”.

Numa intervenção marcada pelas memórias dos primórdios da democracia portuguesa, Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, recordou as peripécias de uma juventude partilhada com “Chico”. Amigos desde os 13 anos, lutaram juntos pelos mesmos ideais republicanos, “mas o Francisco orientou o seu caminho para a Saúde Pública, e ainda bem que assim foi porque sempre foi um homem do serviço público e de causas sociais”.

Ao longo destes 44 anos “procurou sempre tornar real e universal o direito à saúde, como fator de igualdade e emancipação da humanidade. Nunca se confundiu com burocracias inúteis ou hierarquias fúteis. Deu a cara em momentos difíceis e isso valeu-lhe o respeito da população”, afirmou Eduardo Ferro Rodrigues. Sempre comunicador, sempre com uma palavra a dizer. Sempre com a voz segura. Sempre alerta, mas sem alarmismos. Foi assim que o presidente da Assembleia da República descreveu Francisco George. “Os governos passaram e ele ficou como a cara da saúde em Portugal”.

 

“Fui amigo de todos os Ministros com quem trabalhei”

Nomeado para Diretor-Geral da Saúde, em 2005, por Correia de Campos, na altura Ministro da Saúde, Francisco George esteve 12 anos à frente da DGS. “Fui amigo de todos os ministros com quem trabalhei porque a saúde pública não é colorida, não tem cores nem tem partidos. Não se controlam epidemias pela esquerda ou pela direita. O nosso trabalho tem base científica e não política”, afirmou Francisco George em declarações aos jornalistas.

Entre os momentos mais marcantes da sua carreira, destaca a descoberta do VIH Sida: “estive no epicentro, em África, no ano de 1980. Vi os primeiros casos e não fazia ideia do que aquilo era”.

Já na qualidade de Diretor-Geral da Saúde, assume que os mais de 400 casos de legionela que, em 2014, “explodiram” em Vila Franca de Xira, foram a sua maior dor de cabeça. “Foi uma grande luta descobrir a fonte de contágio. Foi preciso intervir imediatamente para descobrir o foco da infeção. 11 pessoas morreram”. Mas houve outros grandes desafios: os recentes casos de sarampo, a gripe A, as ameaças de dengue e ébola, os casos de hepatite A e tantos outros.

Francisco George despediu-se da DGS na véspera de completar 70 anos de idade, mas as suas lutas não ficam por aqui. Até porque, citando José Rodrigues Migueis, “preciso das lutas para me sentir remoçar”, afirmou. E a próxima luta será a candidatura à direção da Cruz Vermelha Portuguesa. Além disso, vai continuar a alimentar o seu site: www.dossierdelutas.pt

Na hora da despedida, não deixou de agradecer a toda a equipa que o acompanhou na DGS, a todos os ministros com quem trabalhou, aos amigos à família e aos jornalistas “sem os quais não é possível fazer saúde pública e chegar à população”. Para o lugar que deixa vazio, fala-se agora de Raquel Duarte, atual coordenadora do Programa Nacional para a Tuberculose.

 

Prémio de Saúde Pública Francisco George

Para homenagear o ex-Diretor-Geral da Saúde, o Ministério da Saúde anunciou a criação do Prémio de Saúde Pública Francisco George, com o objetivo de “distinguir os trabalhos e estudos de investigação, inéditos e inovadores, em temas de saúde pública de relevante interesse e impacte para a defesa da saúde pública”, como refere o despacho assinado por Adalberto Campos Fernandes, Ministro da Saúde, publicado em Diário da República, na passada sexta-feira. O prémio terá um valor de 5 mil euros e a abertura oficial das candidaturas realiza-se em 07 de abril, Dia Mundial da Saúde. A apresentação das candidaturas decorrerá entre 01 de junho e 31 de agosto.

 

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Por Cátia Jorge

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