Transplante pulmonar: o transplante mais difícil de todos

No primeiro dia do Congresso de Pneumologia, que decorreu de 9 a 11 de novembro, o Raio-X entrevistou a pneumologista Luísa Semedo, que esteve presente para contar a “história de sucesso” do transplante pulmonar. A médica responsável pela equipa do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, falou sobre o início da atividade da equipa, sobre os critérios para realizar o transplante e também sobre a gratificação que é ajudar a devolver a capacidade de respirar a alguém.

Raio-X (RX): Quando é que a sua equipa começou a realizar os transplantes e que dificuldades é que existiram na altura?

Luísa Semedo (LS): Esta equipa que está atualmente a trabalhar não foi a equipa original que iniciou os transplantes, e isso já foi em 2001, pela equipa do Dr. Vaz Velho. Em 2008 houve uma reorganização da equipa e desde então temo-nos mantido praticamente os mesmos, houve saída e entrada de algumas pessoas, nomeadamente cirurgiões, mas a equipa tem-se mantido ao longo dos tempos. Foi um início difícil: reorganizamos o serviço em 2008 e é este o ano de arranque. Éramos e continuamos a ser o único hospital a realizar o transplante pulmonar em todo o país. Existia alguma escassez de órgãos e foi necessário algum tempo até a consolidação de conhecimentos estar efetivada. Tivemos que vencer várias contrariedades e ser resilientes, obviamente que queremos sempre mais e melhor: queremos aumentar o número de doentes submetidos a transplante e é esse o nosso objetivo.

RX: Qual é o percurso que um doente faz até lhe ser feito o transplante?

LS: O caminho passa primeiro pela referenciação, que são os pneumologistas ou médicos de outras especialidades que fazem. Os doentes são doentes para quem o transplante pulmonar é a única opção terapêutica, estando numa fase terminal da sua doença respiratória. Depois de serem observados na consulta de transplante, entram ou não numa lista de espera. O tempo de espera pode ir de dois anos, até, por exemplo, o doente que esteve menos tempo à espera, que foi sensivelmente uma semana. Mas isto é raro, muito raro: o transplante não é uma coisa que se faça de urgência, é preciso estudar os doentes. Os órgãos são escassos, nós temos que cumprir certos princípios e atribuir o transplante a um doente em que a eficácia seja superior.

RX: Quais é que são os critérios que não podem faltar a um candidato a um transplante?

LS: Em primeiro lugar estão os critérios por doença: os doentes com fibrose quística, com patologia pulmonar, com DPOC, com hipertensão pulmonar; são tudo patologias próprias que têm que ter determinados critérios do ponto de vista funcional e clínico. E depois há as contra-indicações globais que dizem respeito a todos os órgãos: o fígado, o rim e o coração têm que estar bem para que o transplante seja um sucesso.

RX: Como é que se faz a seleção dos dadores?

LS: Existem critérios internacionais pelos quais nós nos guiamos e que depois adaptamos à nossa realidade. Se no princípio tínhamos que ter os dadores ideais, progressivamente à medida que a nossa prática e experiência foi crescendo, fomos aceitando os dadores com critérios alargados. Estes são dadores que têm, por exemplo, algumas alterações radiológicas.

Recuperar a qualidade de vida no pós transplante pulmonar

“É excelente ver os nossos doentes que estão em lista de espera, sobretudo os mais novos, todos eles com insuficiência respiratória sob oxigenoterapia, serem transplantados e vê-los bem, a voltarem à sua vida normal. Vê-los a voltar a estudar, a ir para a faculdade, em atividade profissional e a melhorarem a sua qualidade de vida, pois é essa a finalidade do transplante pulmonar, melhorar a qualidade de vida destes doentes. É o transplante mais difícil já que o pulmão é um órgão que está em comunicação com o meio exterior, portanto as complicações ou as rejeições são muito mais fáceis de acontecer do que nos outros órgãos”.

 

Por Margarida Queirós

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