Cannabis: deve ser uma preocupação para os pneumologistas?

A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) esteve representada no Congresso de Pneumologia 2018. Foi no dia 8 de novembro, pelas 10h30, que decorreu a conferência SPP/SBPT, na qual, esteve presente o Presidente da SBPT, José Miguel Chatkin, que apresentou o tema “Tabaco e marijuana”. O RaioX partilha um artigo de opinião do presidente da SBPT sobre esta temática. 

Na conferência SPP/SBPT, apresentei o tema “Tabaco e marijuana”, no qual revisei o impacto do consumo de marijuana nos pulmões, considerando que a rota mais popular de seu uso é através das vias respiratórias. A fumaça do cigarro e da marijuana tem composições similares e, portanto, se esperaria que seus efeitos adversos no aparelho respiratório fossem similares.

Os resultados em estudos específicos, entretanto, tem sido contraditórios. A comparação do uso de tabaco com Cannabis não é simples. Há diferença de manipulação das 2 espécies de folhas nos processos industriais ou nos artesanais, ocasionando efeitos não comparáveis nos achados espirométricos. Além disso, os consumidores de marijuana usualmente são mais jovens com menor tempo de consumo da droga em relação aos do tabaco e suas informações, por culpa ou medo em falar sobre uso de uma droga ilícita, nem sempre são confiáveis.

Outros aspetos são: marijuana é fumada sem filtros, o que determina maior deposição carcinógenos, a manobra para fumar é diferente e, com isso, há maior inalação de fumaça, CO e alcatrão em comparação com o cigarro de tabaco Estudos de provocação brônquica com marijuana em sua maioria demonstram logo após a inalação melhoria do VEF1, do sGaw, reversão de broncospamo induzido por metacolina ou exercício. O uso continuado mostra diminuição progressiva do VEF1, mas progressivo aumento da CVF. Usuários crônicos apresentam mais tosse, maior produção de esputo e sibilância, com reversão significativa dos sintomas ao cessarem seu consumo. O uso associado de tabaco e marijuana possivelmente apresenta maior risco de DPOC, possivelmente com efeito aditivo das duas drogas, já que os resultados encontrados com uso isolado de marijuana são conflitantes. Em relação às doenças alérgicas associadas ao uso de Cannabis sativa, há casos de rinite alérgica, asma, conjuntivite alérgica, eczema, urticária e anafilaxia. Entre os alérgenos detectados, estão o próprio THC, Thaumatin-like protein, RuBisCO (ribulose 1,5- biphosphonate/oxygenase, Oxygen-evolving enhancer protein 2 e Can s3 (nonspecific lipid transfer protein). A presença desta última substância em frutas (maçãs, tangerinas, laranjas, bananas, tomates), em bebidas (vinhos e cervejas), nozes e trigo podem por sua ubiquidade explicar a síndrome cannabis-frutas/ vegetais.

Assim, a sensibilização ao Can s3 via inalatória pode levar à reação cruzada após a ingestão de várias frutas e vegetais. O uso habitual de cannabis ainda não foi associado ao câncer de pulmão, apesar de estudos em laboratório ou com animais apontarem nesta direção. Já foi demonstrada a malignização em pulmões de hamsters expostos a Cannabis, crescimento acelerado Ca Não Peq Células implantados em ratos expostos a THC, biopsias brônquicas usuários de maconha, mas não de tabaco, revelam metaplasia escamosa e alterações pré-malignas, com expressão aumentada de marcadores progressão pré-tumoral, de ação antimitogênica, proapotótica e antiangiogênica. Portanto, nós, os pneumologistas, devemos nos preocupar com os possíveis efeitos adversos para o aparelho respiratório oriundos do uso de marijuana.

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