100 metros: uma história de superação que está a inspirar os doentes com Esclerose Múltipla
Está em exibição nos cinemas NOS o filme espanhol baseado em factos reais “100 Metros”, que conta a história de superação e resiliência de Ramón Arroyo, um homem com esclerose múltipla que cruzou a meta do IronMan – Barcelona, em 2013.
Protagonizado pelo ator Dani Rovira, Ramón recebe a inesperada e catastrófica notícia do diagnóstico de esclerose múltipla já em estado avançado, após vários sinais que indiciavam que algo não estaria bem. Dedicado à família e ao trabalho, não consegue imaginar-se dependente dos cuidados de quem quer que seja, mas o prognóstico avançado pelos especialistas é assustador: dentro de um ano será incapaz de andar 100 metros sem assistência. Numa primeira fase, Ramón sente-se derrotado e impotente, mas depressa percebe que a atitude positiva perante a esclerose múltipla é o primeiro passo para aceitar a doença que o irá acompanhar toda a vida. Propõe-se, assim, a terminar um “IronMan”, uma prova de triatlo composta por 3,8km de natação, 180km de bicicleta e 42km de corrida. Com a ajuda da família, em particular do sogro, com quem tinha, até ao momento, uma relação conflituosa, Ramón dá início a um treino intenso e regrado em que se vê todos os dias a superar limites, numa extraordinária manifestação de coragem e capacidade de sacrifício.
Protagonizado pelo ator Dani Rovira, Ramón recebe a inesperada e catastrófica notícia do diagnóstico de esclerose múltipla já em estado avançado, após vários sinais que indiciavam que algo não estaria bem. (…) Com a ajuda da família, em particular do sogro, com quem tinha, até ao momento, uma relação conflituosa, Ramón dá início a um treino intenso e regrado em que se vê todos os dias a superar limites, numa extraordinária manifestação de coragem e capacidade de sacrifício
O filme, realizado e escrito pelo catalão Marcel Barrena e co-produzido por Tino Navarro, onde os atores portugueses Ricardo Pereira, Manuela Couto e Maria de Medeiros representam papéis secundários, está a inspirar doentes com esclerose múltipla em todo o mundo e traz à tona histórias semelhantes na realidade nacional.
O “IronMan” português
Alexandre Dias, de 31 anos, foi diagnosticado aos 25, quando estava a estudar em Coimbra. O primeiro sinal foi ao nível da visão. Da oftalmologia à Neurologia e após vários exames complementares, o diagnóstico foi inesperado e, na altura, desvalorizado. “Quando o médico me disse que eu tinha esclerose múltipla, não fazia a mínima ideia do que era, nem sequer tinha ouvido falar na doença”, afirmou Alexandre Dias. “Nesse dia, quando saí da consulta, estava com a minha mãe. O trajeto do hospital até casa foi em absoluto silêncio, porque ambos desconhecíamos o impacto que a doença poderia ter na minha vida. Só sabíamos que não tinha cura, o que é obviamente assustador. Na altura, a forma que encontrei de lidar com isso foi desvalorizar a situação”, explicou.
Contabilista de profissão, Alexandre mantém a doença controlada e sem surtos há vários anos e prepara-se para participar na mesma prova que o personagem Ramón, a IronMan, que este ano será também em Barcelona, no primeiro dia de outubro
Contabilista de profissão, Alexandre mantém a doença controlada e sem surtos há vários anos e prepara-se para participar na mesma prova que o personagem Ramón, a IronMan, que este ano será também em Barcelona, no primeiro dia de outubro. Mas o caminho até aqui não foi fácil. “Quando fui diagnosticado, sofria muito com a fadiga relacionada com o calor. Nos primeiros anos, na altura dos surtos, o verão era impossível, tinha sempre que descansar ao final da tarde, o que não é fácil de lidar para um jovem. Costumo dizer que aos 28 anos cansei-me de estar cansado e comecei a desafiar os meus limites”, relatou. Nessa altura, Alexandre começou a praticar exercício físico regularmente e a frequentar o ginásio. “Entretanto, tive conhecimento de uma dinamarquesa que também tem esclerose múltipla e que tinha feito 366 maratonas em 365 dias. E aí surgiu a questão: se ela consegue completar este número de maratonas em tão pouco tempo, não serei eu capaz de completar pelo menos uma? Preparei-me durante um ano e inscrevi-me na maratona do Porto. A partir daí nunca mais parei. No ano seguinte fui mais ambicioso e fiz três maratonas num mês. A prova do IronMan é o próximo objetivo”. Ao preparar-se para a prova, Alexandre deparou-se com o grande desafio de não saber nadar. Mas não o encarou como uma limitação ou impedimento de seguir com o objetivo traçado. “Aprendi a nadar e tentei a minha sorte no triatlo longo em Cascais. Quando terminei a prova não tive dúvidas de que queria fazer o IronMan”.
Um sonho antigo do Alexandre que foi avivado pelo filme “100 metros”. “A prova que vou fazer vai ser exatamente na mesma praia que se vê no filme, por isso, para mim, o filme tem uma carga emocional muito forte. Se já tinha vontade de completar a prova, com a história do Ramón fiquei ainda mais motivado”, rematou Alexandre Dias, afirmando que “o apoio da família é fundamental, mas a vontade tem de partir de nós”.
A esclerose múltipla é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa, que afeta o Sistema Nervoso Central. É uma doença que surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, ou seja, entre os jovens adultos e afeta mais mulheres do que homens. Estima-se que em todo o mundo existam cerca de 2,3 milhões de pessoas com esclerose múltipla.