“Estima-se que cerca de 30-40% dos homens possam desenvolver ginecomastia”

A ginecomastia é um desequilíbrio muito comum entre os portugueses, mas muitas vezes ignorado. Traduz-se num “desenvolvimento excessivo da glândula mamária no homem, resultando na presença de um nódulo (que poderá ser doloroso) ou numa mama de tamanho acima do expectável”, explicou, em declarações ao Raio-X, João Martins, especialista em cirurgia plástica, estética e reconstrutiva.

Raio-X (RX) – Qual é a definição de ginecomastia?

João Martins (JM) – Ginecomastia é o termo utilizado para descrever o desenvolvimento excessivo da glândula mamária no homem, resultando na presença de um nódulo (que poderá ser doloroso) ou numa mama de tamanho acima do expectável – podendo ser equivalente ou superior ao da mama feminina -, o que traz grande desconforto, quer físico quer emocional. A ginecomastia pode desenvolver-se de diversas formas, umas mais expressivas que outras e existem vários sistemas de classificação. Um método simples é considerar três graus: o primeiro, o mais leve, quando atinge apenas as aréolas sem excesso de pele; o segundo quando há aumento global da mama sem ptose (queda) ou outras implicações; e o terceiro, o nível mais grave, quando a mama cresce e descai abaixo do sulco inframamário, até ao tórax (havendo neste caso um excesso de pele).

Esta alteração no corpo pode ter diversas causas, umas que têm a ver com o crescimento da pessoa e que, por isso, se podem arrastar um pouco, outras que se devem a situações esporádicas e que, por isso, decorrem num determinado espaço de tempo. Contudo, é certo que o aumento não durará para sempre, acaba por estagnar.

RX – Quais as causas?

JM – A ginecomastia, normalmente, surge por um desequilíbrio entre os níveis de estrogénio e de testosterona. Surge naturalmente em três fases da vida do homem: após o nascimento (por influência dos estrogénios que recebe da mãe), tendo resolução espontânea nas primeiras semanas ou meses de vida; na puberdade (fase em que há uma modificação nos níveis hormonais), com resolução normalmente 2-3 anos após o início da puberdade; e em idades mais avançadas, a partir dos 50-60 anos, por diminuição dos níveis de testosterona e aumento do tecido adiposo.

A ginecomastia pode também desenvolver-se de forma patológica, em casos de excesso de peso, toma de determinada medicação (esteroides anabolizantes, estrogénios, alguns medicamentos para patologia cardíaca), certos tipos de tumores, ou algumas doenças. Quando acontece por questões fisiológicas, esta situação pode até reverter-se sozinha, com o passar do tempo. Nas restantes situações, a ginecomastia requer tratamento cirúrgico e correção da causa (tratamento médico ou exclusão do agente causador).

RX – Como corrigir este desequilíbrio?

JM – Podem existir várias formas de tratar a ginecomastia – sobretudo de acordo com o seu grau – e cada caso deve ser estudado individualmente, para que o tratamento seja o mais adequado possível. Os tratamentos cirúrgicos mais comuns são a lipoaspiração e/ou a remoção direta nos nódulos de glândula mamária. Em casos moderados, e dependendo da consistência da mama, pode ser suficiente a lipoaspiração, mas em casos mais graves é frequentemente necessário que se realize um procedimento semelhante a uma mastectomia na mulher, para que se retire a gordura, o tecido mamário e a pele, que estão em excesso.

Trata-se de um procedimento que em casos mais simples pode ser realizado com anestesia local e durar cerca de 30 minutos, em casos mais extensos pode estar recomendada a anestesia geral ou sedação e o procedimento durar cerca de 60 a 90 minutos. Se realizada nas circunstâncias recomendáveis, é uma cirurgia simples e que pode ser realizada em regime de ambulatório, em que o paciente pode ter alta ao final do dia.

RX – Quando é que deve ser tratado?

JM – Depende de cada caso e da sua causa. Antes de avançarmos para uma cirurgia, há que analisar e perceber se é uma questão fisiológica, na qual é expectável que haja uma regressão espontânea, ou se estamos perante uma situação patológica que motivou esse aumento de volume mamário e se há necessidade de realizar outros exames ou tratamentos antes da cirurgia. Se for por uma questão fisiológica, em que o adolescente esteja em fase de crescimento, é aconselhável deixar que o adolescente se desenvolva totalmente a nível físico antes de se avançar com a cirurgia, mas é crucial um acompanhamento constante, para ir avaliando a sua evolução e perceber o impacto psicológico que a situação tem. Em casos de sobrepeso, por exemplo, é essencial alcançar e estabilizar o peso ideal por, pelo menos, seis meses.

RX – Depois do tratamento, o problema fica corrigido para sempre?

JM – O problema pode voltar, dependendo da sua causa: por exemplo, quando se trata de uma questão hormonal a probabilidade de voltar é maior. Por isso é que são tão importantes os exames iniciais, para que se possa perceber qual a real causa do problema e tratar também essa causa. Só aliando a parte estética ao tratamento do foco do problema é que podemos garantir que a ginecomastia fica resolvida.

RX – Que implicações tem ao nível da saúde e do bem-estar emocional?

JM – A nível de saúde física, o maior problema está associado à coluna, resultado de uma má postura, em que o homem inclina os ombros para a frente para tentar esconder o aumento da mama. Situações em que o crescimento da mama se dá apenas num dos lados acabam por trazer grande desequilíbrio ao corpo, resultando também em problemas associados à coluna. Dor e cancro da mama são também consequências associadas a esta condição, mas não são, de todo, situações comuns.

No entanto, as maiores repercussões notam-se no bem-estar emocional. Estas situações trazem um forte sentimento de vergonha e de perda de masculinidade, o que acaba por ter impacto da vida social, amorosa e familiar. E isto é ainda mais impactante nos adolescentes, numa altura em que deviam ir à praia com os amigos e não vão por vergonha, numa altura em que deviam praticar desporto e não praticam com receio do que os colegas possam dizer no balneário, entre muitas outras situações. É, por isso, importante reagir atempadamente e garantir que a situação é acompanhada desde cedo por um médico, para que se possa intervir na melhor fase e ajudar o adolescente a viver com maior conforto.

RX – Há dados que indiquem a percentagem de homens afetados por este desequilíbrio?

JM – Estima-se que cerca de 30-40% dos homens possam desenvolver ginecomastia. Este número pode ser mais elevado se tivermos em conta a “pseudoginecomastia”, que se refere ao acumular de tecido adiposo na mama, sem o desenvolvimento de verdadeiro tecido mamário, estando, assim, diretamente relacionado com a obesidade.

 

Por Rita Rodrigues

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