Desidratação nas crianças condiciona desenvolvimento físico e intelectual
Não só no Verão, mas durante todo o ano, as crianças são uma das principais populações de risco para a desidratação. Desde os lactentes aos adolescentes, o aporte de líquidos é fundamental para o adequado desenvolvimento físico e intelectual.
A desidratação nas crianças tem múltiplos efeitos sistémicos, desde limitações ao nível do desenvolvimento físico, a alterações do desenvolvimento cognitivo e do humor. “Uma criança mal hidratada terá sempre mais dificuldades de concentração, de aprendizagem, de desenvolvimento da linguagem e de consolidação da memória”, alertou Arturo Anadón, no âmbito do II Congresso Internacional e IV Congresso Espanhol de Hidratação, que reuniu cerca de 700 especialistas provenientes de 11 países, em Toledo, no passado mês de dezembro.
Segundo o professor catedrático de Toxicologia e Farmacologia da Universidade Complutense de Madrid, a desidratação pode ainda manifestar-se através de alterações do humor. “Adequadamente hidratada, a criança é, por natureza, dinâmica, curiosa, sociável, integrativa, desperta. Pelo contrário, se não está devidamente hidratada, a criança torna-se apática, estranhamente sossegada”, descreveu. Neste sentido, “enquanto prescritores do que comemos e do que bebemos, devemos estar informados sobre uma alimentação e hidratação adequadas, até mesmo para podermos educar os nossos filhos nesse sentido, desde as idades mais precoces”, recomendou. Assim, “não basta perguntarmos com frequência às crianças se têm sede. É importante que elas tenham ao seu dispor, em qualquer lugar onde se encontrem, um copo ou uma garrafa de água. Seja na escola, na praia, em viagem ou em casa”. E a água é, “sem dúvida” a melhor forma de hidratação nas idades pediátricas.
E os bebés que apenas se alimentam de leite materno, devem ou não beber água?
Este é um tema que tem gerado grande controvérsia, na medida em que alguns pediatras defendem que, por si só, o leite materno é suficiente para manter o bebé hidratado, enquanto outros não rejeitam a introdução da água na dieta destas crianças.
Na opinião de Arturo Anadón é importante que, em primeiro lugar, a mãe esteja bem hidratada. Aliás, “as mulheres grávidas e as que amamentam necessitam de um aporte de líquidos muito superior ao normal”.
“Adequadamente hidratada, a criança é, por natureza, dinâmica, curiosa, sociável, integrativa, desperta. Pelo contrário, se não está devidamente hidratada, a criança torna-se apática, estranhamente sossegada”, Aturo Anadón.
Depois, é frequente os bebés pedirem para mamar com mais frequência quando as temperaturas sobem. “Esse é um mecanismo de defesa contra a desidratação”. As mães que amamentam sabem que há fases em que os bebés mamam mais vezes por dia. “Isso acontece não porque sentem mais fome, mas eventualmente porque têm maior necessidade de se hidratar”. Ainda assim, e partindo do principio de que o leite materno será suficiente, o especialista não vê qualquer problema em dar água ao bebé lactente. “Em pequenas quantidades de cada vez, à temperatura ambiente e esterilizada”.
Já em idade escolar, os desafios são outros. Quando entram nas creches, infantários e até na escola, as crianças tornam-se mais suscetíveis às infeções virais gastrintestinais. “Com vómitos e diarreias, têm imensa facilidade em desidratar-se e aqui a ingestão de líquidos é ainda mais importante”. Por outro lado, “estas são idades hiperativas em que há um desgaste energético durante todo o dia, que exige um maior consumo de líquidos”.
Nos adolescentes os problemas atuais são diferentes. “São as idades em que surge o primeiro contacto com as bebidas alcoólicas e em alguns países, como é o caso de Portugal e Espanha, essa realidade está a tornar-se alarmante pois os jovens começam a consumir álcool em idades cada vez mais precoces. “O álcool é uma droga com efeitos tóxicos em todo o organismo e em todas as idades, mas especialmente na adolescência, que é uma fase de mudança, tanto a nível físico, como intelectual. Mais perigosa é a associação entre o desporto e as bebidas alcoólicas”.
Cátia Jorge
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