DGS emite orientação sobre doença por vírus Zika
No passado dia 10 de fevereiro, a Direção-Geral da Saúde emitiu uma orientação que esclarece sobre os procedimentos em caso de suspeita de infeção por vírus Zika e medidas preventivas, sobretudo para quem viaja para zonas onde a doença atingiu recentemente expressão epidémica, nomeadamente Barbados, Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Colômbia, Curaçao, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Fiji, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Ilhas Maldivas, Jamaica, Martinica, México, Nova Caledónia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Saint Martin, Suriname, Tailândia, Tonga, Venezuela e Ilhas Virgens (EUA).
A associação entre a infeção pelo vírus Zika durante a gravidez e casos de microcefalia em fetos e recém-nascidos, tal como a ocorrência de alterações neurológicas, está ainda sob investigação e, embora não tenha sido estabelecida uma relação de causalidade, a Organização Mundial da Saúde declarou no início deste mês que estas situações constituem uma emergência de Saúde Pública de âmbito internacional.
De acordo com o documento da DGS, “em Portugal, foram confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge, seis casos importados desta doença, cinco dos quais provenientes do Brasil e um da Colômbia. No plano clínico, todos os casos evoluíram favoravelmente”.
Do ponto de vista clínico, o período de incubação da doença varia entre três a 12 dias após a picada do mosquito fêmea infetado. Cerca de 80% dos casos de infeção são assintomáticos. Nos restantes, “os sintomas são semelhantes a outras infeções por arbovírus: febre, exantema que pode ser maculopapular, conjuntivite, mialgias, artralgias, mal-estar e cefaleias, sintomas normalmente ligeiros e que duram 2-7 dias”.
Além da picada direta pelo mosquito, o vírus Zika transmite-se por via perinatal, provavelmente por via transplacentária ou durante o parto quando a mãe está infetada; por via sexual, devida à presença de vírus no sémen; ou por via de transfusão de sangue ou derivados.
Procedimentos perante uma pessoa com suspeita de infeção por vírus Zika
Mulher regressada de área afetada:
- Em idade fértil:
- Se está grávida e apresenta sintomas compatíveis com doença por Zika, recomenda-se:
- Tratamento sintomático;
- Diagnóstico laboratorial;
- Realização de ecografia:
- Sem sintomas compatíveis com Zika, recomenda-se:
- Realização de ecografia:
- Se não está grávida, recomenda-se:
- Realização de tratamento sintomático;
- Evitar engravidar durante 28 dias.
- Se está grávida e apresenta sintomas compatíveis com doença por Zika, recomenda-se:
- Em idade não fértil é apenas recomendado o tratamento sintomático.
Se a mulher está grávida ou a planear engravidar deve ter alguns cuidados no caso de o seu companheiro ter regressado de uma área afetada.
As decisões individuais relativamente à adoção de medidas não contempladas nesta orientação são da responsabilidade do médico que acompanha a gravidez e devem ser analisadas caso a caso.
Homem regressado de área afetada:
- Se apresenta sintomas (suspeita de infeção por vírus Zika, com ou sem confirmação laboratorial):
- Realizar tratamento sintomático;
- Utilizar preservativo nas relações sexuais durante seis meses, à luz do princípio da precaução e segundo os conhecimentos atualizados.
- Se não apresenta sintomas: utilizar preservativo nas relações sexuais durante 28 dias.
Diagnóstico, tratamento e gestão de caso
Perante a suspeita de infeção por vírus Zika as amostras biológicas (sangue e urina) devem ser enviadas para o Instituto Ricardo Jorge ou para laboratórios com capacidade instalada para o diagnóstico.
De acordo com a Orientação da DGS, “o tratamento é sintomático, baseado principalmente no alívio da dor, na administração de antipiréticos e de anti-histamínicos (erupções pruriginosas). Recomenda-se reforço hídrico para compensar eventual desidratação associada à febre.
O tratamento com ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não-esteroides está desaconselhado por um aumento do risco de síndrome hemorrágico, bem como risco de síndrome de Reye após infeção viral em crianças e adolescentes.
Perante um doente com suspeita de doença por vírus Zika, o médico deve realizar a notificação imediata no SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica).
Medidas preventivas
A principal medida de prevenção é a proteção contra a picada do mosquito.
Recomenda-se, ainda, as seguintes medidas:
- Antes do início da viagem, os cidadãos devem procurar aconselhamento em Consulta do Viajante;
- As grávidas não devem deslocar-se, neste momento, para zonas afetadas. Caso tal não seja possível, devem procurar aconselhamento em Consulta do Viajante e seguir rigorosamente as recomendações dadas;
- As pessoas imunocomprometidas ou com doenças crónicas graves devem obter aconselhamento junto do seu médico antes de planear uma viagem a uma área afetada;
- Os cidadãos que se deslocam para áreas afetadas devem adotar medidas de proteção sexual, nomeadamente o uso do preservativo;
- No país de destino seguir as recomendações das autoridades locais;
- Assegurar proteção contra a picada de mosquitos:
- Utilizar vestuário adequado para diminuir a exposição corporal à picada (camisas de manga comprida, calças);
- Optar preferencialmente por alojamento com ar condicionado;
- Utilizar redes mosquiteiras;
- Ter especial atenção aos períodos do dia em que os mosquitos do género Aedes picam mais frequentemente (a meio da manhã e desde o entardecer ao pôr-do-sol).
- Aplicar repelentes observando as instruções do fabricante, fazendo notar:
- Crianças e mulheres grávidas podem utilizar repelentes de insetos apenas mediante aconselhamento de profissional de saúde;
- Não são recomendados para recém-nascidos com idade inferior a 3 meses;
- Se tiver de utilizar protetor solar e repelente, deverá aplicar primeiro o protetor solar e depois o repelente.
Os viajantes provenientes de uma área afetada que apresentem, até 28 dias após a data de regresso, sintomatologia sugestiva de infeção por vírus Zika, devem contactar a Saúde 24 (808 24 24 24), referindo a viagem recente.