José Cotter: “Um organismo que não esteja bem hidratado não funciona bem”
As IV Jornada Aquarius Ibérica e a IX Espanhola de Formação em Gastrenterologia decorreram este ano em Valência e voltaram a reunir internos dos dois países com o objetivo de partilhar experiências e conhecimento entre os dois lados da fronteira. José Cotter, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), foi um dos palestrantes da sessão realizada no Oceanográfico de Valência e realça a importância de médicos das duas nacionalidades poderem partilhar as melhores práticas.
Raio-X – Qual o balanço que faz desta IV Jornada Aquarius Ibérica e a IX Espanhola de Formação em Gastrenterologia?
José Cotter – Termos a presença de 200 jovens no auditório é por si só uma marca de sucesso e demonstra que estas Jornadas, em termos de atualização e de formação, têm representado, para os jovens internos, um marco importante a nível ibérico. Para além do convívio, a parte científica é determinante pois debatem-se assuntos controversos que estão na ordem do dia, e isso é muito importante na formação dos jovens porque tem aplicabilidade clínica, até porque estas jornadas têm um cariz eminentemente prático. Portanto, estes internos levam daqui mais-valias que certamente vão aplicar na prática clínica diária.
José Cotter, presidente da SPG
RX – Como tem decorrido esta parceria entre Portugal e Espanha no âmbito da Gastrenterologia?
JC – É sempre uma experiência interessante, porque são dois países muito próprios mas que têm experiências também elas próximas. Apesar de hoje a informação estar muito facilitada com os meios que todos conhecemos, na Medicina continua a existir a necessidade de um contacto pessoal para troca de experiências, algo que ainda não é substituído pelas novas tecnologias. Portanto, a presença neste tipo de jornadas permite precisamente essa troca de experiências, esse debate, que é muito interessante e altamente informativo.
RX – Assistimos a uma sessão dividida entre uma parte marcadamente mais científica e outra onde foram abordados os temas da hidratação e da nutrição. O que lhe pareceu esta divisão de conteúdos e quais os temas a destacar?
JC – É já habitual haver esta divisão entre temas mais científicos de cariz gastrenterológico e uma de cariz mais virada para a nutrição e hidratação. Tem sido uma fórmula de sucesso, mais uma vez atestada pela presença de inúmeros jovens, portanto não havia razão para mudança.
RX – Como classifica a presença portuguesa em mais esta edição?
JC – Temos tido na SPG a preocupação de comunicar este evento para os internos dos primeiros anos, de os convidar, e este ano mais uma vez a adesão foi significativa.
RX – Durante as Jornadas deste ano também se abordou o tema da hidratação. Qual a sua relevância para a Gastrenterologia?
JC – É um tema muito importante porque um organismo que não esteja bem hidratado não funciona, ou pelo menos não funciona bem. E a Gastrenterologia, sendo uma especialidade muito extensa, que abrange todo o tubo digestivo, o fígado, o pâncreas, as vias biliares, precisa que todas essas estruturas tenham um funcionamento pleno. E para isso é essencial uma boa hidratação. A hidratação é uma ponte que nos permite falar noutros temas científicos, mas há depois algumas patologias onde a hidratação tem um papel ainda mais importante, como é por exemplo o caso das pancreatites agudas. Nomeadamente nas primeiras 48 horas, quando é fulcral a questão da hidratação e mais determinante que qualquer terapêutica medicamentosa, que é ainda escassa. Podemos mesmo dizer que a hidratação é a principal terapêutica nestes casos.