Viver e morrer com sofrimento não é algo que tenha que acontecer
“Viver e morrer com sofrimento não é algo que tenha que acontecer” é o lema deste ano para o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos
Mais que uma frase é um desafio que nos leva a refletir sobre o final das nossas vidas, sejamos fetos, crianças, jovens, adultos ou idosos, doentes ou saudáveis. O sofrimento não faz parte da condição humana, pelo que deve ser mitigado.
Sabemos que em todo o mundo mais de 90 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos, sendo que em Portugal serão cerca de 86 mil pessoas a que se juntam cerca de 250 mil familiares e amigos, que são também beneficiadores diretos destes cuidados.
Todos esperam de nós uma abordagem pragmática, sem qualquer tipo de corporativismo e baseada na melhor evidência científica. Sem esta última os cuidados paliativos jamais conseguirão ocupar o lugar que merecem nas áreas técnico-científicas do cuidar em saúde.
Sabemos que em todo o mundo mais de 90 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos, sendo que em Portugal serão cerca de 86 mil pessoas a que se juntam cerca de 250 mil familiares e amigos
Nesta área, Portugal, tem uma resposta insuficiente tanto em termos de recursos organizacionais como humanos e que que acresce a iniquidade geográfica no acesso, com regiões acima do necessário e outras sem qualquer tipologia de recurso. Tal não deve acontecer. Todos os cidadãos à luz da Constituição da República têm os mesmos direitos.
Avanços foram acontecendo. Temos uma Lei de Bases, temos uma Comissão Nacional de Cuidados Paliativos e um Plano Estratégico para o biénio 2017-2018 em discussão pública.
No entanto, um longo caminho ainda está por percorrer, até porque como diz o lema deste dia Mundial, não devemos viver com sofrimento, sendo que este é na sua maioria e generalidade evitável.
Avanços foram acontecendo. Temos uma Lei de Bases, temos uma Comissão Nacional de Cuidados Paliativos e um Plano Estratégico para o biénio 2017-2018 em discussão pública
Neste sentido, é preciso de uma vez por todas reorganizar o SNS, no qual se incluem os Cuidados Paliativos, não destruindo tudo o que já está feito, não começando do zero, não tentando redescobrir a roda, mas aproveitar o que de bom existe interna e externamente, replicar com as adaptações estreitamente necessárias, não esquecendo que no centro de toda e qualquer decisão devem estar os doentes e suas famílias e não qualquer tipo de outro fator que apenas nos mostrem e disponibilizem falsos cuidados paliativos que não respeitam os desejos, vontades e preferências dos doentes, sempre numa abordagem biopsicossocial e espiritual devidamente integrada.
Assim, estas efemérides, existem para celebrar e também para alertar. Aqui importa celebrar e homenagear os doentes, suas famílias, profissionais de saúde e voluntários, que tudo fazem para que esta fase da vida aconteça sem o sofrimento que se pode evitar e que não é suportável pelo doente. Que fazem deste período um hino à vida. São assim os nossos heróis e não os derrotados pela doença. A vida pela vida, pela qualidade e dignidade. Mas também, são um grito de alerta pois este assunto a todos diz respeito, pois a morte é inalienável da vida e é bom que nos prepararemos para ela. Morrer é uma realidade, não é um direito mas viver com dignidade e qualidade é um direito e é possível, desde que disponibilizemos os cuidados técnica e cientificamente mais competentes as estes doentes e suas famílias. Está nas nossas e suas mãos alterar para melhor o presente, pelo que não nos podemos acomodar.
Este dia é, desta forma, também um desafio para todos nós.
Opinião de Manuel Luís Capelas, PhD
Professor no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
Codiretor do Observatório Português dos Cuidados Paliativos
Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos