Área Reservada

Tromboprofilaxia no doente com cancro: quando e como?

Tromboprofilaxia no doente com cancro: quando e como?

A associação entre doença tromboembólica venosa e cancro é bem conhecida da comunidade médica e afeta de modo significativo a qualidade de vida dos doentes com cancro. Para além do próprio cancro, a trombose é a segunda causa de morte nestes doentes e a sua incidência tem aumentado nas últimas décadas.

Um episódio de trombose implica anticoagulação prolongada com consequente risco de complicações hemorrágicas, pode ter implicações no tratamento da doença oncológica e consome recursos de saúde não negligenciáveis. A melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da trombose associada ao cancro e a consciência do impacto negativo que os episódios de doença tromboembólica tem dos doentes, dirigiu a atenção para as estratégias de prevenção do tromboembolismo.  A abordagem ideal para a profilaxia no doente oncológico ainda não está perfeitamente estabelecida, mas os estudos científicos publicados indicam que a anticoagulação profilática com recurso a heparinas de baixo peso molecular reduz a incidência de complicações trombóticas.

O risco de trombose é variável com o tipo de cancro, é maior no início da doença ou quando existe doença metastática e aumenta durante o período em que os doentes são submetidos a quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. Estes fatores devem ser considerados pelos clínicos na avaliação inicial da doença oncológica e os doentes devem ser alertados para a possibilidade do risco de ocorrência de trombose. A informação inicial deve ser verbal, mas a disponibilização de informação escrita pode ser útil. Devem ser explicitados os sinais de alarme para ajuda no diagnóstico de tromboembolismo para facilitar a valorização de sintomas pelos doentes, permitindo o diagnóstico precoce e a rápida intervenção terapêutica. Paralelamente devem ser discutidas estratégias de prevenção de acordo com as diferentes situações clínicas.

O risco de trombose é variável com o tipo de cancro, é maior no início da doença ou quando existe doença metastática e aumenta durante o período em que os doentes são submetidos a quimioterapia, radioterapia ou cirurgia.

A prevenção pode incidir no doente internado por motivo médico, no doente que vai ser submetido a uma cirurgia e ainda abranger doentes em regime ambulatório com alguns tipos de cancro ou com terapêuticas específicas que aumentam muito o risco de trombose. Medidas gerais de profilaxia devem ser valorizadas como a deambulação ativa e a hidratação, mas a instituição de medidas farmacológicas nos doentes cirúrgicos e médicos com doença aguda que justifique internamento é recomendada para a maioria dos doentes oncológicos que, de acordo com a avaliação de risco, são classificados como tendo alto risco ou risco moderado para tromboembolismo.  A instituição de profilaxia farmacológica é um procedimento simples, seguro e não dispendioso. Em termos de saúde pública a análise de custo-eficiência revela-se vantajosa evidenciando que é melhor prevenir do que tratar a doença tromboembólica.

Luísa Lopes dos Santos
Diretora do Serviço de Imuno-Hemoterapia do IPO do Porto