Prémio de Gastrenterologia atribuído a Joana Torres por investigação sobre colite microscópica
O Prémio Nacional de Gastrenterologia 2016 foi atribuído a Joana Torres, médica gastrenterologista do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, pelo trabalho “Expressão do recetor Farnesóide X na colite microscópica: um possível papel na fisiopatologia da doença”.
O trabalho incidiu sobre um tipo de doença inflamatória do intestino que se denomina colite microscópica. A colite microscópica (CM) é uma forma de doença inflamatória intestinal idiopática, que causa diarreia não sanguinolenta, afetando especialmente doentes idosos. A doença pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes, devido ao aumento do número de dejeções, presença nas urgências, incontinência, diarreia noturna e, por vezes, perda ponderal.
Antes considerado um diagnóstico raro, a CM é atualmente considerada a causa de diarreia crónica em 4-13% dos casos. Os estudos epidemiológicos referem um aumento da incidência da CM, atingindo, nalguns países, frequências comparáveis com as formas mais comuns de doença inflamatória intestinal, como a doença de Crohn e colite ulcerosa. Vários estudos mostraram que a maioria dos doentes responde à terapêutica com corticóides, mas estima-se que cerca de 13% dos apresentem um curso recidivante com necessidade de terapêutica imunossupressora e, raramente, cirurgia.
Sendo uma doença sobre a qual se tem acumulado conhecimento de forma relativamente recente, a investigação sobre CM tem-se focado principalmente sobre a incidência, as características clínicas e história natural da doença, através de estudos epidemiológicos.
No entanto, ainda há muitas questões por responder sobre a sua causa (etiologia e patogenia) que até agora permanece desconhecida, sendo provavelmente multifatorial. Neste trabalho, Joana Torres procurou estudar o papel dos sais biliares na fisiopatologia da doença, nomeadamente, o papel do principal recetor de sais biliares (Recetor Farnesóide X) na doença. Observou-se que os doentes com CM apresentam uma expressão bastante diminuída deste recetor em relação a doentes controlo, o que abre a possibilidade de explorar fármacos agonistas deste recetor no tratamento de doentes mais refratários.
O Prémio Nacional de Gastrenterologia, o mais importante da especialidade em Portugal e também o mais vultuoso, tem como finalidade distinguir trabalhos científicos inéditos, de excelência no âmbito da gastrenterologia, tendo em vista a prossecução dos objetivos científicos da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.