Violência contra pessoas idosas: APAV considera que os dados ainda não representam a realidade
Assinala-se hoje o Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas. A propósito da ocasião, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) divulgou um relatório estatístico que concluiu que a violência contra idosos aumentou 30% em Portugal.
Entre 2013 e 2016 existiu um aumento de 34% de pessoas idosas a recorrerem aos serviços da APAV e 30% dessas foram vítimas de algum tipo de crime, sendo as mulheres as principais vítimas. Este aumento de casos, bem como os registados pelas estatísticas oficiais da justiça, não refletem a realidade diariamente vivida, como esclarece Maria Oliveira, assessora técnica da direção da APAV: “Achamos que os nossos dados são só uma amostra daquilo que acontece na sociedade e do que as pessoas idosas são alvo. Estatisticamente, estas pessoas não fazem a queixa crime formal. Muitas vezes, e por isso é que também recorrem à APAV, é muito difícil denunciar um filho ou filha”. Os agressores são na maioria os filhos (39,6%), o cônjuge (26,5%), mas também há casos em que são os vizinhos (4,4%) e os netos (36%).
Na maioria dos casos, as vítimas são mulheres (79,5%), com idades entre os 65 e 69 anos (26,8%), casadas (42,8%), a viverem numa família nuclear com filhos (31,7%) e, para além disso, muitas das situações de violência acontecem em casa (48,9%): “são situações que ocorrem durante muitos anos, dizem os números deste estudo: ou de dois a seis anos, o que já são muitos anos, ou ainda situações com 40 ou mais anos”. São crimes que deixam principalmente consequências psicológicas, “não só ao nível da baixa auto estima, como também o trauma psicológico da vitimização”, explicou a assessora técnica.
A APAV considera que a consciencialização da população conduziu ao crescimento do número de pessoas apoiadas mas as barreiras mentais, a dificuldade de acesso e compreensão da informação, a dependência, a vergonha e a fragilidade persistem. Por isso, e também devido à perceção pouco generalizada do problema que dificulta o alcance dos objetivos, a associação juntou-se uma vez mais à iniciativa anual da International Network for Prevention of Elder Abuse (INPEA), assinalando este dia.
“Os profissionais de saúde têm um papel chave”
Tanto como canal de denúncia como forma de apoio psicológico, os profissionais de saúde são, muitas vezes, os primeiros a conhecer a história da vítima. Como explicou Maria Oliveira, é importante que estes saibam o que é a violência e o crime exercido contra as pessoas idosas: “é importante explicar que é de crime que estamos a falar, que indicadores existem e que podem chamar à atenção para a existência de um crime e, por fim, quais são os direitos e os serviços aos quais as pessoas idosas podem recorrer”.
Defendeu a assessora técnica que tem que ser feito um trabalho de forma articulada entre as várias entidades da saúde, da justiça, segurança social e das organizações que apoiam estas vítimas, de forma a prevenir e combater o crime e violência contra pessoas idosas.
Por Margarida Queirós