Prof.ª Doutora Bárbara Parente: “Tratar o cancro do pulmão é uma arte”
Face às inovações que, ao longo da última década, têm marcado uma evolução na abordagem terapêutica diagnóstica e terapêutica do cancro do pulmão, este foi um dos temas incontornáveis do 2nd Update in Clinical Oncology. Numa sessão moderada pela Dr.ª Maria Cassiano Neves e pelo Dr. Francisco Félix a Prof.ª Doutora Bárbara Parente fez uma revisão das mais recentes evidências desta doença que continua a ocupar o topo das patologias oncológicas com maior impacto em termos de mortalidade.
Não se trata de uma, mas sim de um conjunto de doenças que estão, em 85 a 90% dos casos, relacionadas com o consumo de tabaco e que tendem a desenvolver-se em indivíduos geneticamente predispostos. O cancro do pulmão está dividido em dois grandes subtipos: o carcinoma celular de pequenas células e o carcinoma celular de não pequenas células. Este último é o mais comum e pode ainda ser subdividido em carcinoma de células escamosas ou epidermoide, adenocarcinoma ou carcinoma de grandes células.
Com base num diagnóstico histológico, é possível determinar qualquer um destes tipos de tumor, assim como algumas características moleculares que ajudam a definir a estratégia terapêutica mais adequada para cada doente.
“No nosso entender, atualmente, tratar o cancro do pulmão é uma arte, associada a um senso médico muito grande, tendo em conta os sólidos conhecimentos necessários para tratar uma área que nos surpreende quase todos os dias com novos dados e informações científicas, mercê dos resultados de múltiplos ensaios clínicos”, afirma a Prof.ª Doutora Bárbara Parente. Por outro lado, adianta a pneumologista do Hospital CUF Porto e Coordenadora Norte do Instituto CUF de Oncologia “é também fundamental não esquecer que cada caso é um caso. Os nossos conhecimentos têm diariamente de ser ajustados ao nosso doente”.
Cirurgia, quimioterapia, radioterapia são os tratamentos convencionais do cancro do pulmão, contudo, o aparecimento de terapêuticas dirigidas a alvos moleculares específicos permitiu um avanço significativo em termos de sobrevivência e de qualidade de vida. “Sem dúvida as terapêuticas dirigidas abriram um novo mundo, particularmente para os doentes com cancro do pulmão avançado, já que, para a doença precoce continuamos a ter a cirurgia como a grande arma terapêutica”.
Mais recentemente, a imunoterapia, baseada em tratamentos que têm como missão dotar o sistema imunitário de capacidade para combater mais eficazmente as células tumorais, trouxeram uma “grande esperança no futuro próximo”. Para tal, falta ainda descodificar quais os biomarcadores que ajudam a eleger os doentes respondedores a estes tratamentos.
O grande problema do tratamento do cancro do pulmão continua a residir no diagnóstico tardio. Na maior parte dos casos, os sintomas surgem quando a doença já está em fase avançada, para a qual são mais escassas as soluções terapêuticas. “Se, efetivamente, aos cinco anos ainda não conseguimos mudar muito o paradigma da sobrevida na doença avançada, mudamos sim, sem dúvida, nos primeiros anos após o diagnóstico e mudamos, indiscutivelmente, a qualidade de vida dos nossos doentes quando efetuam terapêuticas menos agressivas, mais eficazes e com mais comodidade.
De acordo com a Prof.ª Doutora Bárbara Parente, o tratamento do cancro do pulmão está em mudança e exige, da parte de todos os profissionais envolvidos, uma atualização constante. “Só o deve tratar quem o souber fazer”. Neste contexto, “o médico nunca deve tomar uma atitude de forma isolada, mas sim em grupo, procurando sempre a melhor solução para cada doente”.
Prof.ª Doutora Bárbara Parente, Dr.ª Maria Cassiano Neves e Dr. Francisco Félix