Tele-saúde: Uma inovação na forma de cuidar?
Opinião de João Tiago Pereira, Cardiopneumologista
As mais recentes evoluções tecnológicas ao nível das comunicações permitiram o desenvolvimento de produtos e serviços, que alteraram a forma como interagimos, como realizamos as pesquisas, como escolhemos e compramos determinado serviço e/ou produto.
Na área da prestação de cuidados de saúde, a revolução digital permitiu criar um espaço cada vez mais relevante para a tele-saúde, que consiste na utilização de ferramentas de comunicação digital para cuidar à distância, mantendo os doentes crónicos ou idosos no conforto da sua casa, recebendo apoio sem necessidade de se deslocar a um hospital ou centro de saúde. A tele-saúde pode ser facilitada através de dispositivos móveis (telemóveis, tablets, entre outros) com capacidade para recolher dados dos doentes (sinais vitais/fisiológicos) e correlacionando com sinais e sintomas, permitindo a correlação dos dados recebidos com os sintomas do doente.
Vários modelos de prestação destes cuidados têm vindo a ser testados e sugerem que a tele-saúde pode, realmente, fazer a diferença nos doentes. As patologias crónicas são as que mais podem beneficiar porque, entre outras coisas, caracterizam-se por uma menor qualidade de vida e uma baixa sobrevida, deste modo e nestes doentes, os dados recolhidos são enviados para um centro de gestão clínica, composto por uma equipa multidisciplinar (cardiopneumologistas, enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos). Esta equipa tem a responsabilidade de monitorizar os dados enviados diariamente pelos doentes e desta forma, evitar agudizações da doença, deslocações às urgências, internamentos desnecessários e ao mesmo tempo poupar tempo ao médico, sendo que estes profissionais dedicam-se inteiramente à triagem e análise destes dados e encaminham-nos para o especialista apenas nas situações que efectivamente o justifiquem.
Este modelo desenvolvido de forma estruturada, envolvendo diferentes níveis de triagem da informação recolhida, tem impacto na qualidade de vida do doente, porque lhes dá acesso a um suporte clínico de proximidade, através de uma gestão integrada de sinais, sintomas e de sinais vitais com a potencialidade de contribuir para uma menor utilização dos serviços de saúde (urgências, internamento e consultas), sem sair de casa, ou seja, adequando os cuidados de saúde ao contexto particular de cada indivíduo.
Por outro lado, o doente assume um papel central na gestão da sua doença com apoio, sempre que necessário, dos profissionais de saúde.
Por outro lado, o doente assume um papel central na gestão da sua doença com apoio, sempre que necessário, dos profissionais de saúde. Neste modelo de gestão da doença crónica, os doentes continuam a ter acesso ao seu médico, bem como aos cuidados de saúde mais indicados. Os cuidados de saúde primários continuam a ter o seu papel neste modelo, visto constituírem um elemento importante nestes programas, porque estão mais próximos dos doentes permitindo, quando indicado, acesso aos cuidados hospitalares. Esta forma de cuidar permite que o a gestão da doença crónica seja feita, sobretudo, através de cuidados de proximidade.
Para o sistema de saúde, como um todo, a tele-saúde, permite reconhecer padrões de exacerbação da doença crónica, capacitando o doente para uma melhor gestão da sua doença, recorrendo menos ao seu hospital (urgências, internamentos, entre outros.), contribuindo para uma gestão eficiente dos recursos dos sistemas de saúde.
A inovação nos cuidados de saúde nestes doentes, centra-se em três dimensões: tempo, local e recursos. Estamos em contacto com os doentes de forma mais frequente, o doente mantém-se na sua casa, recorrendo menos aos cuidados hospitalares.