Demência: qual a importância de explicar às crianças o que se passa com o avô/a avó?
A demência pode colocar alguns desafios às famílias e à sociedade em geral. É muitas vezes difícil saber a natureza da informação que devemos comunicar às crianças. O instinto dos pais é, muitas vezes, o de proteger as suas crianças de situações potencialmente dolorosas. No entanto, é importante explicar-lhes o que se passa com o avô/a avó pelas seguintes razões:
- As crianças apercebem-se facilmente de mudanças no seu ambiente, pelo que explicitar o que se passa pode ajudar a tranquilizá-las;
- Pode ser um alívio para a criança saber que os comportamentos “diferentes” do avô/da avó são atribuíveis a um quadro patológico, logo não são dirigidos especificamente a ela;
- Observar as outras pessoas a lidar com uma situação complexa como esta pode ajudar a criança a adquirir competências que lhe permitirão, no futuro, gerir situações com uma carga emocional semelhante.
De que forma posso comunicar às crianças o que se passa?
É importante ser o mais honesto possível. Deve adaptar o conteúdo linguístico à idade da criança e tranquilizá-la sempre que esta manifestar sinais de ansiedade. Tente incentivar a criança a fazer perguntas depois de lhe explicar a informação mais factual e não hesite em partilhar com ela os seus próprios sentimentos e pensamentos.
Pode optar por dizer algo deste género: “Quando ficas doente, podes ter tosse ou febre. O cérebro da avó está doente e, por isso, não está tão bem.”
Recorrer a estímulos visuais com ilustrações ou animações pode ser uma boa forma de abordar os temas mais complexos, tais como a doença, a incapacidade e a morte.
Aqui ficam duas sugestões:
- O Pequeno Elefante Memo: Pode adquiri-lo na loja online da Alzheimer Portugal
E depois de comunicar tudo isto?
Toda a gente reage de forma diferente a situações emocionalmente complicadas. Esteja atento aos seguintes sinais e, sempre que possível, encoraje a criança a expressar aquilo que está a pensar e a sentir. Reporte os sinais ao pediatra se considerar que a sua frequência ou intensidade são anormais:
- Sintomas de ansiedade (pesadelos, dificuldade em adormecer, comportamentos desafiantes, dores sem explicação aparente);
- Diminuição do rendimento escolar;
- Estar aparentemente bem (se a criança não demonstrar interesse pela situação do avô/da avó ou se estiver mais contente do que o habitual);
- Estar muito tristonho/chorar muito;
- Envolver-se demasiado no cuidado do avô/da avó com demência (querer ajudar é saudável desde que não interfira com o processo de desenvolvimento da criança).
A criança pode ficar também com a preocupação de que outros membros da família, nomeadamente os pais, possam também vir a ter demência no futuro. Procure falar abertamente com ela sobre este assunto e peça a um profissional de saúde que lhe explique o risco genético de vir a desenvolver demência.
Um estudo de 2010 da University of Oxford tentou perceber de que forma é que a demência afecta a relação entre avós e netos. O que é interessante é que as crianças podem continuar a ter uma relação positiva com os avós desde que estejam reunidas as condições necessárias para tal.
Promover uma interacção saudável entre netos e avós exige algum esforço da parte dos pais, o que nem sempre é fácil, considerando que muitas vezes eles próprios estão encarregues de cuidar do pai/da mãe com demência. Ainda assim:
- Assegure-se de que os momentos que a criança passa com o avô/a avó com demência são agradáveis para ambos – ir passear, ouvir música, brincar, fazer um Livro de Memórias;
- A criança deve saber que o seu envolvimento na vida do avô/da avó é benéfico e muito valorizado;
- Esteja atento a situações que possam perturbar a pessoa com demência e esteja preparado para explicar e tranquilizar a criança se estas acontecerem na sua presença.
Porque não aproveitar o fim-de-semana para incentivar os seus filhos a fazer um presente para a avó/o avô com demência?
Numa folha de cartolina/papel, ajude-os a escrever e preencher a seguinte informação:
- [nome do(a) neto(a)] fez este cartão para [nome do(a) avô/avó]
- Este(a) sou eu na fotografia: (imprimir e colar uma fotografia da criança)
- O que eu mais gosto de fazer consigo/contigo é: (exemplo: andar de barco, cozinhar, brincar, ir à praia)
- Aqui está um desenho que eu fiz para si/ti: Desenho da criança a realizar a sua actividade preferida com o avô/a avó
Mãos à obra, divirtam-se e votos de maiores felicidades a todos os avôs/avós!
Revisão Clínica: Margarida Rebolo
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