A importância da patologia molecular
O Prof. Fernando Schmitt, professor de Patologia da FMUP e investigador do IPATIMUP, foi o convidado das Conferências CUF 2017 para uma palestra sobre a importância da patologia molecular no diagnóstico, prognóstico e predição do tratamento em diferentes tipos de cancro.
“Hoje em dia vemos o cancro de forma diferente”, começou por afirmar o especialista, lembrando que no passado o diagnóstico era feito somente ao microscópio e os tratamentos eram generalizados, avançando depois para uma fase em que os tratamentos eram mais particularizados para diferentes tipos de cancro, chegando-se finalmente aos dias de hoje:
“Atualmente grande parte dos tratamentos está direcionada para determinadas alterações moleculares que podem aparecer em diferentes tipos de cancro. Esta abordagem passou a ser o denominador comum do tratamento. Não o tipo de cancro mas antes a alteração molecular que eles apresentam”, explicou o investigador do IPATIMUP, que frisou que esta abordagem molecular é cada vez mais importante, especialmente em cancros avançados que metastizam ou que recidivam.
“Há algum tempo era difícil encontrar alternativas perante as modificações do cancro. Mas hoje temos instrumentos para estudar estes cancros que recorrem e que podem ser tratados de forma diferente da primeira vez. Esse facto tem melhorado o tratamento e, consequentemente, a sobrevida dos doentes”, realçou o especialista, exemplificando com os dados que são conhecidos do cancro do pulmão.
“Eram doentes que há 20 anos, ao final de 5 anos, apenas 10% estavam vivos, mas que hoje, com os avanços feitos, já chegam a mais de 50%. O mesmo acontece no cancro da mama. Há, portanto, um aumento da sobrevida e da qualidade de vida destes doentes.”
O FUTURO
Reconhecendo que este é um campo em constante evolução, o Professor Fernando Schmitt considerou que os próximos anos poderão ser determinantes desde que seja feita uma aposta na investigação:
“É essencial que se descubram mais alterações e que estes tratamentos possam ser ainda mais eficazes, pois a chave do sucesso é o conhecimento de como o cancro se forma e utiliza diferentes mecanismos para progredir, que era algo que até recentemente era desconhecido.”
Quanto à situação nacional, o investigador admitiu que o nosso país tem acompanhado a realidade europeia, principalmente no que diz respeito às políticas de saúde publica.
“Os medicamentos ainda são extremamente caros, mas felizmente no SNS grande parte deles já são comparticipados, assim como os testes. É um caminho a aprofundar, mas é importante que os doentes comecem a ter acesso às novas tecnologias”, concluiu.
Paula Borralho e Fernando Schmitt