Dia Mundial da Hipertensão: é importante melhorar o diagnóstico, o conhecimento, o tratamento e o controlo da doença.
No dia em que se comemora a efeméride do Dia Mundial da Hipertensão, o Raio-X divulga um artigo de opinião de Manuel Carvalho Rodrigues, Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, entidade que tem vindo a desenvolver várias ações com vista ao diagnóstico,conhecimento, tratamento e controlo da hipertensão.
Ao longo da sua existência a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) tem desenvolvido vários tipos de ações tendentes a melhorar não só o diagnóstico, mas também o conhecimento, tratamento e controlo da hipertensão em Portugal. Este tipo de ações concentram-se em dois vetores essenciais: a informação, destinada à população em geral e, de que o Dia Mundial de Hipertensão é o seu expoente máximo e, a formação, destinada aos profissionais de saúde, sendo o nosso Congresso anual o seu expoente máximo. Pelo meio temos ainda o Summer School destinado a jovens médicos com interesse nesta área e, desde a tomada de posse desta Direção, uma dedicação muito especial e muito atenta à adesão ao tratamento.Passe a imodéstia, mas considero que esta aposta no lema da adesão à terapêutica mostrou-se, uma vez mais na história da SPH, uma ideia pioneira, já que nessa altura ninguém falava neste assunto e, hoje é preocupação generalizada, fazendo parte de qualquer evento científico na área do risco cardiocerebrovascular. Há já quem diga que grandes investigadores e opinion leaders falam hoje daquilo que nós já falamos há mais de um ano.
Na adesão à terapêutica, tida como forma de melhorar o controlo da hipertensão, devemos ter em linha de conta dois tipos de conceito: Adesão tida como o processo de cumprimento integral da medicação prescrita e a Persistência, tida como o processo de manter a prescrição integral ao longo do tempo, ou seja, não chega cumprir por um determinado período de tempo, é preciso cumprir ao longo do tempo. Sabe-se que este processo é hoje considerado como nuclear para o sucesso do melhor e maior controlo de doenças como a hipertensão. Sem ela, não haverá níveis adequados de controlo da hipertensão, o que quer dizer, apesar de medicados, estes doentes continuam em risco de acidente cardiocerebrovascular.
Porque este é o nosso lema e a nossa preocupação, iremos realizar no final de Junho um simpósio monotemático todo ele dedicado ao problema da adesão terapêutica.Contamos com a ajuda de reconhecidos experts estrangeiros na matéria, que nos ajudarão a melhor situar a nossa realidade e a apontar caminhos para uma maior adesão / persistência.Estamos plenamente convictos que depois de termos iniciado uma luta contra o consumo de sal e, a qual continua em curso, temos agora de centrar a nossa atuação na problemática da adesão à terapêutica.Todo este processo terá de ser acompanhado com uma política que conduza a que consigamos mais e melhor com menos comprimidos.
O futuro passará inexoravelmente pela criação da polypill. Este conceito diz respeito a ter num só comprimido a possibilidade de tratar mais do que um fator de risco cardiocerebrovascular. Distingue-se assim das chamadas single pill combination em que mais que uma substância ativa se encontra dentro de um comprimido, mas destinado a um só fator de risco cardiovascular. Sendo importante na hipertensão, temos de perceber que ser-se hipertenso é também, na maioria dos casos, ser-se dislipidémico ou diabético. Tratar mais que um fator de risco com um só comprimido é melhorar a adesão através de uma fórmula terapêutica simples, eficaz e cómoda.
Este é o caminho do futuro. Este é o presente que queremos desde já discutir.É preciso mudar este paradigma de morrermos por causa de uma doença evitável. É preciso que as nossas autoridades, de uma vez por todas, aceitem que, caro é morrer por uma doença evitável, perder anos de vida e não permitir acesso a uma terapêutica que por ser simples, cómoda e eficaz promove a adesão e a persistência terapêuticas.