Equipa de investigação do Porto pretende “desvendar os mecanismos subjacentes à doença óssea no mieloma múltiplo”
Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) recebeu uma bolsa de 15 mil euros pela vitória do projeto “Vesículas Extracelulares e microRNAs como novas ferramentas de diagnóstico e terapia para Lesões Ósseas em Mieloma Múltiplo” que se propõe a desvendar os mecanismos subjacentes à doença óssea associada ao mieloma múltiplo, potenciando o desenvolvimento de novas terapêuticas. A investigadora principal é Maria Inês Almeida.
“O mieloma múltiplo (MM) é uma doença maligna com causas desconhecidas que afeta os plasmócitos, na medula óssea. Estas células malignas proliferam descontroladamente e produzem anticorpos não funcionais”, disse ao Raio X a investigadora. Estima-se que em todo o mundo existam “cerca de 120.000 novos casos por ano” e, em Portugal, “500 novos casos anuais”. O MM representa cerca de 1% de todos os tipos de cancro. Esta patologia “é mais prevalente em indivíduos com idade superior a 60 anos, embora possa surgir a partir dos 40”. O tratamento do MM dependerá sempre do “estádio e da evolução da doença assim como dos sintomas que cada doente apresenta”. Maria Inês Almeida afirma que, “na última década, as taxas de sobrevivência têm vindo a aumentar significativamente devido às melhorias terapêuticas”. No entanto, “a perda de massa óssea causada por esta doença, leva a um aumento do número de fraturas e a uma diminuição da qualidade de vida dos doentes”, garante a investigadora. As células de MM alteram “a homeostasia do osso, causando um aumento da atividade das células responsáveis pela reabsorção do tecido ósseo, que não é acompanhada pela formação de novo osso, levando a um desequilíbrio do microambiente ósseo”, descreve. É, pois, a esta vertente do MM que se destina a Bolsa de Investigação atribuída pela Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), pela Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) e pela Amgen Biofarmacêutica à equipa vencedora que vai agora desenvolver uma nova linha de investigação, de forma a “desvendar os mecanismos subjacentes à doença óssea no MM”.
Em simultâneo, este estudo destina-se também a “encontrar terapias para estas lesões ósseas, de forma a aumentar a sobrevida dos doentes e a sua qualidade de vida”. A investigadora adianta ainda que outro dos objetivos deste projeto passa por “explorar a comunicação entre os diferentes tipos celulares que existem no osso, utilizando os microRNA, que são uma classe de pequenas moléculas reguladoras da expressão génica que não codificam proteína, e que sabemos estarem envolvidas no início e na progressão do MM”. Esta parte do estudo será desenvolvida em colaboração com “o oncologista Herlander Marques, do Hospital de S. Marcos, em Braga, e investigador no CINTESIS com o apoio de Susana Santos e de Mário Barbosa, ambos do i3S/INEB”.
O financiamento que resulta desta Bolsa, garante a investigadora, “vai permitir desenvolver uma linha de investigação que alia o estudo da biologia e do microambiente do osso à oncologia, numa lógica conjunta de terapia e de diagnóstico”. Maria Inês Almeida deixa claro que “desvendar os mecanismos moleculares associados ao Mieloma Múltiplo e caracterizar o microambiente tumoral, incluindo o seu efeito no osso, é importante para identificar novos alvos terapêuticos, o que vez contribuirá para novas terapias, cada mais específicas e personalizadas”, conclui.
Por Rita Rodrigues