Vamos falar de hipotiroidismo? Conheça melhor este distúrbio da tiróide
A tiróide é uma pequena glândula, em forma de borboleta, que está localizada no nosso pescoço e é responsável pela produção das hormonas tiroideias. Estas hormonas têm a função de regular o metabolismo, sendo essenciais para o normal funcionamento de todos os órgãos e sistemas. Em Portugal, cerca de 10% da população sofre de algum distúrbio da tiróide. O hipotiroidismo é um desses distúrbios e resulta da produção insuficiente, ou mesmo ausente, de hormonas tiroideias. Estima-se que a prevalência em Portugal seja de “cerca de 8-10%, sendo mais prevalente no sexo feminino” afirma Filipa Alves Serra. Em entrevista ao RaioX, a endocrinologista do Hospital CUF Descobertas fala-nos de causas, sintomas, tratamentos e formas de prevenção do hipotiroidismo.
RAIO-X (RX) – Qual é a causa do hipotiroidismo?
Filipa Alves Serra (FAS)– A principal causa de hipotiroidismo é autoimune (tiroidite de Hashimoto) em que, anticorpos circulantes (anti-peroxidase e anti-tiroglobulina) provocam inflamação e consequente destruição das células da tiroide. Tal como acontece com outras doenças autoimunes, a tiroidite de Hashimoto é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. A carência de iodo, a radioterapia cervical ou o tratamento com iodo radioativo são outras causas de hipotiroidismo. Alguns fármacos como a amiodarona ou o lítio podem também provocar disfunção da tiróide, estando indicada a vigilância. Em situações mais raras a origem do hipotiroidismo pode ser a nível da hipófise ou hipotálamo por falta de estímulo para a tiróide produzir as hormonas, o chamado hipotiroidismo central, geralmente associado a tumores da hipófise, cirurgia ou radioterapia cerebral anterior.
RX – Como é feito o diagnóstico desse descontrolo sendo que, muitas vezes, alguns sintomas são associados ao estilo de vida?
FAS – De facto, por vezes os sintomas são pouco específicos. O cansaço, por exemplo, pode ter múltiplas causas. No entanto na presença de cansaço persistente e falta de energia deve ser feita uma avaliação de possível disfunção tiroideia. O diagnóstico é feito com análises de sangue com o doseamento da TSH e da T4. Em termos laboratoriais caracteriza-se por uma redução da T4 com elevação da TSH. O termo hipotiroidismo subclínico utiliza-se quando há uma elevação da TSH com níveis normais de T4.
RX – Quais são os sintomas deste distúrbio?
FAS – O hipotiroidismo tem como sintomas mais frequentes: cansaço, falta de energia, intolerância ao frio, pele seca, cabelo quebradiço e diminuição dos batimentos cardíacos. A doença compromete o corpo de forma global e por isso os sintomas são muito variados, expressando-se diferentemente em cada indivíduo. Alguns doentes são assintomáticos ou valorizam pouco os sintomas, sobretudo os que têm doença menos intensa ou de curta duração. Em casos mais graves com doença arrastada não tratada e doentes mais idosos podem surgir alterações cognitivas, tonturas e mesmo coma em casos mais extremos. Uma queixa comum é a redução do apetite, no entanto cerca de 2/3 dos doentes têm aumento de peso. Este aumento de peso, é geralmente ligeiro a moderado, resultante da lentificação do metabolismo e da retenção de líquidos e não se associa a obesidade grave.
A nível do sistema digestivo a obstipação e distensão intestinal são queixas comuns nestes doentes. Em termos metabólicos é frequente a elevação do colesterol, com aumento da LDL e consequente aumento do risco cardiovascular.
Nas mulheres pode levar a irregularidade menstrual e falta de ovulação, podendo levar a uma redução da fertilidade. Importa ainda realçar que o hipotiroidismo pode ser um fator de risco para a depressão e por isso deve ser feito o despiste desta patologia quando surgem sintomas como humor deprimido, alterações do sono ou da memória.
RX – Em que consiste o tratamento e o controlo desta patologia?
FAS – Em geral o tratamento faz-se com a reposição hormonal com levotiroxina em toma única em jejum, verificando-se melhoria dos sintomas em poucas semanas. De seguida, é feita uma vigilância após 2-3 meses do início da terapêutica e o intervalo de seguimento varia consoante a idade, a fase da vida e a existência de outras doenças ou toma de outros fármacos. É importante um seguimento regular em consulta com ajuste das doses, em especial nas mulheres em idade fértil, crianças e pessoas com doença cardíaca e polimedicados.
RX- É possível prevenir este tipo de distúrbio?
FAS – É imprevisível o início da doença, não sendo possível fazer uma prevenção. No entanto existem alguns fatores associados a um risco aumentado para o desenvolvimento de hipotiroidismo devendo estas pessoas fazer uma vigilância, nomeadamente: a presença de doenças autoimunes, como o Lúpus, a artrite reumatoide, a doença celíaca ou o vitiligo; familiares em 1º grau com este tipo de doenças; história de radioterapia da cabeça e pescoço; Trissomia 21; presença de nódulos da tiroide ou história familiar de disfunção tiroideia.
RX – Há um número que indique o número de pessoas portadoras de hipotiroidismo, em Portugal?
FAS – O hipotiroidismo é uma doença comum, estimando-se que a prevalência em Portugal é de cerca de 8-10%, de acordo com um estudo feito no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Este número está de acordo com a prevalência a nível mundial. Sabe-se também que a prevalência é superior no sexo feminino.
Por Rita Rodrigues