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Portugal regista um aumento do consumo de ansiolíticos

Portugal regista um aumento do consumo de ansiolíticos

Segundo dados revelados pelo Infarmed, no ano de 2017, os portugueses compraram 10,6 milhões de embalagens de ansiolíticos, cujo consumo apresentava uma tendência para a quebra desde 2015, e 8,4 milhões de embalagens de antidepressivos, mais 427 mil do que no ano anterior. Da mesma forma, aumentaram também as vendas de antipsicóticos usados em situações de doença mental grave.

Face a estes dados, o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, Miguel Xavier, em declarações ao Jornal Público, revela que Portugal consome quase o dobro da média europeia destes medicamentos e está quase a atingir um ponto em que “quase não há respostas para além das farmacológicas”. Para esta situação, o psiquiatra relembra que os médicos de família, por diversas vezes, não têm ao seu dispor os recursos necessários para tratar os doentes sem recorrer a medicamentos “recebem os doentes e não têm para onde os referenciar e o que fazem? Medicam!”, explica.

Por sua vez, Francisco Miranda Rodrigues, afirma que, em Portugal, se trabalha essencialmente “na remediação em vez da prevenção” e é esse estereótipo que tem de ser alterado.  O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses assegura que há uma necessidade emergente de organizar as respostas na área da saúde mental que não passa exclusivamente pelo recurso a psicofármacos. A grande preocupação dos especialistas é o elevado consumo de ansiolíticos após uma fase em que houve uma significativa diminuição resultante dos inúmeros alertas para a recorrente procura destes fármacos tranquilizantes que levam, muitas vezes, à dependência. Álvaro Carvalho, antigo diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, afirmou, em 2017, que o consumo destes fármacos estaria, na altura, a atingir “níveis de risco para a saúde pública” e sugeriu uma solução imediata: “a diminuição da comparticipação estatal deste tipo de medicamento”.

A nível financeiro, o bastonário da Ordem dos Psicólogos afirma, com base em dados de 2016, que Portugal gasta quase 600 mil euros por dia com a aquisição de psicofármacos. “É muito dinheiro, mesmo sabendo-se que a prevalência de perturbações mentais é muito elevada”. Nesse sentido, a saúde mental tem que começar a ser reconhecida como prioridade e a aposta deve partir da deteção e intervenção precoces.

A Organização Mundial da Saúde, para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental, escolheu o tema “Os jovens e a saúde mental num mundo em mudança” sendo que é exatamente nesta faixa etária que aparecem metade das perturbações mentais e é crucial os jovens estarem preparados para lidar com este tipo de problema.

Por Rita Rodrigues