Dia da anemia: relação entre esta patologia e o desporto ganha protagonismo
Estima-se que 20% da população portuguesa sofra de anemia, um problema ao qual nem os atletas escapam. Mas ainda que para este grupo faltem estudos capazes de identificar a prevalência da doença, explica Hélder Dores, especialista em Cardiologia Desportiva do Hospital das Forças Armadas e da NOVA Medical School, estudos internacionais confirmam que a prevalência da “anemia e deficiência de ferro é superior em atletas do que na população geral saudável”.
No dia da anemia, que se assinala hoje, 26 de novembro, a relação entre este problema de saúde e o desporto ganha protagonismo, sobretudo em forma de alerta, uma vez que muitos são os casos em que, sem sintomas, a anemia é apenas detetada em exames de rotina. Um problema que “pode afetar a prática de desporto, bem como qualquer atividade física na população geral. Em atletas de elevado nível competitivo, nos quais todos os pormenores contam, a anemia afeta significativamente o seu rendimento”, explica Hélder Dores. “Entre outras, manifestações típicas da anemia como o cansaço e taquicardia têm uma influência óbvia, precipitando estados de exaustão e dificultando a fase de recuperação. Por outro lado, a anemia e a deficiência de ferro afetam outros sistemas como o sistema imune e outras funções fisiológicas, com impacto na prática desportiva.”
É, por isso, reforça o especialista, “importante detetar precocemente estas alterações hematológicas e se necessário implementar estratégias preventivas e tratamentos adequados”. No entanto, para isso é preciso estar sensibilizado. E, de acordo com Hélder Dores, os atletas não estão, “até porque as causas mais comuns de lesões, inaptidão ou contraindicação para a prática desportiva são musculoesqueléticas ou cardiovasculares. Este desconhecimento relativo à anemia deve ser semelhante à população geral, em que mais de 80% das pessoas com anemia desconhecem a sua existência”.
Até porque “a pesquisa de anemia não constitui uma rotina, exceto na presença de sintomatologia suspeita ou em determinados desportos de atleta de nível competitivo, em que a avaliação analítica é comum, incluindo sempre um hemograma”. Mas deveria ser, defende o especialista, que considera que, “no contexto competitivo atual, com início cada vez mais precoce da prática de exercício, exigências de treino superiores, volumes de exercício progressivamente maiores, número crescente de atletas femininas e o reconhecimento da importância do apoio nutricional e da suplementação dos atletas, a pesquisa de anemia faz todo o sentido”
Anemia no trabalho: uma realidade
Para além dos atletas, a anemia em Medicina do Trabalho pode ser outra forma da doença, aqui resultante “da exposição a vários fatores de risco no local de trabalho, o tipo de local de trabalho, a suscetibilidade individual, tempo de exposição/duração e intensidade da exposição”, refere Manuel Oliveira, especialista em Medicina do Trabalho no SMS.
“Existem múltiplos fatores de risco que podem desenvolver um quadro de anemia com os seus sinais e sintomas”, explica. E um deles é a exposição às radiações ionizantes e a alguns químicos ou tóxicos. “A radiação ionizante é toda a radiação que, ao interagir com a matéria, produz ionização da mesma e origina partículas de carga elétrica (iões). A radiação ionizante, ao atravessar as células vivas, vai produzir iões e radicais livres que rompem as ligações químicas e provocam alterações moleculares que afetam as células”, refere o especialista. E entre estas estão as células sanguíneas, “em particular as que originam os vários componentes do sangue e neste caso os glóbulos vermelhos, levando a anemia e posteriormente a quadros clínicos mais graves. A gravidade das situações depende se a exposição é aguda ou continuada ao longo do tempo”.
Segundo Manuel Oliveira, ainda que existam normas nacionais e internacionais de proteção no uso e contacto com estas partículas, a exposição existe e é, no mundo do trabalho, “um fator de risco de grande impacto na saúde de todos. As suas principais vias de absorção (respiratória, dérmica ou gastrointestinal) condicionam o seu modo de ação, levando a mecanismos hematotóxicos (sanguíneos), entre eles anemia aguda ou crónica, leucemias, linfomas e outras neoplasias, pela sua ação mielotóxica mesmo usados em baixas doses”.
Recorde-se que a deficiência de ferro é um problema de saúde generalizado, que afeta cerca de um terço da população mundial e um em cada três portugueses. Ainda assim, mantém-se pouco reconhecido, subdiagnosticado e negligenciado, apesar de ser um dos principais responsáveis pela anemia, doença que afeta um em cada cinco portugueses adultos (estudo EMPIRE).
Fadiga generalizada, unhas frágeis, perda de cabelo ou síndrome das pernas inquietas, falta de ar, maior suscetibilidade para infeções, aftas ou dores de cabeça são alguns dos sintomas, que as pessoas acabam por não valorizar. “É o que acontece, por exemplo, com o cansaço inexplicável, o sintoma mais comum a todos os quadros de anemia, que é sempre desvalorizado”, refere António Robalo Nunes.
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