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Cancro colorretal: “A biópsia líquida introduz melhorias significativas no acompanhamento clínico dos doentes”

Cancro colorretal: “A biópsia líquida introduz melhorias significativas no acompanhamento clínico dos doentes”

O cancro colorretal é o segundo mais prevalente em Portugal, a seguir ao cancro da mama, vitimando 11 portugueses por dia. Afeta, sobretudo, homens com 60 ou mais anos de idade. A prevenção e o diagnóstico precoce continuam a ser as grandes prioridades para um melhor controlo da doença e, neste contexto, Nuno Bonito alerta para a relevância do rastreio desta doença oncológica e revela a importância da biópsia líquida, especialmente neste tipo de tumor.

Leia aqui a entrevista do Oncologista do IPO de Coimbra.

davRaio-X (RX) – Quais são os fatores de risco associados ao cancro colorretal?

Nuno Bonito (NB) – Muitos dos fatores de risco desta doença estão associados ao estilo de vida “ocidental” caraterizado por uma dieta desequilibrada, pelo sedentarismo e pelo consumo de álcool e de tabaco. As mudanças nos hábitos alimentares, sobretudo a partir do início dos anos 80, são apontadas como uma das razões para o aumento da prevalência deste tipo de cancro.

RX – De que forma podemos prevenir este tipo de cancro?

NBA prevenção passa pela educação cívica e alimentar da população para a eliminação de alguns fatores de risco comuns. Estamos a falar do tabagismo, do excesso de peso, da falta de exercício físico, do excesso de consumo de álcool e sal.

RX – Quais são os sintomas de alerta para o cancro colorretal?

NB – Prevenção e mais informação são as melhores armas para evitar uma doença que nem sempre é silenciosa. Esteja atento: perda de peso e de apetite, fadiga, alterações do trânsito intestinal, perda de sangue nas fezes, fezes brancas e urina escura, tosse que não cede e dor abdominal e pélvica são alguns dos sinais de alerta que não deve ignorar.

RX – Como é feito o rastreio?

NBÉ de salientar a importância do rastreio do cancro do cólon e reto na deteção precoce de lesões tumorais, bem como de lesões precursoras, através da pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) ou através de exames complementares de diagnóstico como a colonoscopia.

Em caso de identificação do problema, o tratamento inclui a cirurgia e várias terapêuticas não cirúrgicas, entre os quais se destacam, mais frequentemente, a quimioterapia e a radioterapia.

RX – Como é feito o diagnóstico?

NB – Ao diagnóstico inicial aproximadamente um quarto dos doentes com CRC apresentam metástases e, ao longo da evolução da sua doença, eventualmente metade dos doentes irão metastizar, contribuindo para as altas taxas de mortalidade associadas ao CRC. A deteção precoce de metástases terá implicações importantes na abordagem de doentes com CRC, contudo os métodos de diagnóstico atuais não permitem obter informações sobre metastização de novo ou recidiva numa fase subclínica. Por conseguinte, são necessários novos métodos de diagnóstico para abordar essas questões e fornecer informações em tempo real sobre a eficácia da terapêutica que está a ser instituída.Os exossomas são vesiculas membranares que são secretadas por todo o tipo de células para o meio extracelular, sendo detetáveis nos fluidos corporais (ex: plasma, urina, líquido cefalorraquidio). Estas vesículas transportam DNA, RNA (mRNA e microRNAs) e proteínas que refletem o conteúdo das células de origem e condições em que foram produzidas. Vários estudos têm demostrado que as células tumorais são produtoras ativas de exossomas e que o seu perfil reflete as alterações que ocorrem nestas células. Isto tem como implicação a potencial utilização dos exossomas para obtenção de formas menos invasivas e potencialmente reproduzíveis, da caraterização dos tumores, nomeadamente do seu perfil molecular.A presença de DNA circulante (DNAc) no sangue pensa-se ser resultado da apoptose e necrose de células normais e tumorais, ou poderá resultar da secreção de células tumorais circulantes. As análises moleculares de DNAc (ex. status RAS) podem auxiliar na deteção precoce de clones tumorais resistentes aos fármacos instituídos e na seleção de novas terapêuticas.

Em suma, devido à seleção clonal, o tratamento do CRC necessita de abordagens terapêuticas multimodais e monitorização adequada da progressão tumoral e eficácia terapêutica. A biópsia líquida, envolvendo o uso de DNA circulante e os exossomas, pode oferecer uma alternativa não invasiva promissora para diagnóstico e monitorização em “tempo real” da evolução tumoral e resposta terapêutica comparativamente com a biópsia de tecido tradicional.

O papel da biópsia líquida

RX – Como é feita a biópsia líquida?

NBSão colhidas amostras de sangue periférico do doente aquando do diagnóstico e durante o seu seguimento de forma a avaliar a cinética dos níveis dos biomarcadores circulantes e consequente comparação com o perfil molecular do clone tumoral inicial obtido por biópsia de tecido convencional.

RX – Qual é a vantagem da biopsia líquida em relação à biopsia convencional?

NBA monitorização em “tempo real” da resposta terapêutica assim como deteção precoce de recorrência (pela deteção de doença subclínica) dado que a biopsia tumoral original pode não ser representativa da doença metastática pela existência de heterogeneidade intra-tumoral.

A biópsia líquida introduz melhorias significativas no acompanhamento clínico dos doentes, com consequente impacto na sua sobrevivência global.

RX – Há entraves à biópsia líquida?

NBOs principais entraves serão a não uniformização de critérios/ métodos relativamente à sua determinação.

É importante validar um método menos invasivo e mais fiável de efetuar o estudo mutacional de biomarcadores géneticos do CCRm, que venha a permitir a monitorização da resposta ao tratamento e a deteção mais precoce da progressão da doença.

RX – Qual é a importância da realização de uma biópsia líquida aos doentes recém-diagnosticados?

NBComo já disse anteriormente, é expectável encontrar uma elevada concordância entre o status mutacional no plasma sanguíneo e nas amostras de tumor primário e/ou metástases, assim como a possibilidade de estabelecer uma correlação com o processo evolutivo de progressão tumoral e de resistência à terapêutica. No entanto, isto pode não acontecer tendo em conta a heterogeneidade tumoral e/ou a representatividade do clone tumoral inicial obtida por biópsia convencional.

Também nos doentes metastizados, mas aos quais foram ressecadas as metástases, espera-se que a ausência de ctDNA tenha impacto no prognóstico, prevendo a inexistência de doença residual mínima, com maior potencial de controlo da doença.

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Por Rita Rodrigues