Osteoporose: uma prevenção que se inicia na infância
Artigo de opinião de Miguel Casimiro, Neurocirurgião e Presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV) que aborda a osteoporose, os fatores que lhe dão origem, e a importância de um diagnóstico precoce.
A cada três segundos, uma pessoa no mundo sofre uma fratura causada pela osteoporose. Estes são dados da Fundação Internacional de Osteoporose, que revela ainda que mais de 200 milhões de pessoas, a uma escala global, sofrerem deste problema. Perante estes números, importa refletir o que é a osteoporose e quais os fatores que lhe dão origem.
Caraterizada pela diminuição de massa óssea, a osteoporose é uma doença do esqueleto que enfraquece os ossos, ou seja, que retira qualidade e resistência às estruturas ósseas, tornando-as mais vulneráveis ao risco de fratura.
Durante os primeiros anos de vida, mais propriamente durante a infância e adolescência, dá-se um aumento progressivo da densidade óssea, que atinge o seu pico por volta dos 30 anos de idade, altura em que o indivíduo apresenta um esqueleto mais resistente. Após esse período, devido ao processo natural de remodelação dos ossos, a formação de massa óssea é ultrapassada pela progressiva perda de densidade óssea. Se o organismo não conseguir manter uma quantidade adequada de formação óssea, a degradação óssea tornar-se-á cada vez mais acentuada, resultando na osteoporose.
Esta é muitas vezes chamada de “doença silenciosa”, uma vez que os primeiros sinais surgem geralmente numa fase avançada da doença. A fratura é o primeiro sintoma. Como resultado de pequenos traumatismos ou, noutros casos, sem trauma evidente, a fratura osteoporótica é mais frequente nas vértebras, anca e punho. A osteoporose pode causar ainda dores intensas nas costas, diminuição da altura, deformação da coluna vertebral, alterações na postura com cifose progressiva (formação de corcunda) e cabeça e ombros descaídos para frente.
A osteoporose afeta cerca de um milhão de portugueses, atingindo 17 por cento das mulheres e 2,6 por cento dos homens. A diferença explica-se pelo declínio hormonal que ocorre durante a menopausa, que acentua a perda de matriz óssea. Para além do impacto desta doença na qualidade de vida dos doentes, as fraturas osteoporóticas podem ter graves consequências, nomeadamente a incapacitação grave do doente, ou até mesmo a mortalidade.
A probabilidade de vir a sofrer de osteoporose aumenta com a idade, mas a doença não é uma consequência inevitável do envelhecimento. As causas podem ser genéticas, associadas a uma baixa estatura e peso, baixo índice de massa corporal e a um historial familiar de fratura. No entanto, também o diagnóstico de outras doenças, como a artrite reumatoide, a utilização de medicamentos, como por exemplo derivados de cortisona, e estilos de vida não saudáveis potenciam o risco de doença. O escasso consumo de cálcio, tabagismo, o consumo excessivo de álcool e cafeína e o sedentarismo são também fatores de risco, que devem ser corrigidos precocemente.
Em relação ao tratamento, geralmente recorre-se à prescrição de medicamentos, em particular aqueles que são ricos em cálcio e vitamina D, ou substâncias que pretendem inibir a degradação já instalada e estimular a reposição de cálcio no osso e a formação óssea. Contudo, é mais fácil prevenir a perda de massa óssea do que restaurá-la.
A prevenção da osteoporose passa pela adoção de hábitos adequados que permitam aumentar a resistência do esqueleto e, por outro lado, reduzir ao mínimo a sua perda. Uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física são cruciais em todas as fases da vida, contribuindo para a obtenção de bons índices de massa óssea.
No que diz respeito ao exercício físico, este tem um papel importante na solidez dos ossos, no fortalecimento dos músculos, e na melhoria da postura e equilíbrio. Para o fortalecimento dos ossos, os exercícios que requerem esforço ao nível dos membros inferiores são aconselhados, como corrida, jogging ou natação. Já para a manutenção da força, são aconselhados exercícios com suporte de peso e impacto, como levantamento de pesos, saltar à corda, correr e subir escadas.
À medida que a idade avança, os benefícios da atividade física centram-se na redução do risco de queda. Depois de diagnosticada a osteoporose, dado o risco de fratura, nem todos os exercícios são recomendados, mas a solução não é ficar no sofá. Para abrandar a perda óssea e reduzir o risco de dor, atividades de baixo impacto como exercícios de resistência, natação e hidroginástica podem ser uma opção.
Na ocorrência de dor aguda e incapacitante da coluna, muitas vezes associada a pequenos traumatismos, (que podem decorrer de atividades simples do dia a dia), suspeite de uma fratura vertebral e contacte um especialista. Tratamentos para alívio da dor, por pouco agressivos que possam parecer realizados, sem o diagnóstico correto podem agravar mais a situação. O diagnóstico precoce de uma fratura aguda permite otimizar o tratamento e evitar deformidades progressivas mais difíceis de corrigir no futuro. O tratamento pode ser feito com recurso a medicamentos ou através de intervenções percutâneas relativamente simples. Após a primeira fratura, o risco de novas fraturas aumenta em cerca de cinco vezes, pelo que é fundamental a prevenção de microtraumatismos e iniciar o tratamento eficaz o mais rapidamente possível.
As fraturas osteoporóticas constituem um grave problema de saúde pública. Em 2050, a previsão de incidência mundial aponta para que o número de fraturas mais que duplique nas mulheres e triplique nos homens. Desta forma, a prevenção torna-se essencial e deve começar desde cedo. Consulte o seu médico de família ou um especialista para fazer o despiste precoce desta doença, especialmente se é mulher e se já atingiu a menopausa. Como em tudo, mais vale prevenir que remediar.
Este é um conselho da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral.