ERS: Atualização em doenças respiratórias reúne experts internacionais
A edição de 2019 do Congresso Anual da European Respiratory Society (ERS), que decorreu de 28 de setembro a 02 de outubro, em Madrid, reuniu mais de 20 000 especialistas na área da medicina respiratória de todo o mundo.
Um dos temas em foco no maior congresso internacional da medicina respiratória foi o perigo de dosagens prejudiciais de corticosteroides orais no tratamento da asma grave. Um estudo levado a cabo na Holanda revelou que um terço dos doentes com asma grave toma doses elevadas de corticosteroides.
“Os doentes com asma que utilizam doses elevadas de corticosteroides estão em risco de desenvolver diabetes, osteoporose ou insuficiência suprarrenal”, alertou Katrien Eger, principal investigadora e pneumologista no Amsterdam University Medical Centre. E acrescentou: “Os médicos devem estar atentos à prescrição de corticoterapia orais e avaliar a adesão a terapêuticas e técnicas de inalação nestes doentes. Além disso, existe atualmente um número crescente de fármacos biológicos para o tratamento da asma.”
Identificar mais rapidamente complicações da pneumonia
Outro dos estudos apresentados relaciona-se com a identificação de fragmentos específicos de material genético que desempenham um papel no desenvolvimento de insuficiência respiratória e sépsis em doentes com pneumonia.
“Existem pequenas moléculas, as microRNAs, que são fragmentos de material genético que regulam como os genes se comportam. Descobrimos que para cada tipo de complicação há um microRNA específico envolvido”, explicou Francisco Sanz, pneumologista no Consorci Hospital Universitari de València. De acordo com o investigador principal, uma vez detetado que o doente possui um determinado perfil de microRNAs, podem implementar-se medidas mais intensivas de suporte ou monitorização. “O teste é rápido – uma a três horas – e barato, e pode ser realizado com técnicas disponíveis na maioria dos hospitais”, rematou.
Correlação entre motoristas de camião e problemas respiratórios
Luca Roberti, presidente da Associação Italiana de Doentes com Apneia do Sono, recomendou que as empresas de transporte europeias sejam obrigadas a testar os motoristas quanto a problemas respiratórios relacionados com o sono, no âmbito de um inquérito realizado a 905 motoristas de camião italianos, que demonstrou que cerca de metade sofre de pelo menos um problema desta índole.
Quase 10% dos motoristas disseram que os seus parceiros notaram que às vezes paravam de respirar enquanto dormiam; 55% eram roncadores habituais; 43% estavam em risco de apneia obstrutiva do sono (AOS); 17% tinham pressão alta; e 6% diabetes. Dos 508 roncadores habituais, 15% também sofriam de AOS, o que sugere que a proporção de motoristas com AOS pode ser maior do que os 10% que sabiam à partida sofrer dessa condição.
“Este estudo observacional sublinhou a alta prevalência de AOS em motoristas de camião, maior do que na população em geral. Isto ocorre devido a um estilo de vida que força os motoristas a estarem sentados várias horas por dia, com pouca atividade e uma dieta pobre, levando a um maior risco de sonolência diurna e, consequentemente, de adormecerem enquanto conduzem”, ressalvou Luca Roberti.
Poluição atmosférica apresenta riscos graves para as crianças
A poluição do ar associada ao aumento do risco de mortes infantis e redução da função pulmonar em crianças foi outro dos temas em discussão. Um dos estudos apresentados foi liderado por Sarah Kotecha, investigadora na Faculdade de Medicina na Universidade de Cardiff, com base em dados de quase 8 milhões de nascimentos que ocorreram em Inglaterra e no País de Gales, entre 2001 e 2012.
Os resultados mostraram que três poluentes do ar – material particulado (PM10), dióxido de nitrogénio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), juntos e em separado, estão associados a um risco aumentado de 20 a 50% de morte para bebés nascidos nas áreas mais poluídas comparativamente com os nascidos nas menos poluídas. “Reduzir a poluição atmosférica para diminuir as mortes infantis continua a ser um desafio. Enquanto isso, ao compreendermos como a poluição afeta os bebés, tanto diretamente como por via da mãe, podemos ter como alvo terapêuticas apropriadas ou outras intervenções, dependendo da quantidade de exposição aos diferentes tipos de poluentes”, afirma Sarah Kotecha.
Por sua vez, Anna Hansell, professora de Epidemiologia Ambiental e Diretora do Centro de Saúde Ambiental e Sustentabilidade da Universidade de Leicester, no Reino Unido, apresentou resultados do UK Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), o maior estudo sobre o impacto de PM10 no crescimento e desenvolvimento dos pulmões, analisado a cada trimestre da gravidez, bem como durante a infância.
Concluiu-se que a exposição à poluição do ar do tráfego rodoviário desde o primeiro trimestre da gravidez e no início da vida está associada a reduções pequenas, mas significativas, da função pulmonar das crianças aos oito anos de idade. “É realmente importante priorizar a redução dos níveis de poluição do ar para melhorar a saúde respiratória. Num outro trabalho, também mostramos associações com a função pulmonar mais baixa na idade adulta, sugerindo que a poluição do ar contribui para o envelhecimento dos pulmões. A saúde pulmonar é um marcador de saúde geral e associada a inúmeras outras doenças crónicas”, salvaguardou Anna Hansell.
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Por Marisa Teixeira