Mulheres em idade fértil e o risco de anemia
As mulheres em idade reprodutiva, só pelo simples facto de o serem, correm um risco superior de vir a sofrer de anemia e deficiência de ferro. Fernanda Águas, Diretora do Serviço de Ginecologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, confirma que a anemia é um problema de saúde frequente nas mulheres em idade fértil “porque, ciclicamente, existe uma perda de sangue cujo volume pode variar entre 60 e 240 ml e, como tal, reflete-se negativamente nos valores da hemoglobina”.
A deficiência de ferro é, também aqui, a principal responsável pela anemia, mas pode existir sem a presença desta. De acordo com a especialista, “a deficiência de ferro, também denominada sideropenia, pode ser considerada como a etapa inicial deste processo porque antecede os quadros de anemia”. A sua deteção é tão simples como fácil, sendo feita através de análises de sangue, mais especificamente da determinação da ferritina sérica.
Apesar da incidência de anemia por deficiência de ferro nos países desenvolvidos atingir 20% das mulheres em idade reprodutiva, podendo chegar aos 40% no caso de hemorragias uterinas anormais, os médicos, ainda que estejam mais atentos, continuam sem dar a este problema a importância que merece. “No caso da patologia ginecológica associada a quadros de hemorragia, muitas vezes o foco do médico é na doença de base e o objetivo é resolvê-la rapidamente. Isto pode conduzir, por exemplo, à realização de cirurgias sem que previamente esteja acautelada a reposição da hemoglobina”, revela a médica. “Todos sabemos que operar uma doente com hemoglobina baixa faz aumentar a probabilidade de uma transfusão de sangue, que deve ser uma situação de último recurso para além de aumentar o risco das complicações pós-operatórias.”
Do lado das mulheres, a situação é equivalente, não sendo muitas vezes valorizadas as perdas de sangue excessivas nas menstruações, “pois há sempre alguma subjetividade desta avaliação, daí a importância de uma cuidadosa história clínica e do pedido de exames complementares sempre que necessário”, refere a médica. “Os sintomas de deficiência de ferro podem ser muito inespecíficos e gerar confusão com outras situações patológicas, quer pela mulher, quer pelo médico. Por outro lado, se vamos aguardar pelos sintomas típicos de anemia – cansaço fácil e a falta de forças – podemos deixar que se atinjam estados de anemia grave.”
É, por isso, importante que o ginecologista caracterize os ciclos menstruais da mulher e “corrija as hemorragias anormais e/ou excessivas. Na mulher jovem e na ausência de patologia orgânica, muitas vezes este objetivo é alcançado com a utilização de compostos hormonais, como por exemplo a pílula ou os dispositivos intra-uterinos com libertação de progestativo, muito eficazes no controlo das hemorragias uterinas”.
O tratamento da anemia e deficiência de ferro faz-se pela administração de compostos de ferro, sendo as formulações orais as de primeira linha. “Mas há que ter em atenção que muitos compostos de ferro oral são responsáveis por efeitos indesejáveis a nível gastrointestinal e, por isso, mal tolerados. Nestes casos, assim como nos de ineficácia do ferro oral e em situações de má-absorção, deve ser administrado ferro endovenoso”.