Dia Nacional do Doente Coronário: um tema de todos e para todos
No data em que se assinala o Dia Nacional do Doente Coronário, 10 de fevereiro, o Raio-X partilha um artigo de opinião de Francisco Araújo, Coordenador do Núcleo de Prevenção e Risco Vascular da Sociedade de Medicina Interna, que aborda esta temática.
As doenças cardiovasculares (DCV) continuam a ser a principal causa de morte em Portugal. Somos um país de sedentários, temos um número enorme de obesos e um em cada cinco adultos ainda fuma. Para além disso, cerca de 40% da população é hipertensa, dois terços (!!) têm colesterol elevado e há um milhão de portugueses com diabetes. Um cenário em que o caldo parece sempre pronto a entornar. Estes factores de risco condicionam a progressão da aterosclerose, a doença em que o colesterol se acumula nas artérias, com risco de enfarte, AVC ou de má circulação periférica, com maior hipótese de amputação por exemplo. A aterosclerose gera custos pessoais, familiares e sociais muito elevados. Um estudo recente realizado entre nós mostra que os custos da doença são astronómicos: cerca de 1900 milhões de euros que representam 1% do PIB ou 11% do total de despesas de saúde em Portugal.
A aterosclerose pode afetar os próprios vasos que irrigam o musculo cardíaco, as artérias coronárias, com risco de enfarte agudo do miocárdio. A doença coronária é uma doença crónica, que pode permanecer silenciosa e manifestar-se subitamente de formas diversas. Com dor no peito que pode estar associada ao esforço físico, frio ou emoções, ou mesmo pela oclusão de um dos ramos das coronárias provocando a falta de irrigação de parte do coração, condicionando o temível enfarte. O enfarte pode complicar-se de morte, ou deixar queixas de cansaço e/ou falta de ar com o esforço, aquilo que conhecemos como insuficiência cardíaca e que aflige já várias centenas de milhares de Portugueses.
A doença coronária é cada vez mais considerada uma doença crónica, evolutiva e não estável. Uma doença crónica em que se morre de forma aguda… Apesar de tudo, têm existido melhorias notáveis.
O segredo está no reforço da educação em saúde e na prevenção e controlo dos factores de risco. Neste campo, começa a notar-se uma prática mais generalizada de exercício físico e parece haver uma tendência na redução da obesidade. A prevenção da doença coronária, a chave do sucesso, tem mostrado resultados positivos, em parte pela maior consciencialização da sociedade para os comportamentos de risco, mas também pela qualidade dos medicamentos que temos hoje em dia, para o controlo da hipertensão, do colesterol ou da diabetes, que não só são mais eficazes, como têm menos efeitos secundários e demonstram muitos deles, reduzir os eventos cardiovasculares e a morte de causa cardíaca.
O tratamento da doença aguda, do enfarte do miocárdio, também tem evoluído imenso. A taxa de mortalidade intra-hospitalar é quase residual (3 a 4%), graças a processos de reconhecimento precoce e sinalização rápida dos doentes (a Via Verde coronária) e à generalização das técnicas de reperfusão cardíaca como as angioplastias que permitem a recanalização da artéria coronária obstruída.
Há ainda melhorias possíveis. É responsabilidade de todos. Dos políticos, permitindo que o usufruto do sistema de saúde esteja disponível e com qualidade para todos. Dos pais, educadores e meios de comunicação, educando para o conhecimento dos fatores e comportamentos de risco a evitar. Dos médicos de família, reconhecendo estes factores e tratando-os. Dos médicos hospitalares que vão desde o jovem interno de medicina que reconhece o enfarte no serviço de urgência de um hospital distrital ao cardiologista de intervenção que trabalha numa unidade num hospital central. Na verdade, é responsabilidade de todos os que trabalham na área da saúde, como os bombeiros e INEM que permitem poupar tempo que pode ser tecido cardíaco salvo no caso de um enfarte, dos enfermeiros que iniciam a reabilitação … É um tema de todos e para todos.