Sociedades médicas unem-se no apelo: crianças e jovens devem ser protegidos da manipulação da indústria tabaqueira
Anualmente morrem mais de 8 milhões de pessoas devido ao tabaco. Destes, mais de 7 milhões são fumadores e cerca de 1,2 milhões são não fumadores expostos ao fumo passivo, incluindo crianças, grávidas e idosos.
O tema deste ano da OMS para o Dia Mundial sem Tabaco, assinalado a 31 de maio, é dedicado à proteção das crianças e dos jovens contra a manipulação da indústria do tabaco, no sentido de não iniciarem o consumo do tabaco e/ou de produtos de nicotina.
O tabaco mata metade dos seus utilizadores e estes apresentam maior risco de contraírem uma doença grave e de falecer se contraírem COVID-19.
Todas as formas de tabagismo, desde os cigarros convencionais, os produtos de tabaco não combustível (tabaco aquecido) e os produtos com nicotina (cigarros eletrónicos), os cachimbos de água (shisha), promovem doenças cardíacas, vasculares pulmonares, cancros, diabetes, atraso no desenvolvimento das crianças, entre outras complicações.
As crianças e os adolescentes foram sempre os principais alvos de estudo de mercado das tabaqueiras. Já há mais de 30 anos, em 1969, um vice-presidente da Philip Morris afirmava: “(…) para o principiante, fumar um cigarro é um ato simbólico: já não sou criança, já sou um adulto, aventureiro e sei o que faço.” Só que o efeito da nicotina irá perpetuar adição. Para a indústria do tabaco, as crianças são o negócio do amanhã para substituir as gerações que morrem anualmente devido às doenças provocadas pelo tabaco.
A indústria do tabaco tem atraído crianças e jovens com várias estratégias, desde a utilização de sabores nos produtos do tabaco e de nicotina, o design elegante e atraente (stick USB), assim como produtos de risco reduzido e referindo que são alternativas mais saudáveis relativamente aos cigarros convencionais, mas sem evidência científica. Promovem também os seus produtos através das celebridades, em concursos, em festivais de música, mediante marketing nos espaços comerciais, bem como com a venda de cigarros avulsos e de outros produtos do tabaco junto às escolas e nos locais frequentados por jovens, sempre com anúncios atraentes.
Cabe em primeiro lugar ao Estado o cumprimento das medidas legislativas mais restritivas relativamente aos produtos do tabaco, à sua promoção e aos patrocínios, bem como às vendas na internet, nos eventos juvenis e nas redes sociais.
Aproveitando a situação atual que se vive no mundo, todas as sociedades deveriam promover a construção de hábitos saudáveis de vida, desde os pais, educadoras das infância, professores, profissionais de saúde, linhas de apoio telefónicos, os media, sempre alertando as crianças e os jovens sobre os perigos dos produtos de tabaco e de nicotina, para que os jovens sejam a primeira geração sem tabaco, melhorando a qualidade de vida e de saúde, salvando muitas vidas neste planeta e tornando-o mais ecológico.
Não podemos deixar que a indústria tabaqueira substitua os 8 milhões de consumidores que morrem anualmente devido ao tabaco, por 8 milhões dos nossos adolescentes.
Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Sociedade Portuguesa de Pediatria e Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar/Grupo de Estudo de Doenças Respiratórias são as entidades signatárias desta posição conjunta.