‘Faz o rastreio’: campanha da LPCC alerta para a importância da deteção precoce do cancro do colo do útero
Segundo os dados das autoridades de saúde nacionais, nos primeiros três meses do ano, e em relação ao período homólogo de 2019, verificaram-se menos 6,6% de consultas nos cuidados primários e menos 5,7% de consultas nos hospitais. Neste contexto, não sabendo quantas mulheres, em Portugal, deixaram de ir ao seu médico e de fazer o rastreio do cancro do colo do útero por medo do contágio da Covid-19, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) lançou a campanha ‘Faz o rastreio e alerta as mulheres da tua vida!’. Esta campanha, que conta com o apoio da Roche Sistemas de Diagnósticos, pretende não só alertar para a importância do rastreio, mas também aumentar o conhecimento da população geral sobre a relação entre o HPV e o cancro do colo do útero, desmistificando alguns factos comummente associados a uma infeção por HPV.
“De momento não há ideia do impacto do adiamento do rastreio do cancro do colo do útero, cujas repercussões se farão sentir daqui a alguns anos”, explica Daniel Pereira da Silva, especialista em ginecologia-obstetrícia e presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia. No entanto, acredita que “é ainda possível recuperar o tempo perdido. Tivemos uma pausa quase absoluta de três meses e tem agora de haver, por parte das autoridades de saúde, uma estratégia definida para que se possam recuperar estes meses”.
Com cerca de 500.000 novos casos e 300.000 mortes por ano em todo o mundo, o cancro do colo do útero foi diagnosticado em 750 mulheres portuguesas em 2018. Resultante de alterações celulares que ocorrem nas células da camada basal do epitélio do colo uterino, provocadas virtualmente em todos os casos por uma infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV), demora, em média, dez anos para se desenvolver. O que torna mais fácil a tarefa da prevenção, seja através da vacina ou do rastreio (citologia e/ou pesquisa de HPV).
De facto, em relação ao rastreio do vírus do papiloma humano é relativamente fácil deixar para depois, sobretudo na ausência de sintomas. “Notamos, nas nossas consultas, que ainda não estamos com uma retoma como se estivéssemos numa situação de absoluta normalidade”, refere o especialista, que acredita que “o ganho de confiança será progressivo”. E confirma que, embora natural, o receio que impede o acesso aos cuidados de saúde é infundado: “se obedecermos às regras definidas pela Direção-Geral da Saúde de uso de máscaras, de distanciamento e de lavagem e desinfeção regular das mãos, a probabilidade de infeção é baixíssima.”
Nos últimos anos tem-se assistido a uma progressiva redução da incidência e mortalidade do cancro do colo do útero em Portugal, facto que Daniel Pereira da Silva atribui, sobretudo, ao rastreio e, por essa razão, conclui: “a Covid-19 está entre nós e vai continuar nos tempos mais próximos. A vida é um todo e, por isso, devemos retomar, dentro da normalidade possível, os cuidados de saúde, cumprindo as regras que todos conhecemos, porque estão reunidas todas as condições para isso.”