#TodosContam para travar a transmissão do vírus da Hepatite C até 2030
Para assinalar o Dia Mundial das Hepatites, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Rui Tato Marinho, partilhou com o Raio-X um artigo de opinião em que reflete sobre a hepatite C e o objetivo de a eliminar até 2030.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu uma meta para que todos os países eliminassem a Hepatite C, identificada como uma grande ameaça à saúde pública, até 2030. Subjacente à prossecução deste objetivo está o compromisso de reduzir as mortes associadas à hepatite em 65% e o número de novas infeções crónicas em 90%.
A Hepatite C é uma condição inflamatória do fígado provocada pelo vírus da hepatite C (VHC) que, quando crónica, pode conduzir à cirrose, insuficiência hepática (fígado deixa de conseguir cumprir as suas funções) e cancro. Não há Vida sem fígado, não há nenhuma máquina que substitua o fígado, tipo ventilador para os pulmões ou diálise para o rim.
O facto de ser assintomática e silenciosa leva a que muitas pessoas desconheçam que têm a doença. Vivem com um vírus dentro de si, mas não sabem.
Assim, esta realidade torna a identificação exata do número de casos um grande desafio, o que, por sua vez, tem implicações no planeamento adequado da nossa intervenção para a interrupção da transmissão do vírus VHC, em termos de estratégia de saúde pública.
Logo, perceber o ponto de situação em que nos encontramos e identificar as falhas no diagnóstico da doença são os primeiros passos para alcançar esta meta até 2030. Em Portugal, estima-se que o número de infetados ronde os 40.000 e os dados mais recentes indicam que, desde 2015, ano em que Portugal tomou a decisão de tratar com Antivirais de Ação Direta (AAD) todas as pessoas infetadas por VHC, já foram autorizados cerca de 27.000 tratamentos, dos quais 26.000 já foram iniciados. Verifica-se ainda que, entre aqueles que já concluíram o tratamento, cerca de 97% estão curados. São os números nacionais. Fantástico!
Portugal tem, assim, conseguido ótimos resultados no tratamento da Hepatite C e tem igualmente prestado especial atenção aos grupos populacionais que apresentam uma elevada prevalência da infeção. Estamos a falar de consumidores de drogas, onde se atingem percentagens de 60-70%, trabalhadores do sexo, sem-abrigo e imigrantes. Mas cerca de 20-30% dos infetados não apresenta os ditos comportamentos de risco. Assim, basta estar vivo.
Estas são classes mais vulneráveis pois a identificação de novos casos e o respetivo tratamento pode ficar comprometido, uma vez não procuram por sua iniciativa os serviços de saúde. Consequentemente, esta situação pode gerar uma cadeia de infeções, dado que a possibilidade de transmitirem a infeção para outra pessoa aumenta.
Para reverter esta tendência, contamos com a ajuda das associações que, através de uma abordagem próxima a estes grupos, intervêm ao nível da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença, bem como contribuem para uma melhor compreensão dos números e do impacto da Hepatite C na comunidade.
Além disso, apostou-se também num novo modelo de prestação de cuidados de saúde que consiste em ir ao encontro destas populações através da deslocação dos profissionais de saúde. Dados recentes indicam, por exemplo, que esta dinâmica está a ser implementada em 34 dos estabelecimentos prisionais e que em outros 10 está a ser dado seguimento aos procedimentos para que tal aconteça no futuro.
Para travar a transmissão do vírus, com especial enfoque numa resposta eficaz para o acesso aos cuidados de saúde entre as populações mais vulneráveis, precisamos da colaboração de todos e de um esforço conjunto quer da ciência, das associações, dos profissionais de saúde, quer da comunidade. Esta é a mensagem que a Sociedade Portuguesa da Gastrenterologia (SPG) quer reforçar e transmitir no Dia Mundial Contra as Hepatites.
#TodosContam na luta contra as hepatites é o mote da campanha lançada pela SPG que pretende alertar para importância de uma ação conjunta neste caminho pela eliminação da Hepatite C até 2030. Queremos encontrar o Wally infetado com hepatite C. São 40.000 e estão à nossa volta. Temos que os encontrar, rapidamente.