“Osteoporose mata mais do que a COVID e a pandemia fará aumentar o número de vítimas”
No dia em que se assinala o Dia Mundial da Osteoporose, 20 de outubro, as sociedades profissionais de saúde e associações de doentes alertam para os desafios na gestão da osteoporose em tempos de COVID-19, apelando a que se retome o acompanhamento destes doentes e não se descure a prevenção das fraturas osteoporóticas, responsáveis pela morte de milhares de pessoas.
Num documento de tomada de posição sobre a “Gestão da Osteoporose Durante a Pandemia da COVID-19”, a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), a Sociedade Portuguesa das Doenças Ósseas Metabólicas (SPODOM), a Associação Nacional Contra a Osteoporose (APOROS) e a Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas (LPCDR) alertam que a osteoporose mata mais do que a COVID-19 e apelam aos serviços de saúde, às famílias em geral e aos cuidadores de idosos para que sejam reforçados, ao invés de esquecidos, todos os tratamentos e cuidados que visam prevenir a ocorrência de fraturas osteoporóticas. E lembram que o contexto de pandemia tem tudo para aumentar significativamente o número de vítimas da osteoporose.
“Estima-se que em Portugal morram, a cada ano, cerca de 1500 pessoas como consequência direta das cerca de 12.000 fraturas osteoporóticas da anca que ocorrem neste período.1 A semelhança deste número com o número de mortes por COVID-19 na população idosa (cerca de 1353 óbitos), observado no nosso país até junho de 2020, merece reflexão.2”, sublinha Luís Cunha Miranda, presidente da SPR.
António Tirado, presidente da SPODOM, destaca: “durante este período de pandemia não podemos descurar a avaliação clínica e o seguimento adequado dos doentes com osteoporose e com fraturas osteoporóticas. É urgente assegurar a recuperação dos recursos que foram suspensos devido à pandemia (consultas e exames), de forma que esta população idosa e vulnerável possa ter acesso ao sistema de saúde, impedir a interrupção da terapêutica para a osteoporose e mitigar o isolamento social e redução de atividade física. Pois, não podemos permitir que a COVID-19 aumente assim, indiretamente, o número das suas vítimas.”
De acordo com informação revelada pelo Ministério da Saúde, ficaram por realizar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) quase 1,4 milhões de consultas médicas, devido à pandemia.3 Terão sido também cancelados, em equivalente proporção, procedimentos complementares de diagnóstico e terapêutica. Paralelamente foi registado um aumento de faltas dos doentes às consultas médicas agendadas, provavelmente pelo medo da contaminação por SARS-COV-2.
Face a estes dados, António Tirado sublinha: “teme-se que muitos doentes com osteoporose tenham visto interrompido o seu seguimento e tratamento. O mesmo pode ter sucedido a doentes com fraturas, apesar do aumento de risco de morte que apresentam. Com efeito, entre 16 de março até ao final de abril de 2020 foram registados menos de 400.000 atendimentos urgentes, quando comparado com o mesmo período do ano anterior4.”
Elsa Frazão Mateus, presidente da LPCDR, revela que “devido ao isolamento social imposto pela pandemia muitos idosos têm-se visto obrigados gerir a sua terapêutica e alimentação sozinhos e a reduzir a sua atividade física e de reabilitação, assumindo atividades com maior risco de queda e de fraturas, o que poderá agravar os fatores de risco de fragilidade óssea e de fratura em caso de queda, bem como prejudicar a adesão à terapêutica da osteoporose.”
Viviana Tavares, presidente da APOROS, lembra que “as fraturas osteoporóticas são uma das principais causas de perda da independência funcional, de morbilidade e de mortalidade na população mais idosa5 e que todos os anos morrem em todo o mundo cerca de 740.000 pessoas em consequência de fraturas osteoporóticas da anca.5”
Por todos estes motivos, as instituições subscritoras reconhecem ser seu imperativo ético apelar aos serviços de saúde, às famílias em geral e aos cuidadores de idosos para que sejam reforçados, ao invés de esquecidos, todos os tratamentos e cuidados que visam prevenir a ocorrência de fraturas osteoporóticas. Recomendando em especial que o tratamento da osteoporose não seja interrompido e que se garanta o seu acompanhamento próximo, se necessário através de telemedicina.
Referências:
- A. Marques, Ó. Lourenço e J. A. P. da Silva, on Behalf of the Portuguese Working Group for the Study of the Burden of Hip Fractures in Portugal. The burden of osteoporotic hip fractures in Portugal: costs, health related quality of life and mortality. Osteoporos Int (2015) 26:2623–2630
- Direção Geral da Saúde [Internet]. Relatório de situação nº110. [Citado a 21.06.2020]. Disponível em: https://www.dgs.pt/em-destaque/relatorio-de-situacao-n-110-20062020-pdf.aspx
- Campos A. Quase 1,4 milhões de consultas ficaram por fazer no SNS por causa da pandemia. Público. 20 maio 2020. [Citado a 21.06.2020]. Disponível em: https://www.publico.pt/2020/05/20/sociedade/noticia/quase-14-milhoes-consultas-ficaram-sns-causa-pandemia-1917448
- Despacho No. 5314/2020. D.R. II Série. No. 89/2020 (2020-05-07).
- Rodrigues AM, Canhão H, Marques A, et al. Portuguese recommendations for the prevention, diagnosis and management of primary osteoporosis – 2018 update. Acta Reumatol Port. 2018; 43:10-31.