Maioria dos portugueses reconhece falta de apoio aos cuidadores informais por parte do Estado
A esmagadora maioria dos portugueses (97,5%) concorda que os cuidadores informais deveriam receber mais apoio por parte do Estado. Esta é uma das conclusões de um inquérito feito à população, uma iniciativa do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, que quis perceber de que forma é percecionado este papel de cuidador, bem como as ajudas que recebem aqueles que se dedicam a cuidar de quem amam. No Dia do Cuidador Informal alerta-se para a necessidade de mais apoios e ajudas, que visem colmatar as injustiças que continuam a existir.
Para Gonçalo Bento, assistente social na Liga Portuguesa Contra a Sida, entidade parceira do Movimento, “trata-se, sem dúvida, de um dado significativo que também ajuda a justificar a necessidade de ter sido criado recentemente o Estatuto do Cuidador Informal, reconhecendo a necessidade destes apoios”. E acrescenta que “a multiplicidade de esforços (a nível físico, psicológico, social, laboral), em necessária articulação com a vida pessoal dos Cuidadores Informais representam desafios na organização e gestão do tempo e dos recursos a que muitas vezes é difícil dar resposta com os poucos apoios existentes”.
Ao todo, mais de metade dos inquiridos (52%) revela conhecer algum cuidador informal, com quase três em cada dez (28,5%) a confirmarem que este papel é ou já foi também seu – 14% são cuidadores e 14,5% já foram.
Os dados não surpreendem Catarina Malheiro, da Associação Heróis e Espadachins – Profissionais de Saúde que Apoiam Doentes Oncológicos, uma das associações que integra o Movimento, que considera esta “uma profissão ainda bastante desvalorizada”, salientando a importância de “sensibilizar para a problemática da falta de apoio”, que é também uma missão do Movimento.
Gonçalo Bento concorda. “Ao longo da vida todos passamos por momentos ou fases em que temos de ser cuidadores e outras alturas em que também precisamos de ser cuidados. É por isso importante desenvolver uma consciência social coletiva que desperte para a importância dos Cuidadores Informais e para o papel que estes desempenham na vida das pessoas que cuidam.“ Este Movimento conta com vários parceiros com ampla experiência nas mais diversas áreas da saúde e por isso tem potencial para chegar a todo o tipo de populações e ser um veículo importante de informação e de apoio a todos os que desempenham o papel de cuidadores informais.”
“Se em 2018 estimamos que 8% da população portuguesa é cuidadora (800 mil cuidadores) agora os dados indicam uma quase duplicação desse valor (os dados deste estudo indicam 14%!!!)”, afirma Bruno Alves, da direção do Eurocarers, Bruxelas, coordenador Cuidadores Portugal. “Tal leva-nos a questionar se a pandemia e a ausência de respostas sociais, o encerramento de centros de dia e as dificuldades vividas na acessibilidade e acompanhamento dos serviços de saúde não estarão na base deste aumento exponencial. Este é um sinal de alarme social!”
Para Nélida Aguiar, da direção da Associação Nacional de Cuidadores Informais, membro da rede Europeia de Cuidadores Informais (EUROCARERS) – rede europeia que representa os Cuidadores Informais e as suas organizações, independentemente da sua idade ou das necessidades específicas de saúde e cuidados da pessoa de quem cuidam, “o fecho de muitas respostas sociais e serviços deu lugar a que houvesse um aumento no número de pessoas que passaram a ser cuidadores a tempo inteiro”, muitas das quais “em risco de pobreza e de exclusão social”. São, por isso, urgentes medidas de apoio. “A pandemia deve ser a alavanca para uma maior rapidez na operacionalização das medidas de apoio e não pode ser pretexto para os atrasos dos projetos-piloto”, acrescenta. “Esperamos contribuir para que a voz dos Cuidadores Informais seja cada vez mais representada a nível nacional e europeu.”
Bruno Alves considera o mesmo e confirma ser tempo de “agir rapidamente e operacionalizar ainda com mais celeridade o estatuto do cuidador e avançar igualmente noutras matérias como a concertação social para facilitar uma melhor conciliação trabalho e a prestação de cuidados, reforçar as respostas domiciliárias e institucionais, bem como, medidas para melhor apoiar os cuidadores informais não principais”.
Ainda de acordo com o estudo, os portugueses concordam que deve ser dada formação e capacitação ao cuidador informal para lidar com o doente, que é importante existir legislação laboral com medidas especiais para os cuidadores informais e que um cuidador precisa, periodicamente, de descanso e férias. Estão de acordo que cuidar de forma informal de um doente deve ser considerado uma atividade laboral e que há falta de reconhecimento do trabalho feito por estas pessoas.
“Os dados deste estudo tornam clara a necessidade do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, que pretende ajudar a colmatar algumas das necessidades confirmadas neste estudo. Uma iniciativa que a Merck, em linha com o seu propósito, ‘As One for Patients’, não podia deixar de apoiar”, refere Pedro Moura, Diretor-Geral da Merck Portugal. “Acreditamos que ajudando os seus cuidadores, estamos também a contribuir para melhorar a vida dos doentes.”
Os dados deste estudo vão estar em destaque hoje no Encontro Nacional de Cuidadores Informais, um evento que irá decorrer online e de forma presencial na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, organizado pela Associação Nacional de Cuidadores Informais. No encontro serão debatidos, entre outros temas, o papel do cuidador informal na sociedade, assim como os desafios nas políticas, Estatuto e medidas de apoio ao cuidador, contando com a presença de vários especialistas e ainda do Presidente da República.
O estudo foi realizado por via dos métodos CATI (telefónico) e CAWI (online) a uma base de dados de utilizadores registados na plataforma da multidados.com. Foram recolhidas e validadas 1800 respostas, entre os dias 17 a 27 de outubro de 2020. Taxa de resposta: 85,34%.
Margem de erro: ±3,5%, considerando p=q=50 e 95% de margem de confiança. Seleção aleatória, estratificada e polietápica dos pontos de amostragem e dos entrevistados, proporcional aos dados dos Censos do INE – 2011.