Sangue e tecido do cordão umbilical apresentam cada vez maior potencial no tratamento das doenças oncológicas
No âmbito do Dia Mundial da Luta contra o Cancro, que se assinala a 4 de fevereiro, a BebéVida, banco de tecidos e células estaminais, analisa as potencialidades terapêuticas através do sangue e tecido do cordão umbilical no tratamento das doenças oncológicas, de acordo com os último estudos e investigações desenvolvidas para o efeito. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o cancro é a segunda principal causa de morte, em todo o mundo, por esse motivo torna-se essencial a procura e desenvolvimento de novas terapias para o combate a esta patologia.
Um dos principais desafios dos doentes oncológicos é a fragilidade do seu sistema imunitário, uma vez que estes são doentes imunodeprimidos quer pela doença, quer pelos tratamentos mais frequentes como é o caso da quimioterapia e radioterapia. Com a finalidade de aumentar a imunidade dos doentes com cancro e para prevenir recaídas, ou prolongar o tempo de sobrevivência, recentemente foi feito um ensaio clínico com 130 doentes, voluntários, diagnosticados com diferentes cancros gastrointestinais em estádios II ou III no Hospital Universitário da Universidade Médica da Mongólia Interior e no Hospital de Reabilitação de Ordos (China) em colaboração com a Faculdade de Medicina da “University College London”[1].
Os voluntários foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos: um grupo a quem foi administrada uma infusão de sangue do cordão umbilical (alogénico) e o segundo grupo sem infusão do sangue do cordão umbilical (grupo de controlo). Este ensaio clínico demonstrou que a infusão do sangue do cordão umbilical aumentou o número de células T e B e promoveu um aumento da doença estável, reduzindo significativamente a doença progressiva. Os resultados deste ensaio contribuíram para um importante passo no prognóstico do cancro gastrointestinal, concluindo-se que a transfusão de sangue do cordão umbilical, apresenta efeitos reparadores nas células e tecidos danificados e podem reconstituir a imunidade prejudicada em doentes com cancro com imunossupressão.
Em 2019, foi também realizado um ensaio clínico de fase II com a participação de 25 doentes com leucemia mieloide aguda, com idades entre os 60 e os 74 anos, que avaliou o efeito da combinação de medicamentos, seguida de uma infusão de sangue do cordão umbilical. Os resultados deste ensaio demonstraram que o grupo em que foi administrada esta terapia, conjunta com o sangue do cordão umbilical (alogénico), obteve uma taxa de sobrevida geral e uma taxa de sobrevida livre de progressão maior que o grupo sem esta combinação. O resultado deste ensaio demonstra, uma vez mais, a utilidade e importância da utilização do sangue do cordão umbilical, em combinação com outras terapias, no combate às doenças oncológicas.[2]
No que diz respeito ao cancro do ovário, este é um dos cancros ginecológicos mais letais devido ao diagnóstico tardio e à eficácia terapêutica reduzida. O tratamento padrão deste tipo de cancro combina cirurgia e quimioterapia. Apesar de existirem avanços em estratégias de terapia múltipla, o resultado clínico não tem sido significativamente melhorado. Sendo por isso, o cancro do ovário, um dos que necessita também de novas estratégias e abordagens terapêuticas que conduzam ao seu combate.
Em 2020, Qi Liu e os seus colegas isolaram os neutrófilos do sangue cordão umbilical (alogénico) e ativaram esses neutrófilos usando LPS e interleucina-8. Ao avaliarem o efeito destes neutrófilos ativados provenientes do sangue do cordão umbilical nas células cancerígenas do ovário, observaram que houve uma inibição a proliferação, migração e invasão e indução da apoptose (morte) de células cancerígenas do ovário. Este estudo, demonstra um resultado importante ao nível do potencial da imunoterapia usando neutrófilos derivados de sangue do cordão umbilical nas células cancerígenas no ovário, resultando numa nova estratégia em terapia imunológica para este tipo de cancro. [3]
De acordo com os estudos e ensaios clínicos apresentados, que demonstram o valor terapêutico que o sangue e tecido do cordão umbilical pode ter no tratamento de algumas das doenças oncológicas mais graves, a BebéVida laboratório de criopreservação de células estaminais, criou em 2013 um Banco Solidário que já permitiu a criopreservação gratuita de mais de doze amostras de sangue do cordão umbilical.
Através desta iniciativa, várias famílias carenciadas podem usufruir gratuitamente do serviço de criopreservação do sangue do cordão umbilical de bebés cujos irmãos caso sejam portadores de doenças graves. Estes têm assim ao seu alcance uma potencial indicação para transplante.
A luta contra o cancro também passa pela sensibilização e alerta para a importância dos cuidados e o que cada um de nós pode ter ao seu alcance para prevenir o aparecimento desta patologia, por esse motivo a BebéVida está empenhada em apostar no aumento do conhecimento da população portuguesa sobre as potencialidades terapêuticas do sangue e do tecido do cordão umbilical nas doenças oncológicas.
[1] Qiu, Y. et al. Immunity Enhancement in Immunocompromised Gastrointestinal Cancer Patients with Allogeneic Umbilical Cord Blood Mononuclear Cell Transfusion. BioMed Research International 2017, 5945190, doi:10.1155/2017/5945190 (2017).
[2] Li, X. et al. Low-dose decitabine priming with intermediate-dose cytarabine followed by umbilical cord blood infusion as consolidation therapy for elderly patients with acute myeloid leukemia: a phase II single-arm study. BMC Cancer 19, 819, doi:10.1186/s12885-019-5975-8 (2019).
[3] Liu, Q. et al. LPS and IL-8 activated umbilical cord blood-derived neutrophils inhibit the progression of ovarian cancer. Journal of Cancer 11, 4413-4420, doi:10.7150/jca.41035 (2020).