“O tratamento precoce e uma vigilância regular das queixas da doença de Parkinson são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos doentes”
O Dia Mundial da doença de Parkinson assinala-se no dia 11 de abril. Em entrevista ao Raio-X, Miguel Coelho, neurologista e presidente da Sociedade Portuguesa das Doenças do Movimento (SPDMov) fala sobre esta patologia, que ainda não tem cura, mas para a qual continua a apostar-se na investigação.
O que é a doença de Parkinson e qual a sua prevalência em Portugal e no mundo?
A doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa crónica e progressiva do sistema nervoso, que está associada à perda de células produtoras de um neurotransmissor cerebral de nome dopamina e existente numa zona do cérebro designada de substantia nigra pars compacta. A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, estimando-se que em Portugal existam cerca de 18 mil doentes. Afeta mundialmente cerca de 1% da população acima dos 65 anos, de ambos os sexos, e é mais frequente nos europeus e norte-americanos do que nos asiáticos ou africanos.
Quais as causas desta patologia?
Os sintomas motores da DP são causados pela diminuição da produção de dopamina cerebral, uma substância produzida pelo cérebro que ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo. Concomitantemente, existe deposição anormal no sistema nervoso de uma proteína chamada alfa-sinucleina. A causa da doença ainda não é conhecida, mas admite-se que resulta de uma combinação de fatores ambientais e genéticos. O maior fator de risco para o aparecimento da DP é o envelhecimento. Embora já sejam conhecidos alguns genes que favorecem o aparecimento da DP, ela não é por regra uma doença hereditária.
Quais os sinais de alerta e em que idade é mais frequente surgirem os primeiros sintomas?
Entre os principais queixas de alerta destacam-se o tremor em repouso (mais frequentemente num dos braços), a lentidão de movimentos, a rigidez muscular, o andar com passos curtos, a diminuição do tamanho da letra, e a dificuldade na articulação da fala e, anos depois, o desequilíbrio. Apesar dos sintomas mais conhecidos da doença serem motores, a DP manifesta-se também através de sinais como a depressão, ansiedade e alterações no sono. Por regra, a DP desenvolve-se lentamente e progressivamente a partir dos 55 anos de idade, embora em 10% dos casos surja antes dos 40 anos.
De que forma se realiza o diagnóstico e qual a importância de o fazer atempadamente?
O diagnóstico é fundamentalmente clínico, pela história e exame médico do doente. Existem alguns exames complementares de diagnóstico que auxiliam o diagnóstico da doença.
Atualmente, quais os tratamentos disponíveis?
Embora não exista cura para a doença, os tratamentos atualmente disponíveis são muito eficazes a tratar as queixas da DP. O medicamento mais potente para tratar os sintomas motores da DP é a levodopa. Mesmo quando surgem queixas mais complicadas de manejar, em que os sintomas da doença regressam algumas horas após uma toma de levodopa, existem atualmente terapêuticas farmacológicas e cirúrgicas muito potentes para tratar esses problemas.
Os profissionais de saúde estão sensibilizados para esta patologia? E a população em geral?
Embora os profissionais de saúde estejam em geral sensibilizados para a existência de doença, é necessária uma formação e alerta contínuos para sensibilizar para os diferentes aspetos das queixas da doença e os tratamentos disponíveis. Quanto à população geral, acreditamos que devem ser feitas mais campanhas de educação e sensibilização para a doença, para que os doentes cheguem mais rápido ao sistema de saúde.
De que forma se pode melhorar a sobrevida e a qualidade de vida destes doentes?
O tratamento precoce e uma vigilância regular das queixas da doença são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos doentes. É uma doença que necessita frequentes ajustes de medicação, sobretudo após alguns anos de doença. O exercício e a reabilitação física são também muito importantes.
Existe alguma relação entre a COVID-19 e a doença de Parkinson?
Este tema vai ser debatido no workshop que a Sociedade Portuguesa de Doenças do Movimento (SPDMov) organiza online no dia 11, no âmbito do seu congresso anual, para comemorar o Dia Mundial da DP. Será dirigido e aberto ao público em geral, e o link para a reunião será difundido nos próximos dias, nomeadamente através da Associação de Doentes.
Quais os desafios no âmbito da doença de Parkinson?
Cuidar bem dos doentes e dos cuidadores ao longo de muitos anos da doença, de forma a garantir uma boa qualidade de vida, e desenvolver terapêuticas que consigam atrasar a evolução da doença de Parkinson.
Existe esperança em encontrar uma cura? Continua a apostar-se na investigação nesse sentido?
Existe sempre muita esperança mas é um trabalho árduo e contínuo ao longo de anos, com grande aposta na investigação, para a qual existe o grande contributo e generosidade dos doentes em participar em todos os estudos que se vão fazendo.
Por Marisa Teixeira