Polipose Nasal – uma “constipação” que não tem fim…
A imunoalergologista Ana Reis Ferreira partilhou com o Raio-X um artigo de sua autoria acerca da polipose nasal, uma patologia com sintomas muito semelhantes aos da constipação e não só.
Todos nos lembramos de como é incómodo estar constipado… O nariz completamente obstruído, que não nos deixa adormecer e nos acorda durante a noite, a voz nasalada, aquela dor de cabeça que não nos deixa trabalhar, as secreções nasais que parecem não ter fim… Já para não falar da fuga do olfato e do paladar para parte incerta e a vontade que estes sintomas desapareçam rapidamente!
Infelizmente, para os doentes com polipose nasal estes sintomas estão presentes diariamente durante meses ou até anos, interferindo com o seu sono e descanso, diminuindo a produtividade no trabalho e impedindo os doentes de desfrutar de uma saborosa refeição. Um dos sintomas mais vezes descritos pelos doentes com polipose nasal, e que mais interferem na sua qualidade de vida, é a ausência de olfato que, associada às dores de cabeça, podem ser confundidos com sintomas de Covid-19. Por outro lado, como os sintomas são semelhantes, os doentes com polipose nasal podem desvalorizar estas queixas e atrasar o diagnóstico de Covid-19, aumentando a sua transmissão a outras pessoas.
Mas, afinal, o que é a polipose nasal?
A polipose nasal é uma doença benigna crónica que provoca o desenvolvimento de pólipos nasais, isto é, pequenos tumores benignos, em forma de gota ou uva, que crescem dentro da cavidade nasal ou dos seios paranasais (cavidades que existem à volta das fossas nasais). Estima-se que atinja cerca de 4% na população portuguesa, é mais frequente nos homens que nas mulheres e está geralmente associada a doenças inflamatórias crónicas das vias aéreas como asma (atinge cerca de 7% dos asmáticos), rinite alérgica, fibrose quística e sinusite. Para além de estar associada a outras doenças respiratórias, a polipose nasal aumenta o risco de infeções respiratórias, especialmente sinusite, e aumenta a gravidade da asma, dificultando o seu controlo.
A polipose pode surgir em qualquer faixa etária, embora na infância seja muito rara e esteja habitualmente associada a doenças graves, como a fibrose quística. No adulto pode surgir em qualquer idade, mas o seu aparecimento é mais frequente por volta dos 40 anos. O diagnóstico é baseado nos sintomas relatados pelo doente, na visualização de pólipos nas cavidades nasais e nos resultados na tomografia computorizada (TAC) dos seios perinasais.
Existem vários fatores que conduzem ao crescimento dos pólipos (fatores genéticos, inflamação crónica, alterações imunológicas), mas como ainda não foi possível descobrir qual é a causa da polipose nasal, não existe um tratamento definitivo. No entanto, existem tratamentos disponíveis para melhorar ou prevenir a progressão da doença, como os sprays nasais anti-inflamatórios (corticoides). Quando este tratamento falha, pode existir indicação para realizar cirurgia de remoção dos pólipos. Em alguns doentes, a polipose nasal pode recidivar após cirurgia, podendo ser necessário repeti-la. Em alguns doentes, especialmente nos que têm tendência para polipose recidivante, poderá estar indicada a prescrição de fármacos biológicos, como o dupilumab, que vão controlar as alterações imunológicas que levam à formação dos pólipos, diminuindo o seu tamanho e/ou impedindo as recidivas após a cirurgia.
Apesar de não ser uma doença maligna, a polipose nasal é uma doença respiratória crónica que interfere de forma muito negativa na vida dos doentes, diminuindo a qualidade do sono e o seu descanso, a sua produtividade no trabalho e aumentando a gravidade outras doenças, como a asma. Por tudo isto, deve ser adequadamente tratada, para que seja possível aumentar a qualidade de vida e do sono dos doentes que dela padecem e diminuir o risco de agravamento de outras doenças respiratórias que estão associadas à polipose nasal.