Estudo Nacional sobre Cancro do Ovário revela que 84,2% dos portugueses desconhece os sintomas da doença
O primeiro estudo nacional sobre cancro do ovário – “O Cancro do Ovário em Portugal: conhecimento e perceções” – promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), Sociedade Portuguesa de Ginecologia Oncológica (SPGO) e Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos (MOG), em parceria com a GSK, revelou níveis preocupantes de desconhecimento sobre aquele que é o sétimo tipo de cancro mais comum entre as mulheres e a oitava causa mais frequente de morte, por motivos oncológicos, no universo feminino. De acordo com o estudo: 84,2% da população desconhece os sintomas, mais de 35% não sabe apontar os fatores de risco e cerca de 84% não tem informação sobre a idade média do diagnóstico. De salientar, ainda, que uma em cada quatro mulheres (24%) não faz acompanhamento ginecológico de forma regular e, deste universo, quase metade (44%) dizem que é por não sentir necessidade.
Cerca de 314 mil mulheres são diagnosticadas todos os anos com cancro do ovário e perto de 207 mil morrem, anualmente e em todo o mundo, vítimas da doença. Em média, 600 portuguesas são diagnosticadas anualmente, sendo que a maioria dos casos surge já em fase avançada. São, maioritariamente, mulheres na pós-menopausa e com mais de 50 anos. 1 em cada 78 mulheres podem vir a desenvolver cancro do ovário durante a vida e a previsão é que, até 2035, a incidência mundial de cancro do ovário aumente 55% e a mortalidade suba 67%.
“Este estudo demonstra aquilo que é o conhecimento e as perceções da nossa população relativamente a uma doença oncológica altamente complexa e desafiante do ponto de vista clínico. Sem dúvida que deve ser motivo de reflexão para todos nós e, principalmente, mobilizador para alteração de comportamentos e paradigmas, no sentido de rapidamente se conseguirem inverter estes resultados, que nos preocupam enormemente”, considera Ana Raimundo, Presidente da SPO.
“Infelizmente, estas conclusões não surpreendem quem, diariamente, vive e convive com mulheres que, em determinado momento da sua vida, enfrentaram um diagnóstico de cancro do ovário. São histórias muito similares, em que os sintomas foram sendo desvalorizados e quando se dá a devida atenção e se procura ajuda médica especializada, a situação já está muito avançada. É urgente investir no conhecimento, na informação e na literacia das nossas mulheres, para que os diagnósticos sejam mais precoces e as mulheres sejam mais e melhores acompanhadas, logo desde o início”, defende Cláudia Fraga, Presidente da Associação MOG.
“A minha principal mensagem e recomendação, neste momento, passa pela sensibilização para a necessidade de existir acompanhamento ginecológico de forma regular. Quando este estudo nos revela que, uma em cada quatro mulheres, não vai regularmente a uma consulta de saúde da mulher, isso é motivo de preocupação e de alerta. É importante que as pessoas percebam que é fundamental existir este acompanhamento e, também, que devem procurar ajuda de imediato, quando suspeitam de doença oncológica do foro ginecológico. O tempo é um fator crítico de sucesso”, afirma Cristina Frutuoso, Presidente da SPGO.
Os resultados do estudo também revelam que existem muitos mitos e falsas verdades associadas aos comportamentos das mulheres, entendidos como fatores que podem contribuir para o aparecimento do cancro do ovário, como a realização e frequência de relações sexuais, usar preservativo e prevenir doenças sexualmente transmissíveis. As mulheres têm, de forma geral, mais conhecimento sobre as formas de prevenção/diagnóstico precoce com 31,9% a referir o acompanhamento médico, 24,9% os exames regulares e 19,2% a ecografia. Quanto a exames mais específicos, como o teste papanicolau, foi apenas mencionado por 8,8% dos inquiridos e a citologia apenas 5,4%.
O cancro do ovário é vulgarmente conhecido por “assassino silencioso”, uma vez que os sintomas são muito inespecíficos e podem incluir: dores abdominais, enfartamento, abdómen distendido, alteração do trânsito intestinal (novo e persistente). Os fatores de risco mais observados são: antecedentes familiares de cancro do ovário; antecedentes pessoais de cancro; mutações genéticas herdadas; idade avançada; ter tomado terapêutica hormonal de substituição após a menopausa; não ter tido filhos; obesidade.
Cancro do ovário e a pandemia
A pandemia está a ter impacto na área oncológica, em que o tempo é sempre um fator crítico de sucesso para a sobrevivência e qualidade de vida. De acordo com o estudo, mais de 90 por cento das pessoas contactadas – 9 em cada 10 pessoas – acredita que a pandemia está a originar atrasos nos diagnósticos de cancro do ovário. Por outro lado, cerca de 2/3 da população recorre ao médico de família como primeiro contacto com um profissional de saúde, quando suspeita de uma doença oncológica.
Estudo de base populacional
A amostra é composta por 1012 indivíduos, sendo 806 mulheres e 206 homens, sendo proporcional à população portuguesa em termos de idade e região. A informação foi recolhida através de entrevistas telefónicas, suportadas por um questionário com perguntas fechadas, semi-fechadas e abertas. O trabalho de campo decorreu entre os dias 2 de novembro e 7 de dezembro de 2020.