Encefalopatia hepática: o que é?
Rui Tato Marinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, partilhou com o Raio-X um artigo de sua autoria em que aborda um tema pouco conhecido: a encefalopatia hepática. Uma condição que afeta pessoas com doença hepática grave e consiste na deterioração da função cerebral. Um cenário que decorre porque as substâncias tóxicas que normalmente são eliminadas pelo fígado acumulam-se no sangue até chegaram ao cérebro.
O que significa?
Vamos descodificar então. Encefalopatia significa doença do “encéfalo” para quem queira simplificar a mensagem, o “cérebro”. Hepática significa relacionado com o fígado. Logo, encefalopatia são alterações cerebrais relacionadas com doenças do fígado. Em termos práticos, resulta em distúrbios neuropsiquiátricos relacionados com as doenças do fígado, mais habitualmente a cirrose hepática e o cancro do fígado.
Qual a dimensão do problema em Portugal?
Morrem cerca de 2500 pessoas em Portugal por causa de doenças do fígado. Seja cirrose ou cancro do fígado, também chamado de carcinoma hepatocelular. Quais as causas dos problemas do fígado: consumo excessivo de álcool, hepatite C e mais recentemente e em crescendo o fígado gordo relacionado com a obesidade de diabetes.
A grande maioria destas pessoas, durante a sua doença podem vir a sofrer da tal encefalopatia hepática.
Por outro lado, estima-se que possam existir em Portugal cerca de 40.000 pessoas com cirrose hepática, muitas que não sabem que a têm. Pode ser uma doença silenciosa, que se estenda por 20 anos sem qualquer tipo de sintoma. Pensamos que 10-15% possam ter encefalopatia.
Quais as manifestações?
São variadas, os médicos dividem a encefalopatia em quatro graus, de 1 a 4. Na primeira fase, chamada encefalopatia mínima, as manifestações podem ser ligeiras, como seja irritabilidade, agressividade, perturbações de memória com esquecimento de acontecimentos recentes, perturbação da execução de pequenas tarefas como apertar botões, escrever o nome, etc. Na segunda fase podem surgir movimentos involuntários nas mãos quando se pede para as estender, o chamado “flapping”, agravamento da descoordenação motora, maior sonolência, maior irritabilidade, acidentes de viação, etc. Na terceira fase, a que nós médicos chamamos de estupor a pessoa, está quase em coma, deitado na cama; a quarta fase ou o grau 4 o doente está em coma.
Qual o significado?
Significa que a doença está já numa fase avançada, a encefalopatia é uma consequência com impacto importante no prognóstico. Como o fígado não faz a destoxificação de algumas substâncias, entre elas a amónia, elas acumulam-se no sangue afetando o funcionamento cerebral.
Prevenção e tratamento
Ter sempre presente que uma pessoa com cirrose pode ter encefalopatia, evitar fatores desencadeantes como seja a prisão de ventre, alguma infeção, diarreia, vómitos, etc.
O tratamento consiste em medicamentos que ajudam a eliminar as toxinas como seja um xarope chamado Lactulose ou um antibiótico denominado Rifaximina. Este último consegue até impedir internamentos por encefalopatia e melhorar a sobrevivência.
O que pode fazer uma pessoa com encefalopatia?
- Despir-se todo
- Bater na família
- Urinar no quarto do médico
- Beber urina
- Guiar aos sss
- Telefonar com o telefone desligado
- Assinar cheques
- Urinar tudo à volta
- Deitado na cama de outro doente
- Evacuar no chão
- Pegar fogo
- Desfilar nu
- Não reconhece a luz
- Sair de casa
- Não conhece os familiares