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Congresso de Pneumologia do Norte | “Voltámos ao nosso formato tradicional: na primavera e em modelo presencial”

Congresso de Pneumologia do Norte | “Voltámos ao nosso formato tradicional: na primavera e em modelo presencial”

Depois de dois anos de incerteza no que respeita à realização de eventos e à deslocação do Congresso de Pneumologia do Norte de março para outubro, este ano “voltámos ao formato tradicional: na primavera e em modelo presencial”. Apesar do curto período de preparação do segundo maior evento nacional científico dedicado às doenças respiratórias, os responsáveis pela organização reconhecem que tiveram uma boa adesão por parte dos convidados que escolheram para abordar cada tema. Leia aqui a entrevista de Hélder Novais Bastos e de Ricardo Lima.

Quais os principais desafios de preparar um Congresso em apenas cinco meses?

Hélder Novais Bastos (HNB) – Nós sabíamos, antecipadamente, que íamos ter algumas dificuldades em conseguir o painel que tínhamos idealizado em termos de investigação, tendo em conta que os colegas teriam muito pouco tempo para prepararem as apresentações dos seus trabalhos de investigação. Felizmente, o desafio foi aceite pelos colegas e tivemos uma boa adesão que nos permitiu criar um programa com vários trabalhos que foram apresentados.

Ricardo Lima (RL) – Apesar do curto tempo que tivemos para preparar o congresso, conseguimos ter a facilidade de os colegas aceitarem os nossos convites para participarem. Este congresso tem uma grande tradição e a importância de continuar a desenvolver a ciência facilita todo o nosso trabalho.

Foi fácil estruturar o programa do congresso?

HNB – Já tínhamos recebido o desafio de preparar o congresso uns tempos antes, pelo que pudemos pensar e estruturar o programa com calma. O grande desafio foi conseguirmos que as pessoas que queríamos convidar para abordar cada tema estivessem disponíveis.

Qual a sensação de trazer de novo o Congresso de Pneumologia do Norte para março e em formato presencial?

HNB – É muito bom colocar o Congresso de Pneumologia do Norte na sua agenda habitual, que é na Primavera. É uma reunião que já estava muito bem estabelecida nesta altura do ano e sem grandes conflitos com outras reuniões da área. O modelo presencial é essencial. A Medicina tem de se fazer em parcerias e na interação com os outros. Não é possível fazer sozinho uma Medicina de qualidade. Precisamos dos congressos presenciais não só pelo esforço e pelo tempo que vamos dedicar a trabalhar e a discutir os temas, olhos nos olhos, sentados uns ao lado dos outros, mas também pelos intervalos, pelo convívio e pelo networking tão saudáveis para a nossa atividade. É nestes intervalos que surgem colaborações, ideias, redes de parcerias e que tornamos a nossa especialidade coesa. Os congressos virtuais permitiram-nos superar uma limitação, numa fase em que não podíamos estar juntos, contudo, não são o nosso ambiente natural de trabalho. O ambiente natural é uma sala onde estão várias pessoas, focadas em trabalhar, sem fatores de distração, até mesmo pessoal. É por isso que quando abrimos a sessão do Congresso dizemos que vamos dar início aos trabalhos. É muito difícil manter as pessoas online durante um congresso inteiro.

RL – Voltámos à nossa tradição. O Congresso de Pneumologia do Norte sempre foi em março. É o primeiro congresso do ano dedicado às doenças respiratórias. Obviamente que a pandemia era, é e será durante mais algum tempo uma sombra nestes eventos científicos, no entanto, não podemos prescindir de voltar ao nosso formato convencional, com discussões olhos nos olhos, com a presença próxima dos especialistas reconhecidos e dos nossos internos.

Optaram por não fazer um congresso híbrido. Porquê esta decisão?

HNB – Não creio que um congresso transmitido remotamente seja eficaz. Este congresso será exclusivamente presencial porque queremos que as pessoas venham e se juntem. Os conteúdos do congresso serão disponibilizados em diferido, posteriormente.

Apesar da elevada carga assistencial que a pandemia representou para os pneumologistas, verificou-se uma grande atividade investigacional e a oportunidade para estudar novas realidades da doença respiratória. Esses trabalhos estiveram de alguma forma refletidos no programa científico?

HNB – Creio que ao longo do programa encontrámos vários conteúdos que são provenientes dessa investigação, nomeadamente no que respeita a aprender a fazer mais e melhor com os recursos que temos. Tivemos também alguns trabalhos sobre a aplicação da tecnologia digital, da abordagem domiciliária. Além dos trabalhos científicos que foram apresentados, tivemos uma sessão especial com formato de Ted Talk com o diretor do mais recente unicórnio digital da saúde Português – a Sword Health. O Dr. Fernando Correia falou-nos sobre as oportunidades da Medicina Digital no futuro e sobre o percurso que fizeram até chegarem aqui. Na verdade, isto representa também um incentivo para os jovens médicos que queiram pensar diferente e pensem em criar projetos semelhantes.

RL – Tem surgido muita ciência, muita evidência, mas é preciso fazer uma triagem muito rigorosa que durante o evento também foi discutida. Aprendemos muito, modificámos metodologias de trabalho, aproximámo-nos muito do digital e tudo isso será considerado ao longo do congresso.

Sendo o Congresso de Pneumologia do Norte uma reunião transversal em termos de conteúdos, que outros temas destaca do programa científico?

HNB – Procurámos fazer um congresso o mais abrangente possível que tocasse todos os tópicos principais, mas com temas específicos que realmente interessam aos pneumologistas. Evitámos temas demasiado genéricos e procurámos temas atrativos para qualquer pneumologista. Essa foi a nossa preocupação e creio que conseguimos fazê-lo com eficácia. Tivemos temas interessantes, com os palestrantes certos.

RL – Tentámos englobar todas as áreas da Pneumologia. Nos últimos anos a especialidade tem evoluído muitíssimo. Hoje conseguimos tratar o doente e não a doença e isso permite-nos selecionar alguns temas que devem ser discutidos, desde as patologias obstrutivas, a patologia do interstício, a oncologia pulmonar, as novas formas de ventilar os doentes.

Bárbara Parente, Henrique Queiroga e Ramalho de Almeida foram desafiados a contar a história do Congresso de Pneumologia do Norte. Porquê esta sessão?

HNB – Convidámos três reconhecidos pneumologistas do Norte que acompanham este congresso desde as duas primeiras edições e que têm muito bom espírito. Estes 30 anos contam também a história da Pneumologia. São três décadas de muitas evoluções. Há 30 anos a Pneumologia do Norte estava muito isolada e hoje alcançámos uma posição nacional e internacional mais sólida. Devemos isso aos protagonistas que ao longo deste período lutaram para conquistar esta posição. Apesar de ser organizado pelos serviços de Pneumologia dos Hospitais de S. João e de Vila Nova de Gaia, este congresso representa um estímulo para todos os pneumologistas que trabalham em hospitais mais pequenos da região Norte para que se desenvolvam.

O que representa esta reunião para um jovem pneumologista do Norte?

HNB – Esta é a segunda maior reunião científica nacional dedicada à patologia respiratória. É um congresso que faz parte da agenda dos pneumologistas, desde o início dos seus percursos. Desde sempre que me lembro de vir ao Congresso de Pneumologia do Norte e do ambiente familiar que aqui se vive. Lembro-me das edições que decorreram na Fundação Cupertino Miranda, com a sala sempre lotada em todas as sessões, com jovens sentados nas escadas por não haver cadeiras suficientes. Lembro-me de haver sempre sol, de estarmos juntos com os colegas, num ambiente acolhedor. É um congresso com a dimensão certa para promover uma boa discussão e uma boa atualização dos temas da Pneumologia.

Em relação aos cursos pós-congresso, porquê eleger a asma grave, o cancro do pulmão e as micobactérias não tuberculosas?

RL – Na área do cancro, quase diariamente temos novidades e resultados de novos estudos, na asma grave temos também ferramentas que nos permitem controlar a doença em pessoas para as quais, até aqui, não tínhamos mais nada para oferecer e que passavam mal, tinham má qualidade de vida e muitas limitações. A área das infeções por micobactérias também merecia uma atualização.