A importância das terapêuticas para a psoríase, bem como a adesão às mesmas e o seu impacto na qualidade de vida dos doentes
No dia 29 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Psoríase, uma das doenças inflamatórias crónicas de pele mais comuns que afeta 1 a 3% da população mundial e mais de 200 mil portugueses. No âmbito desta efeméride, o Raio-X partilha um artigo de opinião de Júlia Vide, Dermatologista no Centro Hospitalar Universitário de São João.
A Psoríase é uma doença inflamatória crónica complexa, imunomediada, que atinge pelo menos 2% da população.
Embora as lesões típicas sejam as placas que envolvem preferencialmente cotovelos, joelhos e couro cabeludo, existe uma grande variabilidade clínica. Quando a psoríase atinge palmas, plantas, unhas, face ou genitais, bem como quando as lesões são extensas, o impacto físico e psicológico é marcado, com diminuição considerável da qualidade de vida do doente, em grau idêntico ou superior ao de outras doenças crónicas socialmente significativas, como o cancro, a diabetes e a doença cardiovascular.
Para além do envolvimento cutâneo, a Psoríase pode atingir as articulações em 30% dos doentes e, quando não tratada, pode ter repercussões significativas no estado de saúde global, aumentando o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares, psiquiátricas, entre outras.
Apesar de ainda não existir uma cura, a investigação científica contínua, com grandes avanços recentes nesta área, permitiu o desenvolvimento de opções terapêuticas cada vez mais específicas para o perfil da doença e características do doente. Dessa forma torna-se possível alcançar elevados níveis de eficácia a curto e longo prazo, com um perfil de segurança favorável e com verdadeiro impacto na qualidade de vida dos doentes.
O objetivo do tratamento é controlar os sintomas visíveis (as lesões) e não visíveis (dor, prurido e ansiedade em relação à doença), permitindo ao doente que as suas rotinas diárias, em casa e no trabalho, e a sua vida social retornem à normalidade e não sejam afetados pela Psoríase.
Os tratamentos atualmente disponíveis são as terapêuticas tópicas, a fototerapia, os medicamentos sistémicos convencionais e biotecnológicos. A escolha deve ser individualizada e vai depender da localização e extensão das lesões, coexistência de artrite psoriática, comorbilidades, resposta a tratamentos prévios e expectativas do doente, tendo sempre como foco a melhoria da sua qualidade de vida.
Nas formas ligeiras e localizadas, as terapêuticas tópicas são geralmente eficazes e são as mais seguras, no entanto, a sua eficácia depende de uma boa adesão terapêutica por parte do doente.
Para as formas graves, extensas, resistentes ou com elevado impacto para o doente existe um vasto arsenal terapêutico que inclui a fototerapia (exposição a fontes artificiais de radiação ultravioleta), os medicamentos sistémicos convencionais (acitretina, metotrexato, ciclosporina) e mais recentemente os biotecnológicos (inibidores de TNF-a, IL-12/23, IL-17 e IL-23).
Com o recente desenvolvimento destas novas terapêuticas elevamos a fasquia no tratamento da psoríase moderada a grave, sendo possível obter uma pele praticamente sem lesões numa grande percentagem de doentes.
Estes tratamentos têm particularidades específicas e, embora sejam cada vez mais eficazes e seguros, não são desprovidos de riscos e efeitos laterais. No entanto, com uma escolha individualizada de tratamento, uma boa adesão do doente ao mesmo, e uma relação médico-doente de confiança, é possível tratar com sucesso e reduzir significativamente o impacto desta doença na vida do doente