Dermatite Atópica moderada a grave: impacto e acesso aos tratamentos
Nos últimos anos, foram aprovados pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) novos medicamentos para o tratamento da dermatite atópica (DA) moderada a grave, que são eficazes e seguros. Trata-se de uma boa notícia para as pessoas que sofrem com esta doença diariamente, contudo em Portugal há doentes que ainda não têm acesso, existindo assim necessidades que não se encontram satisfeitas, e que proporcionariam a estes doentes um tratamento a longo prazo e um controlo duradouro, capaz de aliviar o sofrimento físico e emocional da DA e capaz de mudar a relação que os doentes têm com a sua pele. No âmbito desta temática, partilhamos um artigo de opinião de Álvaro Machado, médico dermatologista.
A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é a doença de pele inflamatória crónica mais frequente em países desenvolvidos, que afeta maioritariamente crianças, embora possa afetar e surgir em qualquer idade.
A origem da doença é complexa, combinando fatores genéticos e ambientais que condicionam a disfunção da barreira cutânea e a desregulação imune cutânea e sistémica.
Trata-se de uma doença heterogénea, na qual a morfologia, distribuição e curso da doença são variáveis. O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos específicos, incluindo história pessoal e familiar, evolução da doença e manifestações clínicas. As lesões típicas podem variar de pápulas e placas (lesões com relevo) avermelhadas, que inicialmente podem cursar com exsudação, até lesões de aspeto mais seco e descamativo, e pápulas e placas liquenificadas (lesões grossas, endurecidas e com textura coriácea).
No entanto, o impacto da dermatite atópica vai além das manifestações físicas. A qualidade de vida dos doentes é significativamente afetada. O prurido (comichão) intenso, um dos sintomas mais comuns, pode ser debilitante e levar a distúrbios do sono, ansiedade e depressão. O desconforto físico e emocional causado pela doença pode afetar a autoestima e o bem estar psicológico dos doentes, impactando as suas relações familiares, sociais, bem como na sua performance escolar ou laboral. Particularmente nas formas moderadas a graves da doença, onde se incluem características como uma grande percentagem da área corporal afetada, eritema (vermelhidão) e espessamento da pele marcados, o impacto é significativamente maior.
O tratamento pode ser desafiante. Além da aplicação de hidratantes corporais adequados de forma consistente, que é crucial, o tratamento inclui medicamentos tópicos, como os corticoides. Na ausência de resposta ou controlo adequado, o tratamento pode passar por fototerapia, imunossupressores sistémicos ou, mais recentemente, por várias moléculas inovadoras seguras e eficazes. Neste contexto, e devido a constrangimentos na prescrição médica que ultrapassam o médico, a inovação terapêutica não chega a todos os doentes. A assimetria de acesso aos tratamentos mais recentes verifica-se diariamente, sendo necessário e urgente alterar políticas de farmácia e terapêutica nacionais de modo a tornar mais justo o acesso e tratamento de todos os doentes.