O Glaucoma. Uma doença silenciosa que pode provocar cegueira
O Raio-X partilha um artigo da autoria de Rufino Silva, Médico Oftalmologista, Professor Associado Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Diretor Clínico da CLIORS Lda, que fala sobre o glaucoma “uma doença silenciosa que pode provocar cegueira”.
O glaucoma é uma doença ocular crónica e silenciosa que, se não for tratada, pode levar a perda permanente da visão e até à cegueira. O termo “glaucoma” deriva da palavra grega γλαύκωμα (Glaucose) usado desde 400 anos antes de Cristo, e que descrevia essencialmente uma tonalidade esverdeada da pupila, muito diferente da cor normal.
Quando falamos em glaucoma falamos de um grupo de sinais caracterizado por uma pressão intraocular elevada, associada a danos no nervo óptico e perda de campo visual. No entanto, descobriu-se que um bom número de casos, vulgarmente conhecidos como glaucoma de baixa tensão, apresentava evidências definitivas de danos no nervo óptico e alterações nos campos visuais, apesar de terem uma pressão intraocular normal. Assim, além da PIO elevada, acredita-se que vários outros fatores, como o fornecimento inadequado de sangue às células ganglionares da retina e às fibras do nervo óptico devido à aterosclerose ou alterações avançadas do tecido conjuntivo relacionadas à idade, desempenhem um papel importante na progressão do glaucoma. Esta possível teoria vasculogénica levou a que passasse a falar de uma “neuropatia óptica vascular”.
É importante saber que o glaucoma é a terceira causa mais frequente de cegueira em todo o mundo, depois da catarata e do tracoma. Mas quando falamos de causas de cegueira irreversível, o glaucoma é a primeira causa. É mais importante ainda sabermos que na grande maioria dos casos a perda de visão e a cegueira podiam ter sido evitadas.
Calcula-se que haja cerca de 70 milhões de pessoas com glaucoma em todo o mundo. Destes, cerca de 7 milhões estão cegos de um olho e cerca de 1 milhão estão cegos dos dois. Em cerca de 20% dos casos os doentes cegaram antes de terem acesso ao diagnostico ou tratamento. Portugal tem cerca de 200 000 pessoas com glaucoma, metade das quais desconhece que tem a doença. A prevalência do glaucoma aumenta com a idade. Dos 40 aos 49 anos é de cerca de 1%, mas sobe para os 3% entre os 60 e os 69. Depois dos 70 anos é de 5%. Alem da idade há outros fatores de risco. A existência de história familiar de glaucoma, raça africana ou hispânica, alta miopia, diabetes, hipertensão arterial e o uso de corticoides aumentam o risco de glaucoma.
A prevenção do glaucoma envolve principalmente a deteção precoce e o tratamento adequado. Exames oftalmológicos regulares são essenciais, especialmente para pessoas com fatores de risco. O diagnóstico do glaucoma, efetuado pelo médico Oftalmologista, geralmente envolve uma combinação de medições de pressão intraocular, avaliação do nervo óptico e dos campos visuais. É de notar que a forma de glaucoma mais comum – o glaucoma de angulo aberto – pode cursar sem qualquer sintoma até uma fase muito avançada da doença. Nessa altura a perda de visão e de campo visual é irreversível. É por isso que o glaucoma é muitas vezes referido como sendo “o ladrão silencioso da visão”. É muito importante que as pessoas façam consultas regulares com o medico Oftalmologista sobretudo depois dos 40 anos.
O tratamento do glaucoma geralmente começa com a colocação de gotas – colírios que ajudam a diminuir a pressão intraocular. Em alguns casos raros podem ser prescritos medicamentos orais. Em situações mais avançadas ou quando os medicamentos não são eficazes, pode ser necessário recorrer a cirurgia a laser ou cirurgia convencional para diminuir a pressão intraocular. É de realçar que não se deve interromper a colocação das gotas porque na sua ausência o glaucoma continua a progredir sem que a pessoa tenha qualquer sintoma. É igualmente importante que a pessoa com glaucoma se certifique de que as gotas estão a ser colocadas corretamente. Muitas vezes a falta de eficácia tem a ver com a deficiente colocação destas. As gotas devem ser colocadas no fundo de saco conjuntival inferior do olho afetado (o fundo de saco conjuntival é a área entre a pálpebra inferior e o globo ocular). Para aplicar as gotas corretamente, a pessoa inclina levemente a cabeça para trás, puxa suavemente a pálpebra inferior para criar um pequeno espaço (o fundo de saco conjuntival) e aplica a gota nesse espaço. Deve evitar tocar a ponta do frasco nos olhos ou nas pálpebras para evitar a contaminação. É aconselhável manter a mão a segurar a pálpebra inferior para ela permanecer afastada do globo ocular mais um ou dois minutos após colocar a gota de forma a que ela seja completamente absorvida. É igualmente importante colocar as gotas o número de vezes ao dia indicado pelo médico e deixar um intervalo de cerca de 5 minutos entre diferentes gotas.
Embora atualmente não exista uma cura para o glaucoma, os avanços na deteção precoce, tratamentos mais eficazes e uma melhor compreensão da doença oferecem esperança para um futuro onde a perda de visão devido ao glaucoma seja minimizada. A conscientização, a educação e o acesso a cuidados oftalmológicos adequados são cruciais para alcançar esse objetivo.