Serviço de Reumatologia da ULS Loures –Odivelas EPE, Hospital Beatriz Ângelo: “O compromisso com o desenvolvimento constante é uma das marcas do nosso serviço”
No coração da Quinta da Caldeira, em Loures, nasceu, em janeiro de 2012, o Hospital Beatriz Ângelo (HBA). O processo de abertura foi dado como concluído a 27 de fevereiro de 2012, com a abertura do Serviço de Urgência Geral. Até 18 de janeiro de 2022, funcionou em regime de Parceria Público-Privada (PPP), gerido pelo grupo Luz Saúde, passando, em 19 de janeiro de 2022, para a gestão do estado como E.P.E. Atualmente integrado na ULS Loures-Odivelas, serve uma população de cerca de 242 mil habitantes residentes nas freguesias abrangidas pelos Centros de Saúde de Loures-Odivelas (com exceção de Sacavém) e Pontinha. Entre os vários serviços essenciais oferecidos pela ULS, destaca-se o Serviço de Reumatologia, existente desde a criação do hospital, e à data coordenado por Sandra Falcão.
“A história do nosso Serviço de Reumatologia é intrinsecamente ligada ao legado do António Alves de Matos. Foi ele quem montou toda a estrutura desde o início, quando o HBA foi inaugurado em 2012. O serviço foi construído meticulosamente desde o primeiro dia. Inicialmente contava com dois especialistas dedicados: António Alves de Matos e o Rui André. Em 2019, o Rui André reformou-se e entraram o Tiago Afonso Costa e a Sílvia Fernandes que continuaram lado-a-lado com o António até à sua reforma”, explicou Sandra Falcão.
A especialista assumiu a direção do Serviço, após a reforma do anterior diretor, em dezembro de 2021, trouxe consigo uma bagagem de experiência oriunda do Hospital de Egas Moniz (HEM) onde esteve durante 17 anos. “Cheguei em dezembro de 2021, quando ainda estávamos sob parceria público-privada, e vim substituir o António Alves de Matos, que se reformou”. Aceitar a direção do Serviço de Reumatologia do HBA foi, para a reumatologista o abraçar de um desafio aliciante. “Embora já desempenhasse pequenas funções de coordenação na área de ecografia musculoesquelética no HEM, a organização de um serviço como um todo representava um desafio bastante considerável. No entanto, vi neste hospital uma instituição simpática, com diversas vantagens, uma atividade assistencial de qualidade e um notável potencial de crescimento e achei esta oportunidade bastante interessante, considerando a fase da vida em que me encontrava. Deixei para trás um serviço que gostava muito, o que gera sempre algumas saudades, mas o caminho a seguir é sempre em frente”, rematou a coordenadora.
Mudanças implementadas
Questionada sobre a sua abordagem em relação à estrutura já existente, Sandra Falcão enfatizou a continuidade. “Não trouxe grandes inovações porque concordei integralmente com a visão e estrutura estabelecidas pelo António Alves de Matos. A contribuição dele foi extraordinária, estabelecendo não só um serviço de excelência, mas também uma comunidade coesa. É uma honra dar continuidade ao trabalho que ele começou”. Todavia, a especialista destacou a forma como o reumatologista organizou a consulta, dividindo-a em dois grupos distintos: Reumatologia Geral e Reumatologia Inflamatória. “Essa divisão permitiu uma melhor organização da consulta, considerando a natureza específica das patologias reumáticas. Dada a nossa limitação em número de especialistas, direcionámos o nosso foco para as doenças inflamatórias, procurando impactar positivamente a vida dos doentes e modificar o prognóstico dessas condições”, esclareceu a coordenadora.
No que toca ao Hospital de Dia, Sandra Falcão, implementou mudanças significativas, principalmente no desenvolvimento de protocolos para a administração de fármacos, incluindo medicamentos que não eram previamente utilizados no hospital. “Ao chegar, preocupei-me em otimizar o Hospital de Dia de Reumatologia, implementando novos protocolos para a administração de fármacos. Trabalhamos em parceria com a Medicina Interna (MI), adaptando protocolos existentes para garantir que conseguimos oferecer tratamentos mais direcionados e eficazes para os doentes.”, afirmou Sandra Falcão.
Uma das mudanças mais marcantes, segundo a reumatologista, foi no setor das técnicas, mais concretamente na realização regular de ecografias musculoesqueléticas. “A identificação de deficiências no setor das técnicas foi crucial. Conseguimos, com o apoio do conselho de administração, obter um ecógrafo exclusivo para o Serviço de Reumatologia no final de 2022. Desde 2023, conseguimos realizar ecografias musculoesqueléticas e outras técnicas de forma autónoma, sempre realizadas por um elemento da equipa coisa que anteriormente não acontecia”, ressaltou a coordenadora.
“Acredito que estes pequenos ajustes foram fundamentais para proporcionar um serviço mais completo e eficaz para os nossos doentes. Claro que a ULS, sendo uma unidade distrital, possui um serviço mais compacto em comparação com outras instituições nacionais, mas temos algumas vantagens e um potencial notável de crescimento, apesar de termos uma existência relativamente recente quando comparada a grandes serviços de Reumatologia. O compromisso com o desenvolvimento constante é uma das marcas do nosso serviço”, salientou Sandra Falcão.
Organização do serviço
“A atividade é, maioritariamente, consulta assistencial, não só primeiras consultas de pedidos internos do hospital, como também aquelas que surgem face ao apoio que damos ao internamento e ao serviço de urgência. Para além disto, damos também resposta aos pedidos do sistema Consulta a Tempo e Horas (CTH) provenientes da clínica geral. A triagem interna e a triagem vinda dos CTH são responsabilidades do serviço e estabelecer prioridades torna-se crucial para assegurar que os doentes são vistos em tempo útil, enfrentando, por vezes, vários desafios resultantes de algumas limitações. Paralelamente, num período mais reduzido, temos as técnicas e o hospital de dia quando é necessário fazer tratamentos mais direcionados aos nossos doentes e/ou tratamentos de ambulatório”, esclareceu a reumatologista.
Organização é, segundo Sandra Falcão, a palavra de ordem para o bom desenvolvimento de toda a atividade médica. “O serviço não está todo alocado no mesmo espaço, o que por vezes cria algumas dificuldades. Temos uma sala onde temos as nossas reuniões, e que acaba por ser o nosso único espaço próprio, os gabinetes de consulta estão distribuídos por três pisos do hospital e, no piso 0, partilhado com a Ortopedia, temos a sala onde realizamos as nossas técnicas, onde temos o nosso ecógrafo. Depois, temos uma secretária dedicada ao nosso serviço que facilita a marcação de consultas e serve como ponto de contato direto para os doentes. E, temos também, dois enfermeiros com formação específica, partilhados com a Ortopedia, que desempenham um papel crucial no seguimento dos doentes, incluindo a administração de terapêutica biotecnológica e a gestão de complicações pós-tratamento. O ideal seria termos o setor de técnicas ao lado dos vários gabinetes de consulta, seguido da nossa sala de trabalho, mas infelizmente não vivemos num mundo ideal, temos que estar sempre muito bem organizados”, explicou.
Embora esta dispersão possa não ser benéfica, a reumatologista afirmou que tudo se torna mais fácil face ao espírito de colaboração existente na ULS “esta dispersão e partilha de espaços com outros colegas confere-nos um grande apoio por parte de várias especialidades médicas, nomeadamente a Ortopedia, a Gastroentologia, a Radiologia, a Pneumologia e a Medicina Interna. Fazemos muitas reuniões multidisciplinares e trabalhamos muito em conjunto”, rematou.
A equipa
No que toca à equipa, a Diretora de Serviço referiu que a juventude dinâmica é a peça-chave. “A característica principal da minha equipa é que é muito jovem, o que por um lado é desafiante, mas também aliciante. Um serviço com uma equipa jovem significa que as pessoas têm muito ‘sangue na gelra’ e uma vontade incansável de construir, orientar e desenvolver o serviço. Temos uma sinergia muito boa, fazemos reuniões semanais para discutir casos, embora acabemos por o fazer diariamente especialmente quando se trata de casos mais complexos. É fundamental existir uma abordagem partilhada na avaliação dos doentes, a Medicina deve ser praticada em conjunto, só assim é que conseguimos crescer todos juntos”.
O serviço conta com três especialistas seniores: Sandra Falcão – como Assistente Graduada -, Tiago Afonso Costa, que entrou em 2019, e Nuno Pina Gonçalves – que chegou em 2023. Completam ainda a equipa dois internos: Diana Raimundo – atualmente no 2.º ano – e Manuel Brás – do 1.º ano. “Espero que os elementos juniores permaneçam na equipa no futuro, contribuindo para a continuidade do dinamismo e da dedicação que caracterizam o serviço de Reumatologia da ULS”, elucidou.Parte superior do formulário
Na opinião da reumatologista “a formação dos internos no Serviço de Reumatologia é fundamental para a excelência do atendimento médico. Aquando da minha chegada estabelecemos uma parceria com a Nova Medical School (NMS) e recebemos alunos da unidade curricular de aparelho motor e colaboramos assim com a formação pré-graduada de alunos do Mestrado Integrado em Medicina. Estamos bastante empenhados em contribuir para a formação acadêmica e profissional dos estudantes”.
Dificuldades atuais
“É sempre um desafio dirigir um serviço, sobretudo num hospital que surgiu de uma transição de um público-privado para uma E.P.E. Portanto, nós temos algumas limitações inerentes a esse processo que temos de tentar ultrapassar. Sempre fui muito apoiada pelo conselho de administração, tanto na aquisição de equipamentos como na recetividade de sugestões de mudanças que fui fazendo”, afirmou a especialista A escassez de recursos humanos é identificada como a maior dificuldade enfrentada atualmente “Temos todos de perceber este problema e tentar equacionar com soluções que acabem por conseguir captar e manter novos médicos, nomeadamente recém-formados, e que muitos deles optam por não enveredar pela atividade no SNS, embora isto seja um problema transversal a todas as especialidades e não em exclusivo da Reumatologia”, concluiu.
E o futuro?
“Os planos para o futuro são ir crescendo aos poucos, construindo uma equipa cada vez mais coesa, com novos elementos, com uma maior capacidade de resposta tendo em conta as necessidades da população. Para além disto, é fundamental criarmos uma articulação mais direta e estruturada com os Cuidados de Saúde Primário (CSP) de forma a existir um espírito de cooperação não só no momento da alta, mas também no cuidado contínuo do doente. Os CSP são os nossos grandes parceiros e, portanto, isto seria fundamental, a meu ver, para melhorarmos aquilo que é os cuidados de saúde à população”, assegurou Sandra Falcão.