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O papel da imunoterapia no cancro do pulmão 

O papel da imunoterapia no cancro do pulmão 

 

Confira aqui um artigo de Margarida Dias, pneumologista da ULS Gaia/Espinho, sobre o papel da imunoterapia no cancro do pulmão.

A imunoterapia desempenha atualmente um papel crucial no tratamento do cancro do pulmão, tendo revolucionado a sua abordagem terapêutica.

Estes fármacos atuam nos check-points imunitários, nomeadamente no eixo PD1/PDL1, potenciando a capacidade das células do sistema imunitário em reconhecer e destruir as células tumorais. Além disso, destacam-se pela sua capacidade de induzir memória imunológica, resultando em respostas mais duradouras e menos recidivas.

Inicialmente estudada e utilizada em doença metastática, a imunoterapia em monoterapia ou em combinação com quimioterapia, demonstrou melhoria significativa da taxa de resposta e da sobrevivência global comparativamente à quimioterapia. A imunoterapia também revolucionou o tratamento da doença localmente, quando utilizada em consolidação após tratamento com quimiorradioterapia. Mais recentemente, vários estudos mostraram que a sua utilização também é fundamental para melhorar os outcomes dos doentes com estádios precoces, seja em contexto de neoadjuvância, adjuvância ou periadjuvância.

No entanto, é importante salientar que a imunoterapia é apenas uma das opções disponíveis para o tratamento cada vez mais personalizado do cancro do pulmão. A decisão do melhor tratamento deve ser tomada em grupo multidisciplinar, considerando as características do próprio doente e a análise detalhada do tumor, a nível histológico, imunogénico e mutacional, já que estes resultados podem influenciar o sucesso da imunoterapia.

Apesar dos avanços, a imunoterapia traz novos desafios, incluindo os seus potenciais eventos adversos imunomediados que podem atingir qualquer órgão ou sistema. Embora geralmente cause menos eventos adversos que a quimioterapia, é importante monitorizar, identificar e tratar estes eventos, de forma multidisciplinar e atempada.

Os mecanismos de resistência à imunoterapia, inatos ou adquiridos, representam outro enorme desafio. Vários ensaios clínicos têm procurado encontrar estratégias de otimização, nomeadamente através da combinação de fármacos que atuam noutros eixos que promovem a carcinogénese e que vão sendo identificados.

Em resumo, a imunoterapia é neste momento um pilar indiscutível no tratamento personalizado do cancro do pulmão, desde os estádios precoces aos metastáticos. É por isso fundamental na prática clínica reconhecer os doentes que beneficiam deste tratamento e saber gerir os eventos adversos imunorrelacionados, de forma multidisciplinar.